Italo Nogueira, FOLHAPRESS
O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) negou nesta quinta-feira (19) que tenha cometido os crimes investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Ele criticou a atuação do juiz Flávio Itabaiana, responsável pelo caso, e questionou o fato de os promotores não terem denunciado ninguém após dois anos de apuração.
Em vídeo publicado em suas redes sociais, o senador disse que o magistrado "virou motivo de chacota no Judiciário" fluminense. Também vinculou Itabaiana ao governador Wilson Witzel (PSC), atual rival político, citando o fato de sua filha estar empregada na Secretaria Estadual da Casa Civil.
"Esse juiz que virou motivo de chacota no Judiciário do Rio, que quebrou o sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas com apenas quatro linhas, sem nenhuma fundamentação. Esse juiz que autoriza tudo o que o Ministério Público pede sem sequer ter a preocupação e o cuidado necessário para avaliar o que está sendo pedido", disse o senador.
"Sabe onde a filha desse juiz trabalha? A Natalia Nicolau? Trabalha com o governador Wilson Witzel. Está lá até hoje. É uma boquinha que parece muito boa, Ministério Público. Até porque eu ouço falar, não sei se é verdade, que ela não aparece muito por lá não", afirmou Flávio.
O senador voltou a dizer que o magistrado não é competente para julgar seu caso porque os supostos crimes ocorreram quando ele era deputado, o que lhe daria foro especial. O envio da investigação para a primeira instância foi determinado pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal).
"Não estou aqui pedindo foro privilegiado nenhum, não. Até porque isso está fora da minha escolha. É o que diz a legislação", declarou o filho do presidente Jair Bolsonaro.
O senador vinculou a operação a uma tentativa de desestabilizar o governo de seu pai. Também fez críticas aos promotores envolvidos no caso.
"Há pessoas que estão mal intencionadas. Estão perseguindo, usando artifícios ilegais que constrangem as pessoas para buscar explicar uma coisa que simplesmente não fiz. Daí a dificuldade de ainda não terem oferecido uma denúncia. Se já tem tudo comprovado, por que ainda não fui denunciado?", afirmou.
Flávio também comentou as suspeitas levantadas pelos promotores.
Loja de chocolates
Flávio afirmou ser comum o uso de dinheiro vivo em compras de lojas como a sua, uma franquia da Kopenhagen.
"É óbvio, energúmenos. É um comércio. As pessoas pagam em dinheiro também. A gente recebe em dinheiro e depois deposita na conta da loja. Qual o problema? O que tem de ilegal nisso?", afirmou.
O senador não comentou o fato de a proporção de uso de recursos em espécie ser maior do que o apontado pelo proprietário anterior da loja. Não comentou também o fato de a entrada de dinheiro vivo não apresentar relação direta com os períodos de maior venda, como na Páscoa, conforme relatou a Promotoria.
Os promotores dizem que as entradas de dinheiro em espécie na conta da loja coincidiam com o recolhimento de dinheiro feito por Queiroz.
Flávio disse também ser natural receber a maior parte da distribuição de lucros da empresa. Ele tem 50% da sociedade.
"Alguém tem alguma dúvida que eu levo mais clientes para a loja do que ele? É obviamente natural que, na distribuição de lucros, eu fique com a parte maior", declarou o senador.
"Se eu quisesse lavar dinheiro eu abriria uma franquia, que tem o controle externo da franqueadora, que tem auditoria? Abriria uma outra atividade qualquer que não deveria satisfação a ninguém", afirmou Flávio.
A Kopenhagen afirmou, em nota, que não realiza "nenhum tipo de auditoria fiscal com seus franqueados, que são pessoas jurídicas totalmente independentes da franqueadora".
"A marca afirma que possui um amplo manual de normas e procedimentos operacionais, já que preza a padronização de toda a rede de franquias e a garantia de qualidade. Esses aspectos operacionais são auditados pelo grupo a fim de preservar os atributos do ponto de venda, mantendo a excelência dos processos", diz a nota da empresa.
