Alfredo Henrique, FOLHAPRESS
Cães da raça pitbull, resgatados pela polícia nesta segunda-feira (16), em uma chácara em Itu (101 km de SP), eram preparados para brigar correndo atrás de animais silvestres.
No local, também segundo a polícia, funcionava uma espécie de centro de treinamento para rinhas, inclusive, com uso de equipamentos para preparo físico dos animais, como uma esteira específica para cães.
Nos 33 cachorros encontrados no local, também eram aplicados anabolizantes e, antes das lutas, testosterona.
Segundo o delegado Fábio Martelini, titular do 2º DP de Itu, a chácara onde os animais foram encontrados foi alugada por um dos 41 presos em uma rinha de pitbulls, sábado à noite (14), em Mairiporã (Grande SP). O suspeito, de nacionalidade peruana, diz o policial, usava o imóvel como local de criação e treinamento de cachorros para brigas ilegais. A data da locação do imóvel não foi informada.
Dos 41 presos, 40 já foram soltos após audiência de custódia, nesta segunda, no Fórum de Guarulhos (Grande São Paulo), inclusive o peruano. Somente um homem, acusado de ser o organizador da rinha, continua na cadeia.
Segundo o delegado, os animais silvestres, como dois gambás e um porquinho da Índia, resgatados pela polícia, eram usados no treinamento dos cachorros. O policial afirmou que até raposas eram utilizadas como alvo para os cães "caçarem", instigando a agressividade dos pitbulls contra outros animais.
Na chácara, havia duas funcionárias. Um delas teria afirmado informalmente à polícia, que os animais que morriam no local, incluindo cachorros, eram usados como alimento para outros cães. As duas mulheres ainda serão ouvidas formalmente pelo 2º DP de Itu.
Os 33 cachorros encontrados no local, segundo a polícia, estavam sem alimentação e expostos à chuva.
De acordo com a polícia, uma denúncia de maus tratos fez com que investigadores fossem ao local, no bairro Chácaras Reunidas Ipê, na tarde de segunda.
Os cachorros foram encontrados em condições insalubres. Alguns, acrescentou a polícia, estariam com graves problemas de saúde, precisando de transfusão de sangue. Também foram resgatados um porquinho da Índia, um canário da terra, duas maritacas, duas calopsitas e até dois gambás.
Além dos bichos, foram apreendidos medicamentos e vacinas, que, segundo a polícia, estariam com data de validade vencida. Um galão de plástico com furos, que seria usado para colocar os animais, também foi achado.
Os cães foram custodiados pela ONG de proteção animal AVA (Associação de Vida Animal), em Atibaia (66 km de SP). No local os cachorros passam por avaliação e reabilitação.
Os animais silvestres foram encaminhados ao Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) no Parque Ecológico do Tietê, na Vila Santo Henrique (zona norte da capital), onde também passariam por avaliação e reabilitação.
Sobreviventes
Dos 17 cães resgatados na rinha em Mairiporã no domingo, oito que estavam mais debilitados foram encaminhados ao Instituto Luisa Mell, em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo.
Segundo a veterinária Marina Passadore, dois pitbulls acabaram morrendo, de infecção provocada por ferimentos das mordidas que sofreram em lutas ilegais -na ação policial, outros dois já haviam sido encontrados mortos. Dos seis cães permanecem em observação no instituto, quatro em estado grave.
"Todos os cães [tratados no instituto] estão com problemas hepáticos e, dois deles, também com problemas renais provocados pelos anabolizantes", afirmou a veterinária.
Ela disse ainda que testosterona era injetada nos cachorros, antes das lutas, para os animais ficarem "mais agressivos."
Marina acrescentou que, quando os cães estavam exaustos, um veterinário, que foi um dos 41 presos, injetava medicamentos nos cachorros para que eles aguentassem por mais tempo nas brigas, geralmente finalizadas com a morte de um dos pitbulls.
Os motivos mais comuns para as mortes, explicou a veterinária, são: exaustão, sangramento, hemorragia interna e dor. Um dos cães sobreviventes, acrescentou ela, está com suspeita de contusão pulmonar, provocado provavelmente por ele se debater no chão durante as rinhas.
A ativista de proteção animal Luisa Mell, que coordena o instituto que cuida dos animais, afirmou que os cães resgatados das rinhas "são dóceis com pessoas". "Eles são super dóceis com pessoas, com todo mundo, mas são muito agressivos com outros animais, eles mudam de comportamento."
Os demais cachorros são cuidados por outras ONGs de proteção animal.