O ambiente, a rotina, o cuidado próximo e afetivo e a qualificação dos profissionais são fundamentais para um atendimento eficaz de jovens em situação de vulnerabilidade social e necessidades decorrentes do uso de drogas. Esses são os indicativos nos resultados de pesquisa realizada durante o mestrado de Júlia Corrêa Gomes, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, orientada pela professora Clarissa Mendonça Corradi-Webster. Esses resultados, avaliam as pesquisadoras, “oferecem contribuições para a compreensão de aspectos importantes dos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes usuários de drogas, que precisam ser considerados na construção de políticas e serviços de atenção a esses jovens”.
A pesquisa Cuidado institucional a crianças e adolescentes usuários de drogas analisou a forma como uma Unidade de Acolhimento Infantojuvenil presta serviços em Ribeirão Preto. A conclusão do trabalho mostra que esse tipo de serviço deve estar atento às necessidades básicas dos jovens, construir uma rotina flexível e estabelecer regras e limites aos adolescentes. Mas, permeando todo o relacionamento de cuidados, verificaram que os “vínculos afetivos se mostraram fundamentais”.
Coordenadora do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicopatologia, Drogas e Sociedade (LePsis) da USP, Clarissa conta que os membros do LePsis já haviam notado um crescimento de internações de adolescentes em clínicas para tratamentos de uso de drogas, com posterior relato sobre as más condições dessas clínicas. Entre as principais queixas ouvidas pelo pessoal do LePsis, estavam desrespeitos, agressões, violações, além da falta de uma proposta terapêutica dirigida a essa faixa etária. Segundo Clarissa, os adolescentes dizem que ficam isolados “em um lugar longe da comunidade por muitos meses”.
Sobre a escolha da unidade de acolhimento infantojuvenil no município de Ribeirão Preto, a professora diz que apresentavam “uma proposta muito interessante e alternativa de cuidado para esses jovens”, que não eram isolados em locais distantes. Os pesquisadores queriam conhecer as características desse serviço que, segundo os profissionais da rede de atenção do município, era definido como de um “cuidado diferenciado e interessante para essa população”.
O que chamou a atenção da equipe, diz Clarissa, foi a maneira como construíram uma rotina flexível com regras acordadas junto aos adolescentes, que dá ênfase ao estabelecimento de regras “sem autoritarismo, em uma relação horizontal de cuidado”. Para a professora, o ideal nesses ambientes é conversar com os jovens sobre as regras, negociar e ter flexibilidade para que compreendam os motivos de serem estabelecidas.