Por Vanderlei Testa
Hoje têm centenas de pizzarias em Sorocaba. Certamente, os apreciadores dessa iguaria italiana chamada pizza, lá na década de 70 devem ter experimentado a pizza na pedra.
Naquela época minha mãe e, com certeza, a sua também, comprava farinha e esticava a massa em casa. Colocava umas fatias de muçarela e orégano e a assadeira ia ao forno do fogão. Como somos de família napolitana, adorava pizza. Não existia o “delivery” tão comum e, nem esse “iFood” que clicamos no celular. Era raro, na verdade, encontrar na cidade uma pizzaria.
Foi daí que o comerciante Gregório Carmona de família especializada no ramo da gastronomia e das pizzas, decidiu abrir algo diferente. Em um espaço na rua Barão do Rio Branco, uma das principais do centro, encontrou o que seria conhecida como a “caverna ou gruta da pizza na pedra”. Frequentei esse lugar. Tinha uma entrada de acesso com uns três metros de largura e corredor com mais uns cinco metros, todo construído em formato de caverna de pedra. Dava a impressão de que estávamos fora de Sorocaba, em algum lugar qualquer na floresta.
O ambiente, que nunca soube como surgiu na ideia do Gregório Carmona conquistou os jovens e adultos. Nas minhas lembranças de 1973, ano em que abriu a Pizza na Pedra os sábados eram dedicados à gastronomia na pizza na pedra!
Tinha também o restaurante Jardim Tropical do Antonio Carmona na rua da Penha. Atualmente lá é o estacionamento do Jorge japonês, ao lado do histórico edifício de Sorocaba que abriga a primeira Drogasil da cidade. Meu irmão Darci Testa e primo Raul Ribeiro trabalharam décadas ali.
Na mesma linha de trabalho em alimentação, o Toninho Carmona, irmão do Gregório, era um anfitrião aos seus clientes. Sempre sorridente e com uma equipe de garçons alegres, entre eles, um que chamava Primo, fazia encher a casa nos finais de semana. Quantas vezes em família íamos para saborear o tradicional “Filé a Cubana”, um dos mais preferidos a deixar o domingo saboroso, após a participação na missa na Igreja de São José do Cerrado ou na Catedral Metropolitana.
Na rua Rui Barbosa, quase ao lado do Ginásio de Esportes “Gualberto Moreira” existia uma lanchonete do Ramon. Isso na década de 60. Uma televisão em preto e branco daquelas pioneiras no Brasil atraia os clientes, na maioria os jovens. As transmissões de esportes à noite, em especial, as lutas livres que a TV Excelsior transmitia em Sorocaba.
Os lanches do “Ramonzinho”, como chamavam esse comerciante, eram imbatíveis no bairro Além Ponte. Havia vários concorrentes. O tradicional Bar do Mello, com mesas de bilhar para atrair a juventude acima de 18 anos, era um caso à parte. Ficava na esquina da rua Cel. Nogueira Padilha com a rua Santa Maria.
Naquela época, os menores de idade eram proibidos de acessarem o salão de jogos de sinuca. O carro do juizado de menores aparecia por lá e dava “uma pega” na moçada e no dono do bar. E quando aparecia o Sargento Peralta com a viatura da Guarda Civil, então a bronca era maior. Como eu namorava uma prima dele, ficava só na conversa e no “puxão de orelhas”.
Voltando à pizza na pedra, o Gregório Carmona, no sábado, dia 24 de agosto, nos deixou com os seus 83 anos de vida muito bem aproveitados. Era viúvo e tinha três filhos: Mara, Maysa e Gilson.
Desde 1986, quando encerrou as atividades da Pizza na Pedra, Gregório buscou outras atividades comerciais. Foi e será um exemplo de cidadão sorocabano que deixou saudades. Seu legado inovador e ser humano dedicado às causas sociais e de benemerência, foram anônimas, mas marcantes à sua caminhada rumo aos que conquistam o paraíso. Seu sorriso e olhar na foto que ilustramos esta artigo manifestam o testemunho vivo da sua pessoa.
E aqui nesta homenagem, a nossa admiração a ele e das centenas de amigos que comentaram a sua partida nas redes sociais com elogios, como o amigo e artista Peron que fez uma arte especial do Gregório Carmona.
E na tarde do dia 28 de agosto chegou à notícia de Cananéia. A Kátia baiana – Kátia Gazel Lenti, chef de cozinha faleceu em acidente. Uma das pessoas amadas em Sorocaba pela sua energia alegre em conviver com todos na cidade em suas tendas de acarajé, estava em uma embarcação que afundou.
A comoção transmitida em centenas de mensagens nas redes sociais manifesta o carinho à Kátia. Traduzimos aqui a tristeza pela perda e a certeza de que ela cumpriu sua missão de ser humana generosa e grata pelo dom da vida.
O acarajé a pizza perderam seus chef’s!
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário, escreve aos sábados no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta e no site www.jornalipanema.com.br/opiniões