Carolina Linhares, da Folhapress
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que as recentes investidas da Lava Jato contra expoentes tucanos, como José Serra e Geraldo Alckmin, não têm natureza política.
"O PSDB não classifica essas investigações como de ordem política", afirmou o governador em entrevista à imprensa nesta sexta-feira (24).
Doria ainda criticou o PT pela postura de atacar a politização da Lava Jato ao fazer a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado em segunda instância após ações da operação.
"É a nossa posição, diferente de um outro partido, que, na defesa do seu presidente de honra, criou obstáculos e classificou como política a investigação", afirmou o tucano.
"Não vemos essas denúncias como uma resposta de ordem política, sim de ordem técnica. A Polícia Federal realiza seu trabalho, assim como o Ministério Público Federal e o Ministério Público estadual, cumprindo seu dever e o dever é investigar. Assim como o [dever] do PSDB é não criar nenhuma objeção e nem condenar nenhum tipo de investigação", disse Doria.
A opinião, no entanto, não é unânime no PSDB. Tucanos próximos ao prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição neste ano, avaliam que a mira do Ministério Público de São Paulo no partido está relacionada de alguma forma à eleição municipal.
Nesta quinta-feira (23), Alckmin foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral de São Paulo sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e caixa dois –ele havia sido indiciado uma semana antes.
Já Serra foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob acusação de lavagem de dinheiro no último dia 3 e voltou a ser alvo de operação, dessa vez movida pela Promotoria paulista e pela Polícia Federal, na última terça-feira (21), por suspeita de envolvimento em esquema de caixa dois.
De qualquer forma, aliados do prefeito acreditam que sua campanha não será afetada pelo novo desgaste do PSDB. Por causa da denúncia, Alckmin telefonou a Covas e pediu para sair de sua campanha, pois precisaria se concentrar em sua defesa. O ex-governador seria o coordenador do plano de governo do prefeito.
Tucanos enxergam na denúncia contra Alckmin uma forma de tirá-lo do jogo em 2022. O ex-governador paulista indica que pode voltar a disputar cargos eleitorais depois de sofrer, em 2018, a pior derrota do PSDB em eleições presidenciais.
Há expoentes nacionais da sigla que não descartam haver algum componente político nas acusações, sobretudo por considerarem a operação contra Serra no Senado agressiva e pela insistência de investigadores a atribuírem crimes a Alckmin, visto como um político austero e honesto mesmo fora do círculo tucano. Causou estranheza ainda a rapidez entre o indiciamento e a denúncia de Alckmin.
A avaliação geral de tucanos, no entanto, se aproxima à visão de Doria, de que seria exagero atribuir o andamento das investigações ao cenário eleitoral –até porque as apurações já tramitam na Lava Jato há mais tempo.
Por outro lado, líderes do partido também admitem que as investidas contra Serra e Alckmin se colocam no contexto de uma articulação para ressuscitar, em São Paulo, o protagonismo da Lava Jato, já apagada em Curitiba, seu local de origem.
Há ainda a ponderação de que qualquer partido no poder, como é o caso do PSDB em São Paulo, se expõe e vira alvo de ações judiciais. Ou seja, o protagonismo tucano no estado pode também ter influenciado as investigações.
Membros do PSDB consideram que a fala de Doria foi acertada e que é a única posição institucional possível para um governador tucano com pretensões de chegar a Presidência da República em 2022.
A ação contra Alckmin foi apresentada no âmbito da chamada Lava Jato Eleitoral, um desdobramento da operação em São Paulo responsável por investigar crimes eleitorais, como o caixa dois, associados a outros crimes, como corrupção e lavagem de dinheiro.
De acordo com a Promotoria, Alckmin recebeu R$ 2 milhões em espécie da Odebrecht na campanha ao Palácio dos Bandeirantes de 2010 e R$ 9,3 milhões quando disputou a reeleição, em 2014. A defesa do tucano diz que a investigação é infundada e que ele nunca praticou atos de corrupção.
Também investigado pela Lava Jato Eleitoral, Serra é suspeito de receber cerca de R$ 7 milhões em doações via caixa dois em sua campanha de 2014.
Em outra frente, ele foi denunciado sob acusação de lavagem de dinheiro. A investigação aponta que o senador recebeu, entre 2006 e 2014, valores da Odebrecht por meio de offshores. Em nota, a assessoria de Serra disse que a ação causou "estranheza e indignação".