FOLHAPRESS
A Prefeitura de Mogi Guaçu afastou nesta quinta-feira (23) três funcionárias da creche municipal Maestro Geraldo Vedovello por suspeita de doparem duas alunas com clonazepam, princípio ativo do medicamento Rivotril.
A medicação foi dada para duas meninas de três anos na última sexta-feira (17), mas os pais só levaram o caso à Polícia Civil na quarta (22), após terem em mãos o resultado de exames toxicológicos feitos pelo Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Tainara dos Santos, 25, mãe de uma das meninas, diz que recebeu uma ligação da creche na manhã de sexta dizendo que sua filha havia sido levada à UPA da cidade após “bater a cabeça”.
“Ela estava delirando e não andava. Você colocava ela não chão, e ela não conseguia andar. Minha filha é ativa, não ia ficar assim com uma queda”, diz Tainara.
Um exame de raio-X feito na própria UPA constatou que não havia nenhum indício de trauma na cabeça da aluna.
Como ela não apresentava melhora, foi transferida para a Santa Casa na cidade, de onde só recebeu alta na segunda-feira (20). Foi a Santa Casa que solicitou o exame toxicológico que apontou a presença do clonazepam no sangue da criança.
Situação similar aconteceu com Jéssica Aparecida Lima Pereira, 33, mãe da outra aluna intoxicada. A escola ligou dizendo que a menina estava “passando mal” e que também havia sido levada para a UPA.
Ela também passou por raio-X, que não constatou nenhum sinal de trauma, e pelo exame toxicológico. “Ela só voltou ao normal umas três horas depois”, diz o pai, o pedreiro Renato Alencar Fecundo, 42. Ele diz que vai tirar a filha da creche. “Ela poderia ter morrido.”
Segundo o pediatra Sidney Volk da Silva, do HC da Unicamp, o clonazepam é recomendado para crianças em duas situações: em ambiente hospitalar, como sedativo, ou em tratamentos de crises convulsivas, diante de prescrição médica para uso de medicamentos controlados.
“Mesmo na dosagem correta, há risco de efeitos colaterais, como sonolência e amnésia. Uma dosagem maior pode afetar a respiração e provocar até uma parada cardíaca”, afirma o pediatra.
O caso foi registrado como lesão corporal na Delegacia de Mogi Guaçu.
Em nota, a Prefeitura informou que se reuniu com as mães das duas crianças e que por medida cautelar preferiu afastar as três funcionárias envolvidas no caso “até que todos os fatos sejam devidamente apurados”. Para isso, uma sindicância foi aberta pela Secretaria Municipal de Educação.
A reportagem não conseguiu contato com as funcionárias afastadas.
As funcionárias ainda não foram depor na Delegacia da Mulher de Mogi, que vai investigar o caso. A prefeitura não confirma se elas admitiram ou negaram ter dado a medicação para as crianças, tampouco informou se elas constituíram advogados para defesa.
Segundo o governo municipal, é somente na sindicância que elas se manifestarão. A prefeitura também informou que o afastamento não significa assumir a culpa. A suspensão é preliminar e temporária, com o objetivo de resguardar as servidoras, segundo a assessoria de imprensa do município.