Por Vanderlei Testa
Sempre que temos em mãos uma foto de algum momento do passado, relembramos as pessoas ou a imagem do local, onde estivemos um dia presente. Também acontece ao ouvirmos de amigos recordações da infância um verdadeiro raio de energia em nossa mente nas lembranças da vida.
Tenho visto relíquias de imagens antigas de Sorocaba e fico pensando nos meus pais, irmãos e amigos que tiveram alguma participação em tantos lugares sentimentais à cidade.
A Fábrica Santa Maria no bairro Além Ponte é uma delas. A época áurea dessa indústria têxtil contou com as mãos dos milhares de tecelões que produziam tecidos 24 horas por dia em suas máquinas sob o gerenciamento de Paschoal Pólice. Vi durante anos a minha mãe e tias indo trabalhar na fábrica da família Gaspariam.
O largo da antiga Igreja do Bom Jesus, em meio a uma área desabitada, com transformações em ruas hoje conhecidas, como a Rui Barbosa, Newton Prado, Cel. Nogueira Padilha, transmitem recordações das feiras, cebolas nas calçadas, carroças e entregadores de leite nas casas.
As gerações dos jovens daquelas imagens dos anos 30 e 40 talvez já não estejam aqui para reviverem o passado, mas seus descendentes vivos podem relembrar com saudade o que seus pais viveram.
Os amigos Rose e Marcos Neves são testemunhas dessa lembrança nos dias atuais. E na volta ao passado, encontrei uma foto esta semana que antecede o Dia dos Pais em uma confraternização de família com a presença dos irmãos Sergio Coelho de Oliveira, Maria das Graças (Góia), Rita de Cássia (Ritinha do basquete da seleção), Maria Aparecida (Cidinha) e Paulo Coelho de Oliveira, pai da Ana Paula, uma das primeiras amigas colaboradoras onde trabalho desde 1991.
Infelizmente os irmãos César, Gui e o Ruizito já foram “para o andar superior” viver na eternidade com seus pais Ana Rita e Rui Coelho de Oliveira.
Ao olhar a imagem desses irmãos voltei à minha infância no mesmo instante. Éramos vizinhos de casa geminada. Eles no número 107 e minha família na casa111 da rua Santa Maria. Cada um dos irmãos Coelho me fez reviver neste agosto de 2019, uma história de vida em que passei brincando, estudando e crescendo com eles.
O que me faz escrever este artigo com foco nessa imagem da foto da família Coelho de Oliveira, é a presença da mãe Ana Rita e do pai Rui Coelho e seus filhos numa integração até emocionante, em relembrar depois de décadas.
É como se fosse hoje, os fatos ocorridos nessa convivência de vizinhança, unidos desde o sentar nas cadeiras colocadas na calçada no anoitecer para as conversas dos adultos e brincadeiras das crianças.
Quando eu chegava perto das animadas prosas dos meus pais com a Ana Rita e Rui, recordo que vinha a advertência: “tem gente descalça que não pode ouvir”. Sem saber do que se tratava, apenas ouvia.
Hoje dou risada pela minha inocência daquela época, pois a gravidez da minha mãe era tratada como “a cegonha está chegando”. E nunca vi ave nenhuma aparecer por lá na minha casa para trazer o bebê. Que horas a cegonha trouxe o meu irmãozinho, perguntei? Tinha nove anos quando isso aconteceu.
E de repente, um dia 22 de junho ouvi um choro de criança no quarto ao lado do meu e fiquei sabendo que ganhei mais um irmão. E a tal da cegonha deixou o bebê e foi embora. Enquanto isso a parteira Maria finalizava o parto. E fui contar aos amigos na rua da histórica fábrica Santa Mariaque um pássaro chamado cegonha, vindo do céu, me deu um irmão.
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário escreve aos sábados no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta e no www.jornalipanema.com.br/opinões