Nicola Pamplona, FOLHAPRESS
Mesmo com recorde de produção, o elevado consumo fez o preço do etanol hidratado disparar nas bombas em 2019. Foi o combustível automotivo com maior alta no ano e a expectativa é que a pressão se mantenha no início de 2020.
Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o preço médio do etanol nos postos brasileiros subiu 11,5% no ano passado. Na última semana de 2019, o litro do combustível custava, em média, R$ 3,151.
O diesel foi o segundo combustível com maior alta no ano passado, de 8,7%, motivada por reajustes promovidos pela Petrobras no preço de refinaria –até 15 de dezembro, o preço médio dos produtores subiu 16,3%– e pela alta do biodiesel.
O preço médio do diesel nas bombas fechou o ano passado em R$ 3,751 por litro. Já o preço da gasolina subiu 4,8% entre a última semana de 2018 e a última de 2019, quando custou, em média R$ 4,555 por litro.
A alta no preço do etanol foi a maior desde 2015, ano em que o setor de combustíveis passou por uma espécie de "tarifaço", provocado pela elevação de impostos sobre gasolina e diesel e pela autorização para que a Petrobras recuperasse perdas com o represamento de preços no ano anterior.
Naquele ano, o preço da gasolina subiu 19,8%, abrindo espaço para alta de 30,2% no preço do etanol hidratado -quanto mais cara a gasolina, mais margem as usinas têm para elevar o preço do etanol. O preço do diesel aumentou 14,5% em 2015.
Em relatório, a consultoria INTL-FC Stone elenca entre os fatores de pressão no preço do etanol hidratado em 2019 a elevada demanda, reajustes recentes no preço da gasolina, a tendência mais acelerada de queda nos estoques e importações mais brandas durante a entressafra.
Segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), o consumo de etanol no país bateu 18,4 bilhões de litros até o fim de outubro e, se mantiver o ritmo, vai superar o recorde atingido no ano anterior, de 19,4 bilhões de litros.
Assim, segundo especialistas, mesmo com expectativa de recorde em 2019, a produção tem sido insuficiente para conter a escalada de preços. Nas usinas de São Paulo, o valor de venda do etanol hidratado ultrapassou, em dezembro, os R$ 2 por litro pela primeira vez na história.
"No médio/longo prazo, como há muito comentado, é preciso que o consumo se arrefeça para evitar aperto expressivo no balanço de oferta e demanda no Centro-Sul", analisa a INTL-FC Stone. "Neste cenário, é possível que a tendência de alta nos preços PVU [posto-veículo-usina] e nas bombas persista."
A opção pelo etanol traz vantagens para o consumidor quando seu preço equivale a 70% do preço da gasolina. Segundo dados da ANP, isso ocorria em apenas quatro estados brasileiros na última semana de dezembro -Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Minas Gerais.
A maior margem foi verificada no Mato Grosso: 61,9%. Em São Paulo, maior produtor e consumidor, o preço médio do etanol hidratado equivalia a 68,6% do preço da gasolina. Em outros dois -Sergipe e Paraíba- a diferença ficou na casa dos 70%.
A redução da vantagem econômica é apontada por especialistas como um dos fatores que pode segurar a pressão altista, já que os consumidores podem passar a optar pela gasolina.
No caso do diesel, não há opção de troca de combustível. O aumento no preço do produto gerou insatisfação em caminhoneiros, que repetiram durante o ano passado ameaças de greve como a que paralisou o Brasil por duas semanas em maio de 2018.
No início de 2019, a Petrobras chegou a desistir de aumentar o preço do produto após telefonema do presidente Jair Bolsonaro ao presidente da estatal, Roberto Castello Branco. O recuo levou a empresa a perder R$ 32 bilhões em valor de mercado no dia seguinte.
Castello Branco defendeu em diversas ocasiões a liberdade para praticar preços de acordo com a política comercial da empresa, que é baseada em um conceito conhecido como paridade de importação –que inclui as cotações internacionais, a taxa de câmbio e custos para importar os produtos.
Apesar do fim do subsídio ao preço do GLP (gás liquefeito de petróleo, o gás de cozinha), o preço do botijão de 13 quilos, mais usado por residências, ficou praticamente estável em 2019, fechando o ano, em média, a R$ 69,17.