Uma pessoa vai à farmácia, compra um pequeno tubo, abre a tampa e coloca um pouco de saliva no interior. Passados cinco minutos ela fica sabendo se contraiu – ou não – a covid-19 por uma mudança de cor no interior do tubo.
Este poderá ser o cenário em um futuro muito próximo no que diz respeito a um novo teste para a covid-19, que pode ser estendido para outros vírus, graças à criação de um novo biossensor desenvolvido por uma equipe de cientistas do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e de outras instituições. Parte dos resultados desses estudos foi publicada na ACS Applied Materials & Interfaces.
Tendo como principal autora da publicação científica a pesquisadora Elsa Materón, do IFSC, este novo biossensor é constituído por nanopartículas de ouro recobertas com um anticorpo. Ao entrarem em contato com a proteína spike do vírus sars-cov-2, a dispersão com as nanopartículas muda de cor. Isso ocorre mesmo para concentrações baixas do vírus, ou seja, mesmo para os estágios iniciais da doença, quando a carga viral ainda é pequena.
A mudança de cor acontece porque as nanopartículas recobertas com anticorpos se aglomeram em torno do vírus no tubo. Para altas cargas virais, a mudança é facilmente visível, de vermelho para roxo, em apenas cinco minutos. Para pacientes com carga viral baixa, ou seja, que estejam no início da covid-19, a mudança de cor poderá ser quase imperceptível, podendo suscitar dúvidas devido à dificuldade de verificação. Essa dificuldade foi resolvida pelos pesquisadores simplesmente fotografando o tubo com o biossensor usando um telefone celular. As fotos são processadas com um aplicativo específico que permite determinar a carga viral. Tal determinação é feita com uso de inteligência artificial para correlacionar imagens à carga viral.
Para o professor e pesquisador do IFSC, Osvaldo N. Oliveira Jr., que também assina o estudo, “este método é inovador na medida em que permite diagnosticar a covid-19 no início sem usar outros instrumentos, mas apenas um telefone celular. É possível facilmente estender o método para outros vírus, bastando alterar o anticorpo”, pontua o pesquisador.