A Prefeitura abriu procedimento para apurar a conduta de médicos que atuavam nas UPHs (unidades pré-hospitalares) de Sorocaba e são suspeitos de fazerem operações “quebra-mão”, prática apelidada pelos próprios funcionários da saúde para exemplificar a conduta de médicos que intencionalmente prestam atendimento mais moroso à população, agravando o caos da saúde pública em Sorocaba. A prática das chamadas quebradas de mão foi denunciada pelo vereador Péricles Régis (MDB), que durante ação de fiscalização na UPH da Zona Norte, recebeu denúncias de funcionários e até médicos que não concordavam com a postura de seus colegas.
Em resposta ao requerimento nº 50/2019 enviado à Secretaria de Saúde pelo vereador, o Executivo informou que solicitou à direção da UPH Norte, onde a situação de quebra-mão seria rotineira, um relatório dos últimos seis meses com a relação de produtividade de todos os médicos que atuavam nos plantões. A Prefeitura informa que se houve queda da produtividade entre os médicos, as sanções poderão ir de advertência à demissão do profissional. Em resposta ao requerimento o Executivo assume que nenhum médico foi exonerado do cargo por este motivo.
Péricles também citou no documento o fato de enfermeiros e auxiliares terem relatado a constante falta de médicos nos quadros mínimos exigidos. O governo assume ter dificuldades em lidar com a questão, informando que sempre que um médico falta, o coordenador da unidade busca auxilio junto aos demais médicos concursados para realizar as coberturas, no entanto devido ao fato desses profissionais darem plantões em diversas localidades, a disponibilidade de cobertura fica reduzida. Além disso, a Prefeitura alega que existe dificuldade para conseguir cobertura de férias, licença prêmio, abonada e atestados médicos, ficando por vezes um número de profissionais abaixo do estipulado pelo padrão de lotação
Apesar dos problemas estarem sendo investigados de forma retroativa, a Secretaria de Saúde informa que acredita que eles não se repetirão a partir de agora, já que as UPHs estão sendo administradas por meio de gestão compartilhada feita pelo Instituto Diretrizes e Banco de Olhos de Sorocaba, que pelo convênio são responsáveis por garantir o preenchimento total do quadro de médicos durante os plantões. Na resposta do requerimento, a Prefeitura alega ainda que além das faltas esporádicas, o quadro da UPH Norte tinha déficit de três médicos e a UPH Zona Oeste, dois médicos.
Péricles ressalta a importância da investigação e punição dos maus profissionais: “Com a reestruturação da gestão da saúde, estes médicos que estavam nas UPHs foram trabalhar nas unidades básicas de saúde e certamente continuarão a prestar esse atendimento relapso à população. Recebemos informação dos próprios funcionários da saúde de que médicos fechavam as portas dos consultórios para dormir ou ficarem no celular enquanto a população amargava longas esperas no saguão. Isso vai contra até o juramento que esses médicos fizeram ao sair da faculdade. Estes profissionais precisam ser extirpados”, afirma.
Sobre os ‘quebra-mão’
O vereador fez uma fiscalização em fevereiro após receber telefonemas de munícipes que reclamavam da demora por atendimento na UPH Norte. No local, em conversa com os servidores, foi informado que alguns plantões reúnem médicos que fazem poucos atendimentos de forma proposital, o que gera acúmulo de fichas à espera de atendimento na portaria. Segundo os funcionários, alguns médicos combinam de apenas um deles ficar atendendo.
Os relatos de tais práticas foram denunciados e confirmados por auxiliares de enfermagem, enfermeiros e até por um profissional da medicina, que revelou já ter formalizado queixa junto ao Conselho Regional de Medicina, sem ter obtido qualquer resultado. Péricles também teve acesso a relatórios de atendimento por profissional onde verificou que num mesmo plantão, enquanto um médico chegou a atender 40 pacientes, outro atendeu apenas uma ficha durante todo o seu plantão.
Além dos questionamentos enviados ao Executivo na forma de requerimento, Péricles fez uma representação junto à Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde e encaminhou a denúncias à Corregedoria do município e ao Conselho Regional de Medicina.