Mônica Bergamo, FOLHAPRESS
No mesmo momento em que o pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enfrenta mais de 120 pedidos de impeachment, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) viajou a Araraquara, a 273 km de São Paulo, para protocolar o impeachment do prefeito da cidade, Edinho Silva (PT), na segunda (2).
"Realizamos uma ação social e, na sequência, protocolamos um pedido de impeachment desse prefeito por ele ter pago R$ 1 milhão numa dispensa de licitação para comprar respiradores em uma loja de cosméticos que jamais produziu equipamentos de medicina antes dessa pandemia", disse Eduardo em vídeo publicado nas redes sociais.
"Viemos levar alimento para a população que está sofrendo com a miséria e o prefeito não consegue enxergar. Ele continua fazendo um dos lockdowns mais rigorosos de São Paulo, com apoio do Doria", seguiu o parlamentar.
Araraquara se tornou símbolo do combate à epidemia da Covid-19. Primeira cidade a decretar lockdown após a aceleração de casos com a detecção da variante brasileira, Araraquara viu despencar os índices nas semanas seguintes e passou a ser utilizada por pacientes de mais de 30 municípios que, sem leitos, foram internados em seus hospitais.
No último dia 31, o prefeito Edinho Silva usou suas redes sociais para anunciar que a cidade havia registrado cinco dias na semana sem óbitos por Covid-19. "Com as medidas restritivas de junho e vacinação, a doença não causou vítimas fatais no domingo (25), na segunda (26), na quinta (29), na sexta (30) e neste sábado (31).
É a vitória de um povo que escolheu defender a vida. Orgulho de ser prefeito de Araraquara", escreveu.
O lockdown adotado na cidade a transformou em alvo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), crítico das medidas restritivas. "Nós temos um prefeito que não sei o que tem na cabeça dele, de Araraquara, que novamente [está] programando um novo lockdown na sua cidade, e uma cidade também que morre mais gente que a média do Brasil", disse Bolsonaro em live no dia 17 de junho.
Em nota enviada a deputados, Edinho afirma que a cidade foi "palco de mais uma ação política bolsonarista com objetivo claro de ataque ao prefeito e ao governo municipal, que desde 2020 se mantém como referência no Brasil no combate à pandemia, valorizando a ciência e a medicina".
"O lockdown de fevereiro de apenas 10 dias, quando da chegada da nova variante P1, derrubou em 64% o número de óbitos e em 60% as internações de pacientes de Araraquara, além de mais de 70% a média móvel de contaminações, salvando, segundo projeções de professor da UFSCar, 256 vidas", diz Edinho.
Ainda na nota, ele afirma que essa ação foi organizada "por um grupo político ligado ao candidato a prefeito derrotado nas urnas, Doutor Lapena (Patriota), e o seu candidato a vice Coronel Prado (Podemos), que insistem em não respeitar os resultados inquestionáveis das urnas".
O documento pede que seja analisada suposta improbidade administrativa do prefeio na tentativa de compra de 25 respiradores em abril de 2020. Na nota, Edinho diz que "nenhuma ilegalidade" ocorreu nessa compra de respiradores.
"O negócio acabou desfeito pela própria empresa após a prefeitura pagar R$ 1,04 milhão de entrada, já que a importadora não conseguiu retirar os equipamentos do território chinês (...) A prefeitura já obteve a devolução de 50% dos recursos, o restante o poder Judiciário já deu ganho de causa em favor do município dando como garantia para a devolução do restante dos recursos o patrimônio dos próprios sócios da importadora", diz a nota.