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Passeio turístico no rio Pinheiros tem selfie, capivara e mau cheiro oriundo de esgotos

Postado em: 12/09/2019

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Fabrício Lobel, FOLHAPRESS

Às 8h da manhã desta quinta-feira (12) as pistas da marginal Pinheiros estavam congestionadas na zona sul de São Paulo. Mas cerca de 20 pessoas conseguiram cumprir a distância 7 km em apenas 15 minutos (metade do tempo de um percurso convencional de carro).

É que elas estavam a bordo de um bote que navegou pelo leito do fétido rio Pinheiros, que neste ano se tornou alvo do governo João Doria (PSDB), que promete despoluí-lo até 2022 com o investimento de ao menos R$ 1,5 bi.

O passeio é uma iniciativa da São Paulo Boat Show, uma feira do setor náutico, para promover a ideia de que São Paulo pode ter seus rios navegáveis.

Em 2011 e 2012, o evento promoveu uma disputa entre um carro e um barco que navegava pelo Tietê. Nas duas edições, a competição não durou muito para a embarcação, que teve o motor travado pelo lixo logo nos primeiros minutos.

As viagens feitas na manhã desta quinta-feira foram tranquilas. A embarcação fez a primeira viagem a partir da usina de Traição, na Vila Olímpia. Nessa região, Doria disse querer construir um ponto turístico, com restaurantes e bares, a exemplo do que ocorre em Porto Madero, na Argentina.

Doria propôs até trocar o nome da estrutura para Usina São Paulo (o nome “Traição” é dado em referência a um córrego na região, onde o bandeirante Borba Gato teria sido alvo de uma emboscada entre os séculos 17 e 18.

A travessia levou parte do staff da Boat Show, jornalistas e também pessoas convidadas pelas redes sociais. O policial Cássio Galhardo, 41, embarcou ansioso por ver as capivaras que tomavam banho de sol às margens do rio. Além dos roedores, é possível ver garças brancas no leito, que se alimentam dos pequenos peixes que chegam carregados por outros rios que desembocam no Pinheiros.

“Quando disse que eu faria um passeio no Pinheiros, as pessoas perguntavam se eu estava louco. ‘Te convidar para Fernando de Noronha ninguém vai, né?”, disse rindo o autônomo José Carlos Petri, 54. Acostumado a navegar, gostou da experiência de ver a cidade sob uma perspectiva diferente.

As amigas Mariângela Leite, 53, e Shirlei Dualib, 55, aproveitam o passeio inusitado para tirar selfies. O forte cheiro de esgoto era comentário geral durante a viagem.
Conforme o barco avança, o motor revolve a água muito preta do Pinheiros (alguns respingos são inevitáveis). O comandante Aparecido Hengler, 60, leva o barco a quase 70 km/h.

O motor desacelera quando fica enroscado em um pedaço de plástico, mas logo o ritmo é retomado. Mais adiante, outra desaceleração, desta vez para desviar de bancos de areia (ainda não removidos pelo desassoreamento do Pinheiros). “A gente tem que ir com calma, procurando o meio do rio, onde é mais fundo”, explica o comandante que se diz animado com a promessa de conviver com outras embarcações num rio navegável.

A rota aquática é feita entre centenas de garrafas plásticas, isopor, pedaços de madeira e lixo de todo tipo.

A artesã Ana Lúcia de Carvalho, 67, defende que todos paulistanos façam um passeio do tipo. “Para todo mundo aprender para onde o lixo da cidade vai parar.”

O plano do governo de São Paulo para limpar o Pinheiros é focar investimentos do Projeto Tietê em três frentes de trabalho.

A primeira é reduzir drasticamente a quantidade de esgoto que chega ao Pinheiros. Esse esgoto tem duas origens: áreas irregulares poluentes ou bairros e condomínios consolidados mas que ainda estão isolados da rede de esgoto conectada às estações de tratamento.

A Sabesp estima que, ao longo da bacia do Pinheiros, 500 mil imóveis ainda despejem seus dejetos em córregos que o alimentam. Em 85% desses imóveis, a Sabesp já consegue coletar o esgoto, mas não tem estrutura para levá-lo a uma estação de tratamento. Os outros 15% a empresa sequer consegue alcançar para coletar o esgoto. São Paulo hoje ainda não trata 30% de seu esgoto gerado e deixa de coletar 13%.

Para cumprir essa lacuna no saneamento da região do Pinheiros, a Sabesp fará o loteamento da bacia do rio. As empresas deverão ser remuneradas pela performance. Ou seja, a tática é não mais pagar apenas pela realização de obras, mas sim conforme metas de despoluição forem atingidas.

A segunda frente de trabalho é barrar a entrada no leito do Pinheiros do lixo carreado por outros córregos e rios em dias de chuva. Barreiras flutuantes estão sendo testadas. Mas, ainda que o governo paulista consiga evitar a entrada de esgoto e lixo no Pinheiros, resta uma preocupação: a eutrofização (ou seja, a proliferação de algas que forram a superfície do rio, o que derruba a taxa de oxigênio na água). Acontece que grande parte do volume do Pinheiros hoje é de esgoto. Sem essa carga, o rio perde força em seu fluxo, tendendo a ficar parado (o Pinheiros já tem uma vazão muito baixa). A água parada é um bom ambiente para a proliferação dessas algas que poderão aparecer com alguma poluição residual.

Uma terceira frente seria minimizar esse risco. A Sabesp estuda como o fazer bombeando a água ao longo do próprio canal do Pinheiros ou gerando microbolhas que oxigenam o rio.

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