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Deterioração no mercado de trabalho atinge 52 milhões de brasileiros

Foto: FramePhoto/Folhapress
Postado em: 01/10/2020

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Diego Garcia, Folhapress

 

A pandemia segue deteriorando o mercado de trabalho no Brasil. A taxa de desemprego atingiu o patamar inédito de 13,8%, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ao todo 13,1 milhões de brasileiros em buscavam trabalho no trimestre encerrado em julho, segundo a Pnad Continua (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua), realizada desde 2012.

 

No trimestre anterior, o desemprego no Brasil havia fechado em 12,6%. Em janeiro, a taxa estava em 11,2%.

 

É recorde também o número de brasileiros que se declararam desalentados, ou seja, que desistiram de procurar emprego por acreditarem que não vão encontrar uma vaga: 5,8 milhões. Igualmente inédito é o número de trabalhadores que se consideram subutilizados -trabalham menos horas do que gostariam. Esse contingente reunia 32, 9 milhões de pessoas.

 

No total, em julho, eram 52 milhões atingidos pela crise no emprego causada pela Covid-19 e seus efeitos.

 

Em relação ao trimestre encerrado em fevereiro, antes da pandemia, cresceu em 6,1 milhões o contingente de pessoas que declararam trabalhar menos do que poderiam ou gostariam, uma alta de 22,8% no período. O número de desalentados cresceu em 1,1 milhão, um avanço de 23,4%.

 

Para os especialistas, esse ambiente adverso no mercado de trabalho pode indicar que a taxa de desocupação (13,8%) atual não condiz exatamente com o quadro do desemprego no Brasil. O cálculo leva em consideração apenas aqueles entrevistados que disseram ter passado ao menos uma hora tentando encontrar uma vaga, segundo o IBGE.

 

O professor do Ibmec Ricardo Macedo afirma que a alta no desalento é reflexo da Covid-19 porque, em alguns locais, não há mesmo emprego para procurar no meio da pandemia. Em outros casos, as pessoas realmente evitam sair para buscar uma vaga pois não se sentem seguros em termos sanitários. "Algumas atividades dependem do deslocamento, e isso está proibido para alguns ou exige um cuidado muito grande para a maioria", diz o professor.

 

Daniel Duque, da FGV, aponta que a procura por emprego pressupõe custos para quem busca a vaga, como pagar passagens de ônibus. Com a redução dos ganhos em meio à pandemia, alguns brasileiros escolhem mesmo não procurar trabalho enquanto a oferta está comprometida. "Pelos custos, se a pessoa entende que não tem chances de conseguir, deixa de procurar, mesmo desempregada", explicou Duque.

 

O economista acrescenta que a alta expressiva nos subutulizados também é reflexo dos efeitos do novo coronavírus. Uma parte deles deve atuar numa das empresas que aderiam a MP (Medida Provisória) que permite redução das jornadas para cortar custos, por exemplo.

 

Duque destacou que a redução de horas trabalhadas dos brasileiros que provoca o aumento na subutilização é a mesma que causa queda na massa de rendimento real habitual. De acordo com o IBGE, essa diminuição foi de 3,8% e representa R$ 8 bilhões a menos.

 

Já o rendimento médio real habitual, por outro lado, continuou subindo. Teve alta de 4,8%, atingindo R$ 2.535. Em fevereiro, ainda antes da pandemia, esse valor era de R$ 2.375.

 

O professor Otto Nogami explicou que esse fenômeno se deve à preservação de cargos mais sofisticados e com maiores salários em detrimento dos empregos menos qualificados. Isso ocorre também devido ao trabalho remoto, que reúne especialmente trabalhadores em posições mais privilegiadas.

 

Para ele, a solução seria de longo prazo, com investimentos governamentais na qualificação de profissionais jovens. "O governo, ao em vez de usar o Fundeb, fundo da educação, para um auxílio, deveria aplicá-lo na qualificação e na formação do indivíduo agora, para colher resultados daqui a 30 anos", afirma.

 

Ele se refere à iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de usar parte dos recursos do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e de precatórios para bancar o novo programa social que substituirá o Bolsa Família.

 

Para alguns, porém, há um certo alento nos resultados mais recentes. Segundo a analista da pesquisa Adriana Beringuy, o desalento ainda cresceu, mas foi menos do que no trimestre móvel encerrado em junho, quando 913 mil pessoas entraram nessa situação, Em julho, 771 mil novos desalentados entraram para as estatísticas.

 

"Além de tirar o trabalho, a pandemia também dificultou a sua procura, ou por conta das medidas restritivas, ou porque as atividades econômicas estavam suspensas ou, ainda, por questões de saúde pessoal", disse Beringuy.

 

Ela explicou que a alta no desalento se deve ao crescimento da população na força de trabalho em potencial, que são as pessoas que têm potencial de fazer parte da força de trabalho, mas não fizeram busca efetiva porque não viram condições de mercado favoráveis para a sua absorção.

 

Isso pode ter ocorrido porque a pessoa não tem qualificação adequada, seja porque não tem experiência ou pela falta de mercado na localidade em que mora.
"Isso veio em processo de aceleração nos últimos anos e acaba se aprofundando agora, pois existe uma piora geral no mercado de trabalho e o desalento acaba crescendo junto", disse a analista.

 

Os dados divulgados nesta quarta apontam ainda que a população ocupada também bateu recorde negativo, com diminuição de 7,2 milhões de pessoas (8,1%) e chegando ao contingente de 82 milhões de brasileiros, o menor da série histórica do IBGE.

 

A força de trabalho atingiu o menor número, com 95,2 milhões de pessoas, queda de 6,9 milhões (6,8%) na comparação com o trimestre anterior.

 

De acordo com o IBGE, também foi recorde o percentual de desalentados em relação à população na força de trabalho ou desalentada (5,7%).

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