Igor Gielow, FOLHAPRESS
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, concorda com a nota emitida na sexta (22) pelo general Augusto Heleno, na qual o chefe do Gabinete de Segurança Institucional falou de "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional" por ato do Supremo Tribunal Federal.
Heleno criticou o envio para avaliação da PGR (Procuradoria-Geral da República), pelo ministro Celso de Mello, de um pedido para apreensão dos celulares do Jair Bolsonaro e de seu filho Carlos, no âmbito do inquérito que apura suposta interferência política do presidente na Polícia Federal.
Segundo ele, contudo, tais consequências não seriam um golpe ou uma intervenção militar, mas sim uma crise institucional.
Para Azevedo, ela existe como risco, já que considera que a harmonia entre Poderes é "uma via de mão dupla".
No entender do ministro, que falou primeiro sobre o caso na noite de sexta à CNN Brasil, o celular do presidente é uma questão de "segurança institucional". Ele afirmou estar "bastante preocupado com o clima de tensão entre os Poderes".
No último mês, o ministro editou duas notas reafirmando o compromisso das Forças com a Constituição após Bolsonaro participar de atos golpistas. Também exortou a coexistência entre Poderes, num recado ao Supremo e ao Congresso.
A frase de Heleno, contudo, foi lida universalmente pelo mundo político como uma ameaça aos Poderes, o que querendo ou não Azevedo se arrisca a fazer ao apoiar o texto. Segundo o ministro, ele soube da nota antes de sua publicação e concordou com seus termos.
A manifestação de Azevedo busca ponderação, mas indica também o desconforto crescente da ala militar do governo, e de vários setores da ativa, com as atitudes do Supremo ante o governo Bolsonaro.
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, uma série de decisões contrárias ao presidente, no Legislativo mas principalmente no Judiciário, estão sendo vistas como excessivas pelos fardados. Até aqui, a mais grave na visão deles fora a liminar barrando a posse de Alexandre Ramagem na PF.
Celso de Mello, como condutor inquérito decorrente das acusações do ex-ministro Sergio Moro sobre a ingerência na corporação, já vinha sendo criticado pela celeridade no trâmite do caso.
O pedido à PGR sobre os celulares era meramente protocolar, obrigatório aliás, mas, por ter sido feito por parlamentares de esquerda e expedido rapidamente, ganhou ares de conspiração contra o Planalto.
Isso gerou a reação de Heleno, referendada por Azevedo, ele também um general de quatro estrelas da reserva.
A crispação só piorou na sexta, com a divulgação por ordem de Mello do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, que corrobora a versão de interferência de Bolsonaro na PF, na qual o ministro Abraham Weintraub (Educação) pede a prisão de ministros do Supremo.
Enquanto vários oficiais da ativa e da reserva ouvidos pela reportagem tenham classificado como impropriedade a ideia de confiscar o celular do chefe de Estado, o tom de Heleno foi amplamente criticado.
Um general de quatro estrelas, topo de carreira, que já ocupou diversos postos altos no Exército e hoje está na reserva, queixou-se de que as Forças Armadas estavam perdendo todo o capital político angariado desde a redemocratização.
Já um brigadeiro, também com quatro estrelas no ombro, afirmou que não há possibilidade de a Força Aérea embarcar em qualquer aventura autoritária, ressaltando a falta de ordem unida entre os três braços do poder armado.
Azevedo tenta demonstrar harmonia como pivô entre o serviço ativo e a ala militar do governo, ora envolvida na sobrevivência política do chefe.
Bolsonaro, por sua vez, voltou a ser questionado acerca da nota de Heleno neste sábado (22). "Somos um mesmo time: eu, [Augusto] Heleno, Fernando [Azevedo]. Somos um mesmo time", respondeu.
Nesta sexta, o presidente falou que, mesmo se houver uma determinação para entregar seu aparelho celular, não pretende cumpri-la. "Jamais eu entregaria um telefone meu. Só se fosse um rato para entregar o telefone", afirmou, acrescentando que uma decisão judicial nesse sentido seria "uma afronta".