Jovem Pan News
Em um ano turbulento como foi 2020, as compras parecem ser uma ótima válvula de escape na próxima sexta-feira, 27, dia da Black Friday. Para este ano, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) prevê faturar R$ 69,9 bilhões apenas com as vendas online. Porém, gastar além do que o próprio bolso permite pode resultar em uma imensa bola de neve de dívidas — e isso não é nada saudável para a vida financeira. “Quando falamos de Black Friday, todo mundo exalta os ânimos. Muita gente recebe o 13º salário e acha que tem uma quantidade maior de dinheiro disponível. Não é bem assim. É preciso tomar cuidado, ser mais racional do que emocional”, é o que avalia o gerente do Serasa, Guilherme Casagrande. O coordenador de Administração da Estácio Interlagos, Eurípedes Fernandes, completa. “O consumidor mudou bastante com a pandemia da Covid-19 e a compra pela internet é mais racional, você pode avaliar [se vale a pena]. Na Black Friday, essa lógica é mais acentuada, porque muito consumidores acompanham o preço do produto.”
É o caso da bancária Jussara Almeida, que é consumidora fiel da data. “Já perdi as contas, mas desde que eu me lembro de Black Friday, eu compro. Invisto em tênis, roupas, relógio. Sempre monitoro os preços, mas acho que na última semana de novembro é que melhora mesmo”, disse. Ela, que costuma gastar o 13º nas promoções, tem um pouco de medo de perder a mão e comprar algo que não seja necessário no momento. “Eu tento dar prioridade para a minha lista de desejos e pesquiso bastante nas lojas que confio. O que vale a pena já pago à vista, e o que não está tão em oferta, parcelo”, completa. A Jovem Pan conversou com especialistas e separou algumas dicas para não adquirir dívidas e aproveitar o melhor que a Black Friday pode oferecer.
Faça as contas
O varejo e a comunicação das empresas nos convida a gastar mais nesse período, mas isso não quer dizer que nós precisamos comprar mais coisas. O professor da Trevisan Escola de Negócios Rodrigo Siviéri explica que essa é uma cultura dos brasileiros. “O fato de ter cartão de crédito não quer dizer que esse seja seu potencial de compra. Ter limite disponível não quer dizer que você tem dinheiro para arcar com as compras. E se eu não consigo controlar o impulso de comprar, não consigo conter a bola de neve de dívidas.” Ele destaca importância de colocar o orçamento no papel e fazer uma tabela, ver o que se gasta e o que se ganha. Para quem está recebendo o auxílio emergencial, ele alerta. “Não comprometa esse valor. E se for uma pessoa que não está no ciclo de dívidas, a recomendação é não gastar por impulso, e sim fazer uma reserva de emergência.”
Pense duas vezes
Muitas vezes, a surpresa com o desconto fala mais alto e isso acaba resultando em compras impulsivas. Por isso, é importante se questionar se aquele item é fundamental para a vida ou se é um desejo passageiro. “É necessário que a pessoa veja se realmente necessita do produto, fazer uma lista e verificar várias vezes antes de efetuar a compra”, destaca Rodrigo Siviéri. “O que pode ajudar é cancelar inscrições em e-mails de ofertas e sites. Se você não precisa comprar nada, não precisa visitar sites de compra. Por mais que não exista a intenção de comprar, a Black Friday traz a sensação de imediatismo e isso acarreta na compra. Por mais que um produto esteja em promoção, eu economizo mais se não comprar”, afirma Eurípedes. “O ideal é sempre fazer perguntas: preciso comprar isso? Preciso trocar de televisão? E olhar para o futuro, porque 2021 deve ser um ano difícil. [É importante] planejar esse financeiro olhando para curto e médio prazo, pensando em possíveis reduções de salários e o desemprego em alta”, completa.
Cuidado com o parcelamento
A medida clássica de evitar sair com dinheiro ou cartão de crédito no bolso ainda é válida, mas em tempos da alta no e-commerce, os cuidados devem ser maiores. Um deles pode ser a preferência por pagamentos por boleto, desde que seja em uma loja confiável. A modalidade garante uma possibilidade de “garantir o produto e pensar melhor” antes do pagamento. Outra forma de tentar evitar a bola de neve é evitar compras parceladas. “O cartão de crédito é uma forma de pagamento que veio para facilitar, não para atrapalhar. Se eu tenho o dinheiro para comprar à vista e tem ainda mais desconto, não tem porque parcelar. Se o valor parcelado não tem mais desconto, eu posso optar por isso e investir o dinheiro que teria para pagar à vista no mesmo período”, afirma Rodrigo. “Assim, até quem está endividado consegue se organizar.”
Caí em dívidas, e agora?
Para quem já está endividado, a maior dica é não gastar. E mais: aproveitar os descontos da Black Friday para quitar as dívidas. De acordo com o gerente do Serasa, Guilherme Casagrande, os descontos para negociação podem ser altos no Feirão Limpa Nome, que vai até o dia 30 de novembro. Entre outras dicas, Rodrigo Siviéri dá conselho sobre o que não fazer: pagar o mínimo da fatura do cartão. “Os cartões de crédito têm uma das maiores taxas de juros, então é importante que essa conta tenha prioridade no pagamento. O ideal é fazer um empréstimo com juros menores para quitar esse débito e não acumular ainda mais pagando o mínimo”, completa. “O ideal é não deixar o nome ficar negativado nos birôs de crédito. Converse com a loja, tente renegociar. Muita gente usa o 13º salário para quitar essas dívidas”, finaliza Eurípedes Fernandes.