Rogério Pagnan, FOLHAPRESS
Um grupo de policiais militares realizou na manhã desta sexta-feira (28) protesto em frente à Associação de Cabos e Soldados de São Paulo, na Barra Funda (zona oste), para cobrar explicações sobre o patrimônio milionário de diretores da entidade.
A manifestação foi organizada por uma ONG que defende interesses de agentes de segurança (Ondhas) após publicação de reportagem pela Folha de S.Paulo que revelou o patrimônio milionário de cinco dirigentes da associação.
“Havia várias acusações dizendo que esse pessoal estava rico, estava bem de vida, mas não tínhamos como provar. Depois que a matéria da Folha de S.Paulo foi veiculada, isso causou um grande desconforto em todos nós”, disse o presidente da ONG, Reinaldo Pereira Zacharias, 44, soldado reformado.
“O que nós queremos? Que a instituição dê explicações para nós. Nós estamos preocupados com o que está acontecendo como nosso dinheiro. Não precisamos de lisura”, afirmou ele.
Conforme reportagem da Folha de S.Paulo, cinco diretores da entidade, cujas aposentadorias líquidas variam de R$ 2.436,10 a R$ 5.678,62, possuem juntos um patrimônio estimado em R$ 11 milhões. Individualmente, os bens estimados vão de R$ 1,5 milhão a R$ 2,9 milhões.
São bens como sobrado na praia, apartamento de alto padrão, chácaras e veículos de luxo, inacessíveis à maioria dos cabos e soldados paulistas, que enfrentam dificuldades financeiras após anos sem reposição salarial.
Um dos cinco policiais do grupo é o presidente da associação desde 1995, Wilson de Oliveira Morais, 65, que tem um patrimônio estimado em R$ 2 milhões e aposentadoria líquida de R$ 2.493,60, segundo portal de transparência do governo paulista.
Em entrevista, o presidente disse que o patrimônio dele e dos colegas foi construído com trabalho e também com rendas extras vindas de “bicos” e que praticamente todos os PMs de São Paulo tem carros novos. “Hoje todos os policiais fazem bico. Mesmo o salário estando baixo, você chega no pátio de um batalhão e vê os policiais com carro novo.”
O próprio presidente da ONG que protestou em frente à associação disse que a realidade não é essa. Ele mesmo, que tem uma aposentadoria líquida de R$ 1.253,67, vem enfrentando uma serie de dificuldades.
“A minha casa está com a luz cortada, a água acabou de religar, não tem gás. Tive que vir para cá de carona. Todo esse pessoal aqui está ferrado para não dizer outra coisa”, disse o Zacharias.
A Associação de Cabos e Soldados é uma entidade sem fins lucrativos e por isso seus dirigentes não podem receber salários. Criada nos anos 1950 com objetivo de defender os interesses da categoria, tem atualmente cerca de 60 mil sócios que pagam mensalidade de R$ 66,92 -ou 4% do salário-base de um soldado.
O orçamento anual da associação é de cerca de R$ 50 milhões e o patrimônio da entidade supera R$ 150 milhões. Ligada à Polícia Militar de São Paulo, ela tem como presidente de honra o comandante-geral da corporação.
“Nós também queremos uma explicação do comandante-geral, um posicionamento, o que vai fazer em relação a essa matéria que saiu, essas informações que chegaram até nós. Se ela vai tomar um posicionamento ou não, porque, afinal, ele é o presidente de honra da instituição”, disse Zacharias.
De acordo com os organizadores, se não houver um posicionamento do comandando da PM ou explicações da associação de cabos e soldados, eles devem organizar um proteste em frente ao Ministério Público cobrando previdências.
Participaram da manifestação de ontem ao menos 20 pessoas. “Pela gravide do problema, deveria haver milhares de pessoas aqui [na manifestação], mas o policial está escravizado, ou está no trabalho ou está no bico.”
Procurado, o comandante-geral, Marcelo Viera Salles, ainda não se manifestou.