Thais Arbex, da Folhapress
A maioria dos eleitores que declaram voto em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 aprova a decisão do presidente de sair do PSL, partido pelo qual foi eleito, e criar uma nova sigla, a Aliança pelo Brasil, aponta a mais recente pesquisa Datafolha.
Segundo o levantamento, 57% dos entrevistados que declaram ter votado em Bolsonaro aprovam a empreitada político-partidária do presidente; 27% a desaprovam. Nesse grupo, os indiferentes são 9% e os que não sabem, 7%.
O aval à decisão de Bolsonaro também é maior entre os que consideram seu governo ótimo ou bom. Nessa fatia da população, 68% aprovam a investida do presidente.
Segundo o instituto, a taxa de aprovação à sua administração oscilou de 29% para 30% na primeira semana de dezembro, dentro da margem de erro do levantamento, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Nas faixas de renda mais alta (cinco a dez salários mínimos e mais de dez salários), 43% dos entrevistados aprovam a saída de Bolsonaro do PSL. Entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos por mês, são 34%.
Apesar de os números indicarem que Bolsonaro mantém uma base fiel, independentemente do partido a que esteja filiado, o Datafolha também mostra que grande parte dos brasileiros não está acompanhando o movimento político do presidente.
De acordo com a sondagem, a maioria da população (55%) não tomou conhecimento da decisão de Bolsonaro de deixar o PSL e de seu plano de criar um novo partido.
A pesquisa ouviu 2.948 pessoas nos últimos dias 5 e 6 em 176 municípios pelo país.
A saída de Bolsonaro do partido que o alçou ao Planalto se deu após semanas de embate dentro do PSL. Em meados de outubro, a sigla se dividiu entre os mais fiéis aliados de Bolsonaro e uma ala que apoia o presidente da legenda, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE).
A crise dentro do partido foi escancarada por Bolsonaro no início daquele mês, ao dizer a um apoiador que Bivar estava "queimado pra caramba".
"Esquece o PSL, esquece o PSL, tá OK?", cochichou o presidente no ouvido de apoiador que momentos antes se disse do Recife e pré-candidato do PSL. As declarações causaram reação imediata na legenda, que já passava por uma disputa interna de poder.
O PSL está no centro de um escândalo, revelado pela Folha de S.Paulo, que envolve o uso de verbas públicas por meio de candidaturas de laranjas em Minas Gerais e Pernambuco.
Embora Bolsonaro sinalizasse a pessoas próximas que a situação no partido estava insustentável, sua decisão de sair do PSL se arrastou por semanas.
A possibilidade de ficar sem partido não era descartada pelo presidente, mas a avaliação de aliados sempre foi a de que o apoio formal de um grupo político é fundamental para o chefe do Executivo.
Havia dúvidas, no entanto, se a criação de um novo partido não geraria desgaste a Bolsonaro –uma vez que o número excessivo de agremiações no país é alvo de críticas.
Os dados do Datafolha indicam, entretanto, que no caso específico de Bolsonaro há uma divisão entre os brasileiros. Segundo o levantamento, 41% dos entrevistados desaprovam o movimento de Bolsonaro de sair do PSL e criar a Aliança, ante 38% que o aprovam. Disseram ser indiferentes 13%, e não saber 9%.
Em meio a incertezas sobre a viabilidade política da Aliança pelo Brasil, o novo partido de Bolsonaro foi lançado oficialmente no dia 21 de novembro, em Brasília, com forte apelo ao discurso de cunho religioso, à defesa do porte de armas e de repúdio ao socialismo e ao comunismo.
O documento que vai nortear a atuação da Aliança defende, por exemplo, "o lugar de Deus na história e na alma do povo brasileiro", e diz que a "laicidade do Estado jamais significou ateísmo obrigatório, como ocorre em regimes autoritários que perseguem a religião".
De acordo com o texto, o partido é "ciente de que o povo brasileiro acredita que Deus é o garantidor do verdadeiro desenvolvimento humano" e que "a relação entre a nação e Cristo é intrínseca, fundamental e inseparável".
Segundo o Datafolha, 43% dos evangélicos aprovam a saída de Bolsonaro do PSL e a criação da Aliança. Entre os católicos, 37% apoiam.
É justamente na fatia evangélica da população que o presidente aposta para conseguir tirar sua sigla do papel.
São necessárias 491.967 assinaturas em ao menos 9 estados, todas validadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para a Aliança ser criada –tornando-se, assim, a nona sigla de Bolsonaro em sua carreira política.
Líderes de igrejas pentecostais e neopentecostais alinhados à agenda de Bolsonaro já se colocaram à disposição da empreitada do presidente, que ainda busca brechas na Justiça Eleitoral para chegar às eleições com recursos dos fundos partidário e eleitoral e com tempo de rádio e TV.
Nesse contexto, como mostrou a Folha de S.Paulo, Bolsonaro aposta na atuação da PGR (Procuradoria-Geral da República) para garantir que um grupo de cerca de 20 deputados migre do PSL para a nova legenda, mantendo os mandatos e as respectivas fatias da verba pública.