Beatriz Montesanti, da Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) descartou a compra de vacinas pelo governo na manhã desta quarta (21) até que haja comprovação de eficácia. "Toda e qualquer vacina está descartada por enquanto. A vacina precisa de comprovação científica para ser usada, não é como a hodroxicloroquina."
A declaração foi feita durante visita às instalações do Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP) em Iperó. Ele estava acompanhado pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, havia anunciado na terça (19) investir R$ 2,6 bilhões para colocar mais 46 milhões de doses da Coronavac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, no programa de imunização. No Brasil, ela é produzida pelo Instituto Butantan.
"A vacina do Butantan será a vacina do Brasil", disse Pazuello em teleconferência com os governadores. "O Butantan já é o grande fabricante de vacinas para o Ministério da Saúde, produz 75% das vacinas que nós compramos."
Bolsonaro, no entanto, atribuiu hoje a declaração a uma má fé do governador de São Paulo, João Doria, que participou da reunião. Disse que o valor anunciado é "vultuoso" e que está afinado com o ministério da Saúde "na busca de uma vacina confiável ".
O presidente, no entanto, afirmou também ter mandado cancelar um protocolo de intenções do ministério, que falava sobre a compra da vacina. "Não abro mão da minha autoridade."
A Folha de S.Paulo mostrou que o ministro Eduardo Pazuello enviou no dia 19 de outubro ao diretor-geral do Instituto Butantan, Dimas Covas, um ofício em que confirma a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. "Fora isso é especulação e jogo político", disse. "A população já está inalada com discursos de terrorismo desde o início da pandemia. Perseguimos a vacina, lá atrás destinamos recursos a Oxford, não para comprar vacina, mas para participar de pesquisa e desenvolvimento com uma cota de vacina para nós. Nada será despendido agora com uma vacina chinesa que eu desconheço."
Anteriormente, o presidente já havia criticado a Coronavac ao atacar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Os dois travam um debate público sobre a obrigatoriedade de tomá-la.
Atualmente, o Brasil tem quatro testes de vacinas em andamento. Além da Sinovac, há uma desenvolvida em parceria entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca, e que será produzida pela Fiocruz.
A Anvisa também já deu aval a estudos clínicos de uma vacina em desenvolvimento pela Pfizer e de outra da Janssen, braço farmacêutico da Johnson&Johnson.