Samy Dana, da Jovem Pan News
Uma grande discussão sobre petróleo envolve o pico de consumo. Isto é, quando a demanda por petróleo no mundo vai atingir um ponto máximo para depois começar a cair para sempre. Até 2020, a previsão era de um processo lento. Mesmo com os carros elétricos, placas solares e o combate às mudanças no clima promovido por governos, poucos analistas previam uma mudança rápida, mas isto foi antes da pandemia de Covid-19. Com as medidas adotadas pelos governos para conter a doença, aviões ficaram no chão e os trabalhadores ficaram em casa. Em vez de ir ao cinema, as pessoas se divertiram com plataformas de streaming como a Netflix. E o mundo, no pior da pandemia, em abril, consumiu menos 29 milhões de barris por dia.
Foi o que levou uma das gigantes do setor petroleiro, a britânica BP, a fazer em setembro uma previsão que, se confirmada, marca um ponto histórico. Para a empresa, o pico já aconteceu. Foi em 2019. A Covid-19 acelerou tendências de longo prazo que já estavam em curso, e algumas mudanças serão permanentes. O home office, o trabalho remoto, veio para ficar, assim como as reuniões online no lugar de muitas viagens de negócios, graças a aplicativos como o Zoom. E na visão da petroleira britânica, se as novas tecnologias forem acompanhadas de leis mais duras contra a poluição nos países, a mudança ainda poderá ser mais rápida.
O curioso é que, apesar da previsão ter sido feita por uma das empresas mais importantes do setor, chamou pouca atenção. A Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), por exemplo, mantém a previsão de que o pico ocorrerá em 2040. O mesmo entre os grandes países produtores, como Noruega e outros. O preço do barril de petróleo voltou a subir em novembro no mercado internacional, com os investidores apostando que, anunciadas várias vacinas contra o coronavírus, o mundo em breve voltará ao normal, mas há duas exceções importantes. A Agência Internacional de Energia (AIE) vê a produção de petróleo se estabilizando, isto é, não sobe, mas também não cai muito. Já o presidente do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, está mais alinhado com a BP. A economia que sai de 2020, segundo ele, não é mais a mesma, algo que 2021 deve servir para confirmar.