Ricardo Della Coletta, FOLHAPRESS
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu nesta terça-feira (1º) a realização da Copa América no Brasil e comparou o torneio a outras competições esportivas que ocorrem no país.
Ele ainda acusou a rede Globo de estar por trás das reações contra a organização do campeonato no Brasil, por conta de direitos de transmissão.
"No que depender de mim, todos os ministros -inclusive o da Saúde- já está acertado, haverá [Copa América no Brasil]. Protocolo é o mesmo da Libertadores, da Sul-Americana, é a mesma coisa", disse Bolsonaro, ao sair do Palácio da Alvorada.
A fala do mandatário foi transmitida por um site bolsonarista.
"Fui instado no dia de ontem pela CBF [Confederação Brasileira de Futebol], conversei com todos os ministros interessados; da nossa parte positivo. O que está havendo aqui? O movimento da Globo contrário, porque os direitos de transmissão são do SBT", acrescentou.
Em seguida, Bolsonaro argumentou que outros torneios de futebol estão ocorrendo no Brasil.
"Está havendo jogo da Libertadores. Não está havendo também [jogos] da Sul Americana? Também não começa agora na sexta-feira (4) as eliminatórias da Copa do Mundo? Ninguém fala nada, problema nenhum. Por que quando se fala em Copa América querem questionar, que causa aglomeração, ajuda a espalhar o vírus etc? É pressão dessa imprensa chamada Globo aí, nada mais além disso".
O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que é "inacreditável" que o governo federal queira sediar a Copa América no Brasil no momento de agravamento da pandemia do coronavírus.
"Seria transformar essa copa em campeonato da morte. Já que nós não podemos fazer um apelo ao presidente, ao Ministério da Saúde e à CBF, que tem se transformado em negacionista e irresponsável, quero me dirigir à seleção brasileira, aos seus jogadores, aos treinadores, ao Neymar", disse.
"Neymar, não concorde com a realização dessa Copa América no Brasil. Não é esse o campeonato que nos precisamos disputar. Precisamos disputar o campeonato da vacinação, é esse que precisamos disputar e ganhar. (...)Não permita entrar em campo enquanto os seus parentes, conhecidos, continuam a morrer", continuou Renan.
Na segunda (31), a Conmebol informou que a Copa América ocorreria no Brasil, após a desistência tanto da Colômbia como da Argentina. Os colombianos abriram mão do campeonato por conta dos protestos e da violência registrados nas ruas do país, enquanto que os argentinos alegaram o recrudescimento da pandemia da Covid.
O governo Bolsonaro foi criticado por concordar com a vinda da competição para o país, onde o coronavírus já deixou mais de 460 mil mortos.
Na noite de segunda, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) afirmou que a realização da Copa América no Brasil ainda não está definida, mas disse que o evento, caso ocorra no país, seguirá protocolos sanitários como a vacinação de atletas e comitivas.
"Não tem nada certo. Estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível atender", declarou o ministro.
O ministro detalhou ainda condições sanitárias que devem ser estabelecidas caso o torneio de fato ocorra no Brasil, entre elas a de que atletas e comitivas estejam vacinados.
"Esse evento, caso se realize, não terá público. No momento são 10 times. No máximo, já foi acordado nessa reunião com a nossa presença e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), são dez times, com dois grupos; 65 pessoas em cada delegação. Todos vacinados. [É] imposição que nós tratamos com a CBF. Até agora não há documento firmado, apenas essas tratativas", afirmou.
Caberá à CBF, segundo o governo, negociar diretamente com os estados e municípios para escolher as sedes do torneio.
Pela tabela original, os jogos serão realizados de 13 de junho a 10 de julho. Neste calendário, é inviável um atleta receber, por exemplo, duas doses da Coronavac, no intervalo recomendado de 28 dias entre cada aplicação, antes da primeira rodada.
O governo não explicou se as datas das partidas poderão ser alteradas ou se aceitará atletas que receberam apenas uma dose da vacina, o que não garantiria a eficácia do imunizante.
Auxiliares do governo Bolsonaro relataram surpresa com o anúncio de que o torneio seria realizado no Brasil. No Ministério da Saúde, interlocutores disseram reservadamente que souberam do tema apenas na manhã desta segunda.
Alguns governadores de estados cotados para receber partidas -como Pernambuco e Rio Grande do Norte– já afirmaram que não têm condições sanitárias para isso. Outros disseram que não foram procurados pelo governo.