Imóveis
O senador disse que obteve um lucro de 260% num período de pouco mais de um ano porque comprou dois imóveis ao mesmo tempo do mesmo vendedor.
"Comprei de um grupo de americanos que estava saindo do Brasil. Negociei um preço melhor porque comprei dois do mesmo vendedor. Todos os impostos recolhidos sem problema nenhum", disse ele.
Flávio não explicou o fato de o responsável pela venda, o norte-americano Glenn Dillard, ter depositado os cheques usados na compra no mesmo momento em que integralizou em sua conta R$ 638,4 mil em dinheiro vivo, no dia da concretização do negócio. O Ministério Público afirma que a única origem possível para o dinheiro é o pagamento pelos imóveis.
PM
Ele afirmou que o policial militar Diego Ambrósio pagou o boleto de R$ 16 mil para quitar uma parcela de seu imóvel porque o banco já havia fechado e ele não tinha aplicativo da instituição financeira no celular.
"Numa única ocasião, se não me engano porque o banco já tinha fechado e eu não tinha aplicativo no telefone, pedi para ele pagar uma conta para mim. Ele pagou e depois eu reembolsei", declarou.
Ele também disse que os depósitos de Ambrósio na conta de sua loja se referem à compra de panetones que ele distribuía a síndicos de Copacabana, clientes de sua empresa de vigilância.
De fato, os depósitos feitos pelo PM na conta da empresa ocorreram na segunda quinzena de dezembro ou na primeira de janeiro entre 2015 e 2018.
Depósitos para Queiroz
Flávio criticou a divulgação da informação sobre os R$ 2 milhões depositados em contas de Fabrício Queiroz. Ele destacou o fato de a movimentação ter ocorrido ao longo de 12 anos (2007 a 2018) e que mais da metade dessas transferências foram feitas por familiares do seu ex-assessor.
"Ele já disse que geria os recursos das famílias", disse ele.
Qestões ainda sem respostas no caso Queiroz
Quem eram os assessores informais que Queiroz afirma ter remunerado com o salário de outros funcionários do gabinete de Flávio?
Por que o único assessor que prestou depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro não confirmou esta versão de Queiroz?
Como Flávio desconhecia as atividades de um dos seus principais assessores por dez anos?
Por qual motivo Jair Bolsonaro emprestou dinheiro a alguém que costumava movimentar centenas de milhares de reais?
De que forma foi feito esse empréstimo pelo presidente e onde está o comprovante da transação?
Onde estão os comprovantes da venda e compra de carros alegadas por Queiroz?
Por que há divergência entre as datas do sinal descrita na escritura de permuta de imóveis com o atleta Fábio Guerra e as de depósito em espécie fracionado na conta de Flávio?
Inconsistências no pedido do MP-RJ
Pessoas não nomeadas por Flávio Bolsonaro - Há três casos de pessoas sem vínculo político com Flávio que foram alvo de quebra de sigilo. Elas estavam nomeadas no gabinete da liderança do PSL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro quando o senador assumiu o cargo e, em seguida, as demitiu;
Remuneração de Queiroz - Ao comparar gastos com vencimentos de Fabrício Queiroz, o Ministério Público considera apenas salário da Assembleia e ignora remuneração que ele recebe da Polícia Militar;
Saques - Há erro na indicação do volume de saques feitos por Queiroz em dois dos três períodos apontados;
Laranja potencial - Promotoria atribui ao gabinete de Flávio servidora da TV Alerj que acumulava cargo com outro emprego externo;
Patrimônio - Ao falar sobre um negócio que envolve 12 salas comerciais, os promotores do Ministério Público do Rio escreveram que Flávio adquiriu os imóveis por mais de R$ 2,6 milhões, quando, na verdade, ele deteve apenas os direitos sobre os imóveis, que ainda não estavam quitados e continuaram sendo pagos em prestações por outra empresa que assumiu a dívida.