Julio Wiziack, da Folhapress
Estudo da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), que desenvolve projetos de inovação para o governo, mostra que o país precisa resolver ao menos dois problemas para aproveitar as vantagens que a telefonia 5G oferecerá ao setor produtivo.
O país está carente de mão de obra qualificada e precisa ajustar a tributação à realidade dos negócios em tecnologia.
O 5G permitirá velocidades de conexão à internet sem fio dez vezes superiores às do 4G, abrindo caminho para o que se chama de internet das coisas, pivô do projeto do governo conhecido como "Indústria 4.0".
Para o presidente da ABDI, Igor Calvet, o país precisará de mão de obra especializada para desenvolver plataformas digitais e operar com dados em massa se quiser surfar na onda dos benefícios advindos da tecnologia de quinta geração.
No entanto, a grade curricular ainda está concentrada em profissões tradicionais.
O resultado disso, segundo pesquisa recente da agência, é um déficit de 38 mil profissionais por ano na área de tecnologia em funções relacionadas a automação, robótica, tecnologia da informação, big data, programação, entre outras, pilares da economia digitalizada.
"As escolas formam 32 mil profissionais nesse segmento por ano, mas o mercado tem mais de 70 mil vagas", diz Calvet. Por isso, a ABDI, em parceria com entidades do Sistema S e com os ministérios da Economia e da Educação, está trabalhando para modificar o catálogo nacional de cursos técnicos.
"Hoje, na ABDI, mapeamos as competências do setor privado. Tentamos, pela primeira vez, promover um encontro entre a oferta e a demanda."
Se avançar, será a primeira vez que o setor produtivo conseguirá influenciar na definição da grade curricular, que terá de ser aprovada pelo CNE (Conselho Nacional de Educação).
A senadora Kátia Abreu (PDT-TO), que presidirá a recém-criada Frente Parlamentar do Varejo, Ecommerce e Franchising, é uma dos congressistas que encamparam a causa. "Não podemos desperdiçar essa oportunidade que a tecnologia 5G abre para o país", disse. "Com a internet das coisas, haverá uma revolução na produtividade. No campo, era assim. Queremos levar essa inovação para o varejo."
A economia do comércio (em lojas físicas e virtuais) movimenta 3% do PIB. Para a senadora, com as novas possibilidades tecnológicas, será possível dobrar essa participação.
No entanto, ela considera a falta de mão de obra especializada uma das barreiras a serem vencidas.
"Tem gente deixando as profissões tradicionais para se dedicar à programação. Precisa resolver esse gargalo."
A senadora foi escolhida pelo setor para liderar o varejo na esfera legislativa e replicar o que ela fez com o agronegócio.
Segundo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a frente deverá entrar em atividade no início de 2020 e já tem a adesão 35 senadores.
O estímulo à qualificação profissional será um dos cinco projetos a serem defendidos pela frente no Congresso.
Mas nada disso, diz a senadora, terá sentido se o Ministério da Economia não resolver outro problema: a isenção de tributos para os chips 5G.
Hoje, diversas máquinas de venda automática operam com chips de celular. Meios de pagamento também acessam contas bancárias via internet (por chips) das operadoras.
Com o 5G, mais máquinas poderão desempenhar diversas outras funções e até "conversar" entre si.
Pela legislação vigente, a União cobra de cada chip de celular R$ 14,29 por ano entre tributos e contribuições. Na telefonia celular (voz e dados) os serviços geram receita considerável por chip.
Na comunicação entre máquinas, essa receita média por chip é estimada em R$ 12 por ano pelas operadoras. Ou seja: mantida essa estrutura tributária, a internet das coisas se torna inviável e, sem ela, o país avançará lentamente na era da indústria conectada.