Folhapress
O ginasta Diego Hypolito, 32, assumiu ser homossexual em entrevista ao UOL, publicada nesta quarta-feira (8). Medalha de prata no solo na Olimpíada do Rio-2016, o atleta falou abertamente sobre sua sexualidade pela primeira vez e contou sobre como foi difícil para ele manter isso em segredo por anos.
“Quero que as pessoas saibam que eu sou gay e que eu não tenho vergonha disso. E não é porque eu sou que outras pessoas vão querer ser. Isso não tem nada a ver. Já vivi muitos anos pensando no julgamento que os outros fariam sobre mim. Hoje só aceito ser julgado por Deus”, afirmou.
Hypolito afirmou que tinha 19 anos quando assumiu para si mesmo que era homossexual, mas que só teve coragem de contar para sua família aos 28 anos, às vésperas do Mundial da China, em 2014.
“Quando passei a entender melhor a minha sexualidade, meu maior problema sempre foi como iria contar para a minha família. As pessoas não sabem, mas a gente tinha uma origem humilde, do interior e religiosa. Eles nunca entenderiam”, disse. “Nem sempre tinha o que comer, chegamos a ficar meses sem energia elétrica. Como é que eu ia levar mais um problema para eles?”
O medo de revelar o segredo fez o ginasta conviver com insegurança, privando-se de sua liberdade. Ele chegou a usar disfarces para frequentar baladas e shows voltados ao público LGBT, como fez na noite em que foi a uma casa noturna acompanhado do também ginasta Michel Conceição.
“Ele [Michel Conceição] me levou a uma balada gay, mesmo sendo proibido sair à noite na seleção. Eu fui todo disfarçado: boné, óculos escuros, capuz. Isso se repetiria nos anos seguintes, era ridículo. Meus amigos livres, leves e soltos e eu lá, cheio de roupas, suando no calor, virando a cara quando alguém fixava o olhar”, contou.
O ginasta afirmou, ainda, que só recentemente teve coragem para ir a uma balada LGBT sem se esconder. “Há uns dias fui à Tokka, uma festa gay em São Paulo. Aos 32 anos, fui pela primeira vez de cara limpa, sem disfarce, sem ter vergonha de ser quem eu sou, de viver o que eu quero viver. Para mim é uma libertação. Foi a primeira vez que realmente me diverti numa festa gay.”
A relação do atleta com a família também voltou ao normal, segundo ele. No início, houve um estranhamento, principalmente por sua mãe.
“Minha mãe me aceita como eu sou. Minha mãe me ama. E eu amo meus pais e tudo o que eles fizeram para que eu, minha irmã e meu irmão chegássemos até aqui”, disse. “Não escolhi ser gay, porque ser gay não é uma escolha. É simplesmente o que eu sou.”
Hypolito revelou ainda que sofreu abusos na ginástica artística que o fizeram ganhar coragem para assumir sua homossexualidade como forma de tentar combater isso.
“Já me prenderam em um equipamento de treino apelidado de ‘caixão da morte’, já me fizeram segurar uma pilha com o ânus e já me deixaram pelado, junto com outros dois atletas, para escrever no nosso peito a frase ‘Eu’, ‘sou’, ‘gay’. Uma palavra em cada um para nos humilhar”, desabafou.
“Eu preciso falar sobre essas coisas para que elas nunca mais se repitam. Ninguém precisa passar pelo que eu passei para ser campeão.”