Folhapress
A religiosa baiana Maria Rita Lopes Pontes, a Irmã Dulce, teve o seu segundo milagre reconhecido e será proclamada santa pelo Vaticano. A informação foi publicada na manhã desta terça-feira (14) pelo Vatican News, canal oficial de notícias da Santa Sé.
Sem entrar em detalhes, as Organizações Sociais Irmã Dulce e a Arquidiocese de Salvador informaram que o milagre está relacionado à cura de visão de uma pessoa cega que passou a enxergar.
Nascida em 1914 em Salvador, Irmã Dulce, que ficou conhecida como “anjo bom da Bahia”, teve uma trajetória de fé e obstinação na qual enfrentou as rígidas regras de enclausuramento da Igreja Católica para prestar assistência a comunidades pobres de Salvador, trabalho que realizou até a morte, em 1992.
Filha de um dentista e de uma dona de casa, Irmã Dulce iniciou sua trajetória de assistência aos mais pobres ainda na infância, quando visitava comunidades carentes e ajudava pobres e doentes na porta da casa da família.
Concluiu os estudos aos 18 anos, quando se tornou professora, mas optou pela vida religiosa e ingressou como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em São Cristóvão (SE).
Cerca de um ano depois, quando foi consagrada freira, escolheu o nome Irmã Dulce em homenagem a sua mãe, que morreu quando ela tinha sete anos.
Ao iniciar seu trabalho de missão humanitária, foi enviada a Salvador, sua terra natal, onde passou a atuar no Sanatório Espanhol. A partir daí, não mais parou o seu trabalho voltado aos doentes e mais pobres.
Em 1939, inaugurou uma escola voltada aos filhos de operários no bairro de Massaranduba, periferia de Salvador. Dez anos depois, ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio e improvisou uma enfermaria para cuidar de doentes.
Nos anos seguintes, começou a buscar apoio de políticos e empresários para transformar a enfermaria improvisada em um hospital voltado ao atendimento da população mais pobre. Criou um restaurante para dar comida a quem não tinha e organizou uma rede de aleitamento materno.
Além de pedir doações, Irmã Dulce inovou na busca por recursos para manter suas obras sociais. Chegou a cantar e tocar acordeon nas ruas de Salvador para arrecadar fundos para suas obras de caridade.
A partir de 1955, passou a cumprir uma penitência em agradecimento à vida de sua irmã, que sobreviveu a uma gravidez de alto risco. Pelos 30 anos seguintes, passou a dormir sentada em uma cadeira de madeira.
Em 1980, recebeu a visita do papa João Paulo 2º, que a incentivou a prosseguir com seu trabalho social. Em 1991, quando visitou o Brasil pela segunda vez, o papa mais uma vez visitou Irmã Dulce, que já padecia em uma cama de hospital.
Morreu em 1992, gerando uma forte comoção social entre os baianos, que passaram a tratá-la como santa. Desde então, é comum encontrar fiéis com medalhinhas e quadros com o rosto da religiosa na parede de casa.
Atualmente, as Obras Sociais Irmã Dulce formam um dos maiores complexos de saúde com serviço gratuito do Brasil, com uma em média de 3,5 milhões de pessoas atendidas por ano.
O processo da causa da Canonização foi iniciado em janeiro de 2000 e seu primeiro milagre foi validado pela Santa Sé em 2003, pelo então papa João Paulo 2º.
O milagre reconhecido teria acontecido na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando as orações a Irmã Dulce teriam feito cessar uma hemorragia em Claudia Cristina dos Santos, que padeceu durante 18 horas após dar a luz ao seu segundo filho.
Em abril de 2009, o papa Bento 16 concedeu o título de Venerável à freira baiana, que se tornou a “Bem-aventurada Dulce dos Pobres”. Ela foi beatificada dois anos depois em uma cerimônia religiosa que reuniu 70 mil pessoas em Salvador.
A canonização, agora, deverá dar novo fôlego no culto a Irmã Dulce, que já era tratada como santa por grande parte dos baianos e atrai romeiros de todo o Brasil ao seu santuário no largo de Roma, em Salvador.
Além de Irmã Dulce, o Vaticano ainda publicou um decreto no qual reconhece as virtudes heroicas e declarou como Venerável o religioso gaúcho Salvador Pinzetta, membro da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos que morreu em 1972.
O Vaticano já havia reconhecido como santos brasileiros Madre Paulina (canonizada em 2002), o Frei Galvão (2007), o padre José de Anchieta (2014), além dos mártires Roque Gonzalez, Afonso Rodrigues e João de Castilho, mortos no Rio Grande do Sul no século 17 (1983) e os 30 mártires assassinados no século 17 no Rio Grande do Norte (2017).