Julia Chaib e Ana Luiza Albuquerque para Folhapress
- O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirma que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) se filiará ao partido por volta de junho. A informação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela Folha. Segundo Valdemar, a informação foi passada pelo próprio Tarcísio em jantar há cerca de um mês, em Brasília. A migração do Republicanos para o PL ocorrerá devido a um pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diz o dirigente.
Aliados do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), esperam que a mudança leve o PL, que tem 99 deputados, a apoiá-lo na disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara dos Deputados. Pereira é um dos pré-candidatos na eleição pelo comando da Câmara, marcada para fevereiro do ano que vem. Segundo Valdemar, porém, a troca não passa por negociações sobre as eleições da Casa.
"Não conversamos sobre a Câmara, somente sobre São Paulo. Ele [Tarcísio] quer sair bem com o Republicanos", afirmou o presidente do PL à reportagem. A assessoria de Tarcísio afirmou que o governador não descarta ir para o PL no futuro, mas que não há previsão para troca de partido nem movimentação do político nesse sentido. Questionada sobre a afirmação de Valdemar de que o próprio Tarcísio teria dado o mês de junho como data da mudança, a assessoria voltou a afirmar que Tarcísio não está mudando de partido.
Desde o início do ano aumentaram as especulações de que o governador estaria de mudança para o PL, com pressões públicas de Bolsonaro, sua esposa Michelle e parlamentares do partido. Mas, publicamente, Tarcísio e seu entorno nunca confirmaram o movimento. Em março, quando questionado a respeito da mudança, ele negou a possibilidade.
"Hoje nós temos um time, que tem Republicanos, tem PL, tem PSD, tem PP, tem MDB, tem Podemos. Esse time está unido, então vamos trabalhar em prol desse time para que a gente tenha, em outubro, uma eleição municipal muito bem-sucedida. Estamos trabalhando dentro do normal, do que está previsto hoje, sem nenhuma mudança à vista de curto prazo", afirmou o governador durante evento em São Paulo.
Naquela época, uma pessoa próxima ao governador foi categórica ao dizer à Folha que ele não estava de transferência naquele momento. A mudança, afirmou, era um desejo de Bolsonaro, os dois haviam conversado sobre o assunto e isso poderia ocorrer mais à frente.
Outro aliado de Tarcísio disse, na ocasião, que a transferência seria difícil diante das rusgas que o governador teve no passado com Valdemar Costa Neto. Mas ponderou que há boa relação com o partido em São Paulo, na figura do presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL).
Aliados do governador, no entanto, sempre afirmaram que ele não teria como negar um pedido do próprio Bolsonaro. A candidatura de Tarcísio ao governo paulista foi sugerida pelo ex-presidente, que se engajou na campanha.
Ao fim do mês de março, na filiação da então secretária Sonaira Fernandes ao PL, Bolsonaro brincou que a "rede de arrasto" do partido poderia capturar também o governador. Tarcísio apenas riu, mas no mesmo evento fez um aceno à legenda: "Bolsonaro representa o que o PL representa hoje: Deus, pátria, família, liberdade. É o que a gente está falando o tempo todo".
Também no fim daquele mês, em meio à pressão que fazia para o apadrinhado se filiar ao PL, Bolsonaro afirmou que um governador "peso pesado" estaria negociando a troca para o partido. "Pessoas que somam, com pensamento muito semelhante ao nosso, que tem na cabeça Deus, pátria, família e liberdade", disse o ex-presidente.
A pressão para que Tarcísio se filie ao PL acompanha o aumento nas especulações de que ele pode ser o candidato do bolsonarismo à Presidência em 2026, com Bolsonaro inelegível. Desde que o nome do governador passou a circular como o principal herdeiro do movimento, Tarcísio se mostrou mais confortável em abraçar o lema ideológico do bolsonarismo, como mostrou a Folha.
Bolsonaro queria que o governador já tivesse disputado as eleições de 2022 pelo PL. Uma das preocupações dele era que o eleitor confundisse os partidos e deixasse de votar em Tarcísio porque ele não seria o número 22, como era o então candidato à Presidência.
No primeiro turno da eleição de 2022, mais de 500 mil eleitores votaram 22, número do PL, para governador, quando número de Tarcísio era 10 o que levou à anulação desses votos. Um acordo para que o Republicanos apoiasse a reeleição de Bolsonaro, porém, fez com que Tarcísio se filiasse ao seu atual partido. Segundo aliados, o ex-presidente prefere que o governador seja do mesmo partido que o seu para ampliar a identificação dos eleitores e porque a legenda tem mais capilaridade.
Colaborou Géssica Brandino, de São Paulo.