Constança Rezende e Marcelo Rocha, FOLHAPRESS
O advogado Luís Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro quer criar, afirmou que a equipe do filho 04 do presidente da República lhe pediu ajuda financeira para abrir a empresa de Jair Renan Bolsonaro, 22.
O dirigente do Aliança disse à reportagem que lhe foi solicitada uma quantia entre R$ 5.000 e R$ 10 mil para contribuir com a montagem da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, mas que o dinheiro não chegou a ser depositado. Belmonte disse que o pedido foi feito por Allan de Lucena, ex-parceiro de Renan no negócio e também o seu ex-personal trainer.
Por meio de sua defesa, Allan negou a versão. Afirmou que o advogado ligado ao Aliança, com o objetivo de estreitar relações com o presidente da República, ofereceu a ajuda financeira. Disse também que o dinheiro foi repassado e pago diretamente à arquiteta que assinou o projeto da empresa de Renan, que assinou contrato e emitiu nota fiscal pelo serviço. Procurado pela reportagem, Renan não respondeu.
"Com relação a Renan Bolsonaro ou à empresa dele, tenho a declarar que à época realmente ele pediu um auxílio na constituição da empresa, o que eu até havia concordado. Tenho múltiplas atividades e havia falado em contribuir", disse Belmonte.
Ele não explicou por que o dinheiro acabou não sendo transferido e disse desconhecer o repasse feito à arquiteta mencionada por Allan. "Mandei localizar o que havia com relação ao caso e fui informado pela minha equipe de que na verdade não foi feita nenhuma transferência, ajuda ou depósito meu ou de qualquer empresa minha a Renan Bolsonaro ou à empresa dele."
A empresa foi inaugurada em outubro do ano passado, com um capital de R$ 105 mil. Ela é investigada pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal, sob a suspeita de tráfico de influência junto ao governo federal.
A Bolsonaro Jr tem como finalidade a organização, promoção e criação de conteúdo publicitário para feiras, leilões, congressos, conferências e exposições comerciais e profissionais.
O advogado de Allan, Luiz Gustavo Pereira da Cunha, rechaçou a versão de que seu cliente procurou Belmonte para pedir apoio financeiro para a empresa de Renan.
"Na verdade, quem procurou todo mundo foi Luis Felipe Belmonte. Ninguém o procurou", disse. "Na sanha de se aproximar do [presidente Jair] Bolsonaro, ele tentou via Renan Bolsonaro. Foi o próprio Luís Felipe Belmonte que se ofereceu para ajudar nos custos."
O representante de Allan afirmou ainda que seu cliente prestará todos os esclarecimentos à Polícia Federal, encarregada de apurar a atuação da Bolsonaro Jr Eventos.
Procurado novamente, Belmonte afirmou que já estava próximo do presidente e era o vice-presidente do partido na ocasião. "Estávamos já fazendo o partido. Não teria sentido eu fazer isso pra me aproximar de uma coisa que eu já estava fazendo", declarou.
"Nunca procurei por eles. Allan procurou minha equipe e fez o primeiro contato. A partir daí eu os recebi", disse.
Belmonte declarou também que ajudou Renan a procurar uma sede para o seu novo emprendimento. Para isso, disse que fez a interlocução entre o filho do presidente com o presidente do Arena BSB, Richard Dubois, que administra o Estádio Mané Garrincha, onde é situada a empresa.
O empresário disse que levou Renan a um show da banda americana Maroon Five realizado no estádio e os dois se conheceram.
Procurada, a assessoria do Arena BSB não quis informar o valor do aluguel do espaço cobrado a Renan e disse que não comenta condições comerciais de seus clientes, "mas assegura que as condições e tratamentos do Camarote 311 são semelhantes aos dos demais clientes".
Belmonte disse que conheceu Renan durante o lançamento da frente parlamentar dos jogos eletrônicos da Câmara, em março do ano passado. O presidente do grupo, Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), é seu aliado.
Com as relações mais estreitas, o dirigente do Aliança disse que visitou a empresa de Renan antes da inauguração e esteve com o ex-parceiro de negócios do filho do presidente, Allan de Lucena, assim como com a mãe de Renan, Ana Cristina Siqueira Valle, em seu escritório.
"Falamos sobre a empresa, mas ela não veio me pedir ajuda, veio falar da possibilidade de se viabilizar como uma possível candidatura pelo partido no ano que vem", afirmou.
Renan Bolsonaro também consta na ata de convenção da fundação do Aliança pelo Brasil, em novembro de 2019, como vogal do partido. Bolsonaro aparece como presidente da sigla, que ainda não tem previsão de sair do papel.
O partido se apresenta como um instrumento para "livrar o país dos larápios, dos espertos, dos demagogos e dos traidores" e foi impulsionado pelo presidente após a saída de Bolsonaro do PSL, sigla pela qual foi eleito.
Apesar de ser o plano A do presidente, a sua própria legenda, gestada sob sua inspiração e comando, o Aliança tem enfrentando uma série de percalços. Em um ano e três meses de existência, só conseguiu validar apenas 70 mil das 492 mil fichas populares de apoio necessárias, menos de 15% do que precisa para dar entrada na Justiça Eleitoral.
Correligionários já apontam a possibilidade de Bolsonaro se filiar ao PP, Republicanos, PTB e PL, Patriota ou voltar ao PSL.
Com pretensões políticas, Belmonte ainda se diz animado com a criação do partido e busca sempre alinhamento com as pautas de Bolsonaro.
Ele também é suplente do senador Izalci Lucass (PSDB-DF) e é conhecido por ser adversário do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Dono de imóveis e de um time de futebol em Brasília, em 2018, o empresário declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um patrimônio avaliado em R$ 65,7 milhões.
Belmonte também é investigado no inquérito conhecido como atos antidemocráticos, aberto a pedido Procuradoria-Geral da República e sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A apuração busca identificar organizadores e financiadores de manifestações pró-Bolsonaro realizadas em 2020 que pediam o fechamento de instituições como o Supremo e o Congresso Nacional.
Por determinação de Moraes, o advogado teve o sigilo bancário quebrado e foi alvo de mandado de busca e apreensão.
No final de outubro, ele foi interrogado pela PF e negou estar por trás dos eventos em apuração.
O jornal Folha de S.Paulo noticiou em dezembro do ano passado que a cobertura da inauguração da empresa de Renan foi realizada gratuitamente por uma produtora de conteúdo digital e comunicação corporativa, a Astronautas Filmes, que presta serviços ao governo federal.
Somente no ano passado, a empresa recebeu ao menos R$ 1,4 milhão do governo Bolsonaro. A empresa prestou serviços para os ministérios da Educação, Saúde e Casa Civil.
A revista Veja revelou em novembro que Renan visitou as instalações de um grupo empresarial do Espírito Santo que comercializa material de construção.
Logo depois, afirmou a revista, o grupo deu um carro elétrico a Renan, avaliado em R$ 80 mil, e conseguiu uma audiência com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para apresentação de um projeto.