JOANA CUNHA E MATHEUS TEIXEIRA - FOLHAPRESS
A demora do governo em anunciar o pacote de corte de gastos é vista com preocupação no empresariado. A avaliação é a de que a expectativa é grande e positiva, mas cada dia de espera eleva o senso de urgência, segundo empresários e executivos que participaram da Lide Brasil Conferência Lisboa, realizada pelo Lide, Folha e UOL, na capital portuguesa, na sexta-feira (15).
Para o presidente da Febraban, Isaac Sidney, que em seu discurso na conferência cobrou redução das despesas orçamentárias, já há no Brasil uma constatação de que a trajetória fiscal da dívida pública não é mais sustentável.
"A direção do Brasil está correta, mas precisaremos imprimir um ritmo bem mais forte na contenção do gasto público, porque a demora [do corte] amplifica a percepção de piora do quadro fiscal, e o fator tempo é chave na interrupção da trajetória da dívida pública", disse Sidney à Folha.
Ele afirma que é preciso colocar mais despesas dentro das regras do arcabouço fiscal, fazer mais cortes nos gastos obrigatórios e reduzir as vinculações e as indexações do orçamento. "Se fizermos isso, e rápido, a resposta será muito positiva e igualmente rápida", afirma.
O presidente do conselho de administração da Light, Helio Costa, estima que o anúncio virá em breve e que pode gerar reflexos sobre o planejamento que as companhias estão fazendo para 2025.
"Evidentemente, não vou dizer [que tem de ser anunciado] nos próximos dias, mas nas próximas semanas tem de haver uma solução, porque o planejamento das empresas já começou em setembro", diz Costa, que foi ministro da Comunicação do presidente Lula entre 2005 e 2010.
Ele pondera que é importante "saber qual será o nível do corte, se vai ser suficiente para atender as necessidades do próprio governo".
"Agora tem uma disputa interna do próprio governo com o nosso ministro da Fazenda [Fernando Haddad]", afirma.
Costa acredita que será difícil fazer um ajuste grande sem que o Legislativo participe. "Se o Congresso não contribuir não tem jeito".
A ansiedade do empresariado pela divulgação do plano de ajuste nas contas públicas cresceu no início do mês, quando Haddad cancelou uma viagem à Europa para cuidar do assunto. No dia 4, ele afirmou a jornalistas que o governo estava preparado para anunciar as medidas ainda naquela semana.
Em novas falas na quarta-feira (13), o ministro disse que o trabalho já está pronto e que o anúncio depende de Lula.
Marco Stefanini, fundador da Stefanini, uma das maiores empresas de tecnologia do país, também lamenta o atraso no lançamento do pacote. Ele acredita que o corte de gastos vai trazer ganhos de eficiência, favorecendo a redução dos juros.
"O governo e a sociedade acabam perdendo, porque na economia você vive de expectativa. Com juros altos, se gasta mais dinheiro com os juros e, consequentemente, se gasta menos no social, no investimento", diz o empresário.
Para Roberto Vilela, CEO da RV Ímola, empresa de logística de produtos de saúde, como insumos hospitalares e medicamentos, a espera prejudica a economia e provoca oscilações no dólar. "É uma insegurança para todo mundo, principalmente para o mercado. Não se sabe o que vai ocorrer. Por enquanto, não cortaram nada", afirma.