26 de Abril de 2024
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Bolsonaro venceu descrédito de aliados e mudou a forma de se fazer campanha

Postado em: 06/10/2018

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Rogério Gentile e Rogério Pagnan, FOLHAPRESS

Jair Bolsonaro avisou aos colegas da bancada da bala que disputaria a Presidência assim que iniciou seu sétimo mandato na Câmara, em 2015. A notícia foi recebida com descrédito.

Dilma Rousseff acabara de ser reeleita na disputa mais acirrada da história e Aécio Neves, embora derrotado, obtivera 48% dos votos.

Os colegas não enxergavam espaço para o avanço de um candidato fora da polarização PT-PSDB, ainda mais de um deputado do baixo clero com discurso estridente e ultraconservador.

“Tentei desestimulá-lo”, diz o deputado Alberto Fraga, que o conheceu na Escola de Educação Física do Exército, nos anos 80. Bolsonaro era o “Cavalão”, pelo vigor nas corridas.

O presidenciável não ligou para as advertências de que estava sonhando alto e de que deveria tentar o Senado ou o governo do Rio. “Não tem volta, se tiver 10% [dos votos] está bom demais”, respondeu.

À época, havia tensão no Congresso. A Lava Jato chegava nos políticos e o PP, seu partido, era dos mais ameaçados.

Em 2016, Bolsonaro migrou para o PSC, onde foi recebido como pré-candidato à Presidência. “O direcionamento será para a direita”, discursou.

Nascido em 21 de março de 1955 em Glicério (SP), Jair Messias Bolsonaro começou a trilhar esse caminho na adolescência, quando militares procuravam o guerrilheiro Carlos Lamarca no Vale do Ribeira (SP), onde sua família morava.

Aos 15 anos, ofereceu ajuda aos soldados para indicar os melhores caminhos pela mata. Flávio Bolsonaro diz que esse contato mudou a vida do pai. Dois anos depois, ingressou nas Forças Armadas para servir em uma carreira marcada por alguns atos de bravura e polêmicas.

Chegou a ser preso por 15 dias após escrever um artigo em 1986 na Veja reclamando dos salários. Um ano depois, a revista relatou que ele pretendia explodir bombas para pressionar o comando militar. Bolsonaro refuta a história.

O caso foi arquivado pela Justiça Militar em 1988, mas, diante da informação de que haveria outro conselho militar, decidiu se afastar do Exército para disputar e ganhar a eleição para vereador no Rio.

Em sua trajetória política, caracterizou-se pelo discurso linha-dura contra o crime e em favor do resgate da moralidade, embora tenha no currículo casos de nepotismo, de funcionário fantasma no gabinete e de recebimento de auxílio moradia mesmo tendo imóvel próprio em Brasília.

Se em 1990 devolveu 5.000 cartões de Natal que a Câmara Municipal lhe ofertara para enviar aos eleitores, em 1999 empregava o seu então sogro e a cunhada no gabinete do Congresso. “A Ana Cristina é minha companheira, não somos casados. Portanto, não são meus parentes”, justificou na ocasião.

Ana Cristina é a ex-mulher que, na separação, em 2008, afirmou que ele a ameaçara de morte e que furtara um cofre com joias. “Falei inverdades, estava magoada”, diz hoje.

A contundência nos posicionamentos e a agressividade na argumentação também fazem parte da sua biografia. Já defendeu o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique, a tortura e o fechamento do Congresso. “Daria o golpe no mesmo dia [que ganhasse a Presidência]”, disse em 1999.

Outro rompante ocorreu no impeachment de Dilma, na Câmara, ocasião que os amigos imaginavam como o marco inicial da sua candidatura.

Sua assessoria preparara-lhe um texto no qual exaltaria os valores cívicos e a nação. Na hora H, após ouvir tributos a Lamarca, mudou de ideia.

Parabenizou Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, hoje presidiário, citou Deus e a inocência das crianças e disse que votava pela memória do coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi paulista entre 1970 e 1974, no auge da repressão. “[Era] o pavor de Dilma”, disse.

Aliados afirmam que as declarações beligerantes refletem um temperamento explosivo. Quando provocado, fala o que pensa e um pouco mais.

Para eles, os jornalistas levam tudo ao pé da letra, como na ocasião em que disse a uma deputada que “jamais ia estuprar você porque não merece”. Ou quando afirmou que não empregaria mulher com o mesmo salário de homem.

A fim de tentar prepará-lo para a campanha, em 2016, o PSC contratou Olga Curado, consultora de imagem. Olga, que tem Lula e Haddad em seu portfólio, utiliza princípios da arte marcial Aikido e do jornalismo. Entre os seus ensinamentos estão o de deixar as mãos sobre a mesa para mostrar firmeza e não desviar do olhar do interlocutor.

Dicas que seguiu na entrevista ao Jornal Nacional. Semanas antes, estivera na GloboNews e lembrara o apoio de Roberto Marinho ao regime militar. Ao fim do programa, a jornalista Miriam Leitão reproduziu uma nota, ditada no ponto eletrônico, com a posição da Globo sobre a ditadura. Sem a fluência habitual, a fala gerou constrangimento.

