Igor Gielow, FOLHAPRESS
Apesar da suspensão de um dia anunciada da vacinação contra Covid-19 por falta de imunizante na cidade de São Paulo, o governo João Doria (PSDB) mantém por ora a decisão de distribuir por todo o estado as novas doses que chegarão nesta terça (22).
Um avião trará a Guarulhos 1,5 milhão de doses da vacina da Janssen, de aplicação única. Quase 23% do lote ficará em São Paulo, segundo a divisão do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde.
Havia uma expectativa, entre integrantes da gestão municipal da Saúde na capital, de que a cidade pudesse ficar com todas as doses.
Mas a ordem no Palácio dos Bandeirantes, ao menos até a noite da segunda (22), era de manter a distribuição proporcional. Áreas do interior estão novamente em momento agudo de crise, com lockdowns decretados.
A suspensão da vacinação causou contrariedade no governo paulista, mas a definição era a de buscar uma solução conjunta e não estimular o atrito entre a gestão Doria e a do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que herdou a cadeira do tucano Bruno Covas, morto em maio.
Na avaliação do governo, houve um "soluço" na distribuição na capital provavelmente devido ao fato de que a prefeitura adiantou a vacinação da chamada "xepa" para todos os maiores de 18 anos.
O diagnóstico, contudo, não era conclusivo e carecia de respaldo da área técnica, que não tinha fechado uma avaliação.
O próprio governo estadual havia adiantado, segundo sua área técnica baseado em previsões que incluíam eventuais falhas de fornecimento de insumos da China, em duas ocasiões o calendário da vacinação.
Seja como for, não é de hoje que há estranhamentos entre o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, e membros da administração estadual acerca da condução da crise. Houve divergências sobre reabertura de comércio, feriados prolongados, circulação de ônibus.
Mas o fato de o prefeito agora ser Nunes, que apesar de ser bem-visto no Bandeirantes ainda é visto como uma incógnita na relação com Doria, deverá desestimular críticas públicas de lado a lado. Potenciais aliados para 2022, PSDB e MDB ainda se estudam na prática do governo municipal.
Além de ser a questão mais grave enfrentada por governos neste momento, a vacinação é revestida de forte caráter político em São Paulo.
Doria, que na semana passada confirmou ao jornal Folha de S.Paulo que quer ser candidato a presidente em 2022, assumiu a liderança na busca por imunizantes e no manejo da crise sanitária com critérios científicos já no ano passado.
Com isso, estabeleceu-se como antagonista do presidente Jair Bolsonaro, seu eventual rival no ano que vem, que aposta numa abordagem negacionista da tragédia que já matou mais de 500 mil brasileiros.
O próprio Doria já qualificou a vacina e os esforços na pandemia como ativo eleitoral, e seu entorno trabalha com a aposta na fabricação da chinesa Coronavac e o desenvolvimento da Butanvac, ambas no Instituto Butantan, como um dos pilares de sua eventual campanha ao Planalto.