Erick Rodrigues
O que aconteceu a Jesse Pinkman? Onde ele foi parar? E Walter White? Morreu mesmo ou deu um jeito de fugir? Fãs da série "Breaking Bad" fizeram e refizeram essas perguntas por muito tempo após o último episódio da série, exibido há seis anos. Com o final em aberto, o criador da produção, Vince Gilligan, deixou espaço para interpretações e criatividade até lançar "El Camino: A Breaking Bad Film", longa que funciona como um epílogo da história que, até hoje, é considerada uma das melhores do gênero.
Feito para a plataforma de streaming Netflix, parcialmente responsável pelo sucesso da série, o filme surge para responder às perguntas deixadas no episódio final. Ao melhor estilo "carta de despedida", Gilligan propõe uma revisita ao universo da produção, utilizando, para isso, flashbacks, participações especiais e referências às cinco temporadas de episódios.
"El Camino" começa logo depois da fuga de Jesse (Aaron Paul) do cativeiro onde foi mantido até o episódio final de "Breaking Bad". Enquanto a polícia se dirige ao local, o personagem busca uma forma de se esconder e acaba recorrendo a dois velhos conhecidos: Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones). Depois de um socorro estratégico e financeiro, Jesse consegue uma distração para as autoridades enquanto cuida de alguns assuntos inacabados.
Como se estivesse fechando ciclos e superando o passado, o protagonista revisita locais conhecidos, enfrenta pensamentos perturbadores e, de certa forma, até reflete sobre o relacionamento com alguns personagens, como a família e o parceiro na produção de metanfetamina, Walter White. Querem saber se o professor de química aparece no filme? Só vendo para saber.
Não dá para dar muitos detalhes sobre "El Camino" e não é só para evitar spoilers sobre a história. A verdade é que não há muito o que dizer sobre o filme. Quem espera algo grandioso, inclusive, pode ter uma brutal decepção. O longa tem exatamente o espírito da série, mantendo um ritmo que beira a lentidão, mas reserva viradas bruscas e inteligentes. Gilligan continua com uma escrita precisa e sem fazer concessões à memória do espectador. Caso a história já pareça muito distante, talvez valha a pena rever os episódios para, em seguida, fazer uma nova sessão do filme.
Em alguns momentos, "El Camino" até parece uma homenagem a "Breaking Bad" ou a Jesse Pinkman, personagem que, apesar de muito importante na série, teve um arco narrativo secundário e um final interpretativo. A grande função do filme, no entanto, é ser uma carta de despedida, não só para o público, mas também para Gilligan. Por conta disso, é injusto dizer que o longa é "oportunista" ou "uma forma de desdobrar o sucesso da série". O autor e diretor é muito coerente com o universo que construiu e, por isso, faz parecer que esse desfecho sempre fez parte do todo.
Respondendo às perguntas dos fãs sobre o futuro dos personagens, "El Camino" acaba criando um outro questionamento: esse filme era necessário? Eu sei, essa é uma resposta muito subjetiva. Talvez o longa seja importante para Gilligan, que divide com o público o destino imaginado para Jesse. Talvez seja relevante para fãs ávidos por retornar ao universo de "Breaking Bad" depois de já terem decorado os episódios. A minha opinião é que, apesar de bom, o filme é desnecessário.
"Breaking Bad" é uma das minhas séries favoritas, poucas chegaram ou vão chegar no patamar dela. Mesmo assim, nunca me incomodou o final aberto, não via (e continuo não vendo) necessidade para uma volta a esse universo. A produção é perfeita em cada episódio das cinco temporadas. Por isso, o filme é quase um consumo por gula, uma extravagância. Um bom produto, é verdade, mas no limite do exagero.
"El Camino: A Breaking Bad Film" é um bom epílogo sobre a jornada de Jesse Pinkman do fim da série até o início de uma nova vida, mostrando as transformações e os caminhos para o desfecho do personagem. Com uma fotografia bem feita e um roteiro coerente, o longa é uma despedida para aqueles que sentiram falta de um "adeus". Como eu sempre gostei das múltiplas possibilidades de um final incerto, para mim, o filme é algo que se vê com carinho, mas que não faz falta.
EL CAMINO: A BREAKING BAD FILM
ONDE: Netflix
COTAÇÃO: ★★★ (bom)