Fora do estúdio, o deputado ironizou: “Estivesse vivo, Roberto Marinho demitiria todo mundo…”

Bolsonaro tem cinco filhos, dos quais três políticos (Flávio, Carlos e Eduardo). Há também Renan e Laura, do segundo e terceiro relacionamentos. Mais do que pai, é o comandante. Seu pedido tem sempre o peso de uma ordem.

Um dos principais conselheiros é Gustavo Bebianno, presidente interino do PSL, partido a que se filiou em 2018 após desavenças com o PSC. Quando fala do capitão, ele chega a se emocionar. Faixa preta de jiu-jitsu, trata-o como alguém que tem uma “missão”.

A influência que exerce incomoda muitos no entorno do candidato, que atuam para reduzir seu protagonismo, sobretudo desde o atentado a faca em 6 de setembro.

No dia anterior à facada, o deputado Major Olímpio recebeu uma ameaça à vida do presidenciável. “Dizia que seria morto em Minas”, conta.

Olímpio mostrou a mensagem para Bolsonaro. O candidato considera ter sido vítima de um conluio, apesar de a PF concluir que o agressor agiu sozinho. “Não temos dúvida de que houve indução ao crime”, diz Olímpio.

Outra aliada é a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma. Sondada para ser vice, esteve perto de aceitar, mas enfrentou resistência familiar. Declinou após um auxiliar do candidato pedir garantias de que não iria “estourar a campanha”, renunciando às vésperas da eleição.

O assessor explicou que o deputado estava sofrendo ameaças e queria saber se ela ficaria na chapa caso um parente fosse sequestrado para tentar forçá-la a desistir. “Só quem não presta daria uma garantia”, respondeu Janaína.

A advogada diz que, após o atentado, entendeu o episódio. “O momento é grave, e Bolsonaro é o único consciente do grau em que o crime organizado de massa e de poder chegou no país”, afirma.

Sem Janaína, a opção foi o general Hamilton Mourão, que gerou problemas ao criticar o 13º salário, entre outros direitos. “Vice não apita nada, mas geralmente atrapalha muito”, disse Bolsonaro na TV.

Na economia, seu principal interlocutor é o economista Paulo Guedes, um dos fundadores do Banco Pactual e doutor pela Universidade de Chicago (EUA), referência do pensamento econômico liberal.

Eles se conheceram em novembro de 2017, num encontro intermediado pela advogada Beatriz Kiciz, autora de um pedido de impeachment do presidente do STF, Dias Toffoli. Guedes tornou-se o seu fiador junto ao mercado.

Pesquisa da XP Investimentos mostrou em agosto de 2017 que 88% dos investidores consultados apostavam numa queda da Bolsa caso Bolsonaro vencesse. 89% previam a desvalorização do câmbio.

Após a parceria com Guedes, tudo mudou: em julho, 62% disseram que o impacto de uma vitória seria positivo na Bolsa e só 28% disseram que o real se desvalorizaria.

Apesar disso, não se pode dizer que o mercado confie integralmente no candidato.
À reportagem, Alberto Fernandes, vice-presidente executivo do Itaú BBA, chamou de “mitológica” a “suposta” preferência do setor pelo deputado.

“Quando se manifesta sobre economia, expõe divergências com seu guru”, escreveu Zeina Latif, da XP Investimentos. “Será mesmo que Guedes será o ministro da Fazenda?”

De fato, suas posições não são idênticas. Guedes, por exemplo, defende privatizar todas as estatais. O deputado diz que não cogita vender as empresas de geração de energia, que chama de “estratégicas”. “Não há país no mundo que tenha zero estatais”, disse.

Em seu plano de governo, prometeu dar independência ao Banco Central, reduzir alíquotas de importação e criar um programa de renda mínima para todas as famílias.

Define seu projeto como “liberal democrata”. No Congresso, porém, foi contra o Plano Real e a reforma administrativa de FHC, assim como disse “não” à quebra do monopólio das telecomunicações.

“Todo mundo tem o direito de mudar de opinião”, diz Fabio Wajngarten, fundador da empresa Controle da Concorrência e aliado de primeira hora de Bolsonaro. “Ele é muito aberto a novos ensinamentos e tem a honestidade, a sinceridade e a humildade como alicerces.”

Em agosto, o empresário promoveu um café com expoentes do PIB. Na reunião, houve ofertas de doações. A resposta agradou. “Aceito apenas a sola de sapatos de cada um”, disse o presidenciável, o primeiro com viabilidade eleitoral no país a alicerçar sua campanha nas redes sociais.

Hospitalizado em boa parte da disputa e com pouquíssimo tempo no horário eleitoral, o nanico da TV tornou-se, com a ajuda do celular e de um exército de voluntários, um gigante na internet.

Seu desempenho surpreendente nas pesquisas mudou a forma com a qual lida com o risco de derrota. Lá atrás, quando amigos, pessimistas, perguntavam o que faria se perdesse, brincava que iria “tomar água de coco na praia”.

Agora, repete que as ruas estão com ele e que, diante de uma possível fraude, não aceitará “passivamente” uma vitória “do outro lado”. A sua aposta é a de que vence no primeiro turno.

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