João Pedro Pitombo e Géssica Brandino para Folhapress
Quatro anos depois de enfrentar o seu pior desempenho em uma eleição municipal neste século, o PT projeta voltar a crescer nas urnas após o retorno do presidente Lula ao Planalto. Para alcançar o seu objetivo, o partido robusteceu sua base de candidatos a prefeito e vereador, atraindo para seus quadros candidatos que concorreram por outras legendas nas últimas duas eleições, incluindo políticos de siglas do centrão. Levantamento da reportagem aponta que 19% dos candidatos a prefeito do PT nas eleições deste ano se filiaram ao partido recentemente e não têm trajetória política dentro da sigla.
Ao todo, o partido lançou 1.392 candidatos a prefeito, dos quais ao menos 263 estavam filiados a outros partidos na eleição anterior. Dentre eles estão dois candidatos nas capitais: Evandro Leitão, em Fortaleza, oriundo do PDT, e Marcelo Ramos, em Manaus, que estava filiado ao PSD. A maioria dos novos filiados que disputam prefeituras veio do PP -39, ao todo. O partido é um dos principais integrantes do centrão no Congresso e fez parte da chapa de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. O PDT de Ciro Gomes vem na sequência, sendo partido de origem de 34 dos atuais candidatos a prefeito petistas, seguido de PSD com 26 e MDB com 21. Outros 21 faziam parte do PL em 2020, partido ao qual o ex-presidente Bolsonaro se filiou em 2021.
"A maior parte é de prefeitos do Nordeste, onde esses partidos marcharam com Lula. São pessoas que têm uma relação politica conosco", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador do Grupo de Tática Eleitoral do PT. O avanço das novas filiações ao PT foi puxado pelos estados de Piauí, Bahia e Ceará, todos comandados por governadores petistas. Mas também houve novas filiações de candidatos a prefeito em outros 21 estados, com destaque para Minas Gerais e Paraná. No Piauí, estado governado pelo petista Rafael Fonteles, o partido concorre com 135 candidatos a prefeito, dos quais 47 disputaram a eleição anterior por outros partidos.
A maioria dos candidatos -nove, ao todo- eram filiados em 2020 ao PP, partido liderado no estado pelo senador Ciro Nogueira e que nos últimos anos se tornou o principal adversário dos petistas. Ciro Nogueira foi aliado do então governador Wellington Dias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social, mas ambos romperam em 2020 após o senador se aproximar de Bolsonaro --no ano seguinte, assumiria a Casa Civil, se tornando um dos homens fortes do então presidente. Na Bahia, são 156 candidatos a prefeito do PT, sendo 38 deles recém-filiados ao partido. Nove deles vieram do PP, que rompeu com o PT nas eleições de 2022 para apoiar o então candidato a governador ACM Neto (União Brasil), derrotado nas urnas por Jerônimo Rodrigues (PT).
Dentre os novos filiados estão ex-aliados de Bolsonaro, caso do candidato a prefeito de Barreiras, Carlos Tito (PT). Ele apoiou o ex-presidente quando foi deputado federal pelo Avante. Não conseguiu se reeleger em 2022 e migrou para o PT para tentar ser prefeito da maior cidade do oeste baiano. Em Lauro de Freitas, na Grande Salvador, o PT concorre com Antônio Rosalvo, que era filiado ao PP. Em 2015, ele chegou a participar de protestos pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Nas cidades de Terra Nova, Planaltino, Presidente Jânio Quadros e Rio do Pires, os candidatos petistas eram filiados ao PL. Na cidade de Itacaré, o candidato Edson Mendes (PT), conhecido como Nego de Saronga, disputou a prefeitura em 2020 pelo DEM, atual União Brasil, principal opositor ao PT no estado. Presidente do PT na Bahia, Éden Valadares afirma que o partido estabeleceu critérios objetivos para filiar prefeitos: deveriam ser nomes que apoiaram Lula e Jerônimo Rodrigues em 2022, que tivessem o aval do diretório municipal e que se comprometessem a apoiar candidatos a deputado do PT em 2026.
Não houve critérios, contudo, para filiar candidatos que não tinham mandatos ou que eram vereadores em suas cidades. Nesses casos, as filiações foram sacramentadas em âmbito municipal. Com 32 prefeitos eleitos na Bahia em 2020, o PT deve crescer nesta eleição: "Não há um número cabalístico, mas a tendência é aumentar bem o número de prefeitos eleitos, quem sabe até dobrar".
No Ceará, o PT atraiu quadros do PDT -os dois partidos eram aliados no estado, mas romperam em 2022. O racha se aprofundou ao longo de 2023 com a desavença entre os irmãos Ciro e Cid Gomes, que representava a ala governista do PDT e deixou o partido neste ano. A maioria dos prefeituráveis do PDT migrou para o PSB, novo partido de Cid, mas 13 deles foram para o PT, incluindo o deputado estadual Evandro Leitão, candidato a prefeito na capital.
Em entrevista à Folha de S. Paulo na última semana, Evandro minimizou a mudança: "Isso aí é indiferente. O eleitor não vai te avaliar porque você entrou agora ou se entrou há seis meses, um ano, cinco, dez, num partido A, B ou C. O importante são as suas bandeiras, as suas lutas, a sua história de vida", disse. Nas vésperas das eleições, o PT tem redobrado o trabalho para impulsionar seus candidatos, sobretudo nas cidades grandes e médias.
Há quatro anos, o PT saiu das urnas com 183 prefeitos, pior desempenho desde 1996, mas cresceu por meio de migrações partidárias após a eleição de Lula, chegando 286 prefeitos. A legenda não definiu uma meta, mas quer "um resultado bem melhor" comparado a 2020, afirma Humberto Costa. Ao todo, o PT lançou 29.912 candidatos a prefeito, vice e vereador nessas eleições, das quais 4.594 disputaram as eleições de 2020 em outras legendas. Os que disputaram apenas o pleito de 2022 e migraram para a sigla foram 64, totalizando 4.658 nos dois anos. No cômputo geral, a maioria dos novos integrantes veio do PSD (470), PP (468) e PDT (458).