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Roberto Kikawa, que criou as carretas da saúde, é assassinado em SP

Postado em: 11/11/2018

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FOLHAPRESS

O médico Roberto Kunimassa Kikawa, 48, foi morto na noite de sábado (10) durante um assalto, na zona sul de São Paulo. Gastroenterologista, ele fundou o Cies Global em 2008 para levar atendimento médico especializado a comunidades carentes.

Integrante da Rede Schwab de Empreendedores Sociais e da Rede Folha, Kikawa foi reconhecido como vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2010 por sua inovação ao construir unidades móveis de exames dentro de carretas.

Ele voltava de um jantar com sua equipe e deixava um funcionário em casa. Quando o carro estava parado em frente ao prédio, foi abordado por duas pessoas, que, com arma em punho, ordenaram que ele saísse do carro. Como era de seu feitio, Kikawa saiu e pediu calma aos assaltantes, que dispararam dois tiros, sendo o segundo fatal.

Apenas em São Paulo, o Cies foi responsável por 54% dos exames de imagem com médicos especialistas feitos em 2017 pelo SUS, sistema que ele defendia.
“O SUS é viável”, afirmou em sua última entrevista concedida à Folha de S.Paulo durante o Fiis (Festival de Inovação e Impacto Social), na segunda-feira (5). “É importante que a gente entenda o SUS, de ter essa rede integrada. Nada adianta eu trazer uma carreta para fazer uma mamografia, detectar o nódulo, e essa pessoa ficar frustrada e falar: ‘Tá bom, doutor, o que eu faço com isso?’.”

Também falou sobre o papel do terceiro setor no fortalecimento do sistema público: “A gente é ponte e precisa trazer essa ponte para o governo, trazer a iniciativa privada junto, para que ele possa entender a questão de uma gestão eficiente, respeitosa, onde o governo possa regular. Essa é a função dele na saúde: regular, auditar e controlar”, disse.
“E, se a gente consegue operar para o governo, ajudá-lo e trazer a iniciativa privada para auxiliar, a gente tem um sistema de saúde sustentável.”

Paulistano, Kikawa escolheu a carreira na medicina ainda na infância, quando era escoteiro e aprendeu a cuidar de pessoas. Aos 13, quando quebrou o pé durante os treinos de futebol de salão e ficou imobilizado por três meses, desenvolveu a habilidade de transformar problema em oportunidade. Começou a jogar xadrez inspirado pelo pai.

O progenitor foi sua grande inspiração e incentivador. Durante o período da faculdade em Londrina (PR), seu pai teve câncer. Kikawa conseguiu acompanhar o tratamento em São Paulo por causa de uma greve no campus. A despedida foi a maior motivação da sua vida: “Quero que você me prometa que será médico. Um médico amoroso, que entenda bem o doente”, disse o pai na última conversa.

Após o adeus e de volta ao Paraná, decidiu cursar teologia para ser missionário na África, mas uma grave infecção renal o impediu. A carreira como cirurgião-geral também foi interrompida, desta vez por um tremor nas mãos. Ainda assim, Kikawa mantinha sua firmeza de propósito.

No Hospital Sírio-Libanês, voltou sua atenção aos pacientes sem perspectivas de cura e à endoscopia. E descobriu as “Áfricas” da periferia paulistana. Surgiu, assim, a ideia do sistema móvel para exames preventivos, que evoluiu para unidades que também realizam cirurgias.

Roberto Kikawa deixa a mulher, a oftalmologista Mirna, e dois filhos, Daniel e Ana.

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