Gustavo Uribe e Julia Chaib, FOLHAPRESS
A troca de ministros anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta segunda-feira (29) teve como objetivo fidelizar o apoio do bloco do centrão, diminuir resistências dentro do próprio governo e aumentar o controle sobre estruturas com capacidade de fazer um embate mais assertivo com governos estaduais e municipais.
Ao mesmo tempo em que agrada o centrão no campo político, Bolsonaro coloca pessoas de extrema confiança em três áreas estratégicas: Defesa, Justiça e Advocacia-Geral da União, pastas que atuam em temas de segurança nacional nas ruas e juridicamente, como é o caso da AGU.
Bolsonaro tem buscado duelar com governadores, por exemplo, em relação a medidas restritivas para o combate da Covid-19.
Ao todo, foram feitas trocas em seis pastas ministeriais. O bloco do centrão, que já tinha o controle das Comunicações e da Cidadania, agora também chefiará a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.
De acordo com assessores presidenciais, a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) foi uma sugestão de Ramos casada com uma indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que se reuniu na manhã desta segunda-feira com Bolsonaro no Palácio da Alvorada.
O esforço do presidente, de acordo com auxiliares palacianos, foi tanto de acalmar os ânimos de Lira, que na semana passada fez um discurso crítico ao Executivo, como o de tentar amarrar o PL em sua candidatura à reeleição presidencial em 2022.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou recentemente a integrantes do centrão o interesse em ter como seu candidato a vice-presidente o empresário Josué Alencar, do PL. A entrega de um cargo ministerial à legenda, no entanto, não é considerada por dirigentes da sigla como uma garantia de um apoio em 2022.
Na dança das cadeiras, o presidente demitiu ainda dois ministros que vinham questionando, em caráter reservado, decisões do presidente. Um deles foi José Levi do Amaral que, há meses, já sinalizava a intenção de deixar a o comando da AGU.
Bolsonaro se irritou com o fato de Levi não ter aceitado assinar ação ingressada no STF (Supremo Tribunal Federal) que pedia a suspensão de decretos publicados pelos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul com medidas de restrição para o combate do coronavírus.
No ano passado, Bolsonaro e Levi também entraram em confronto na decisão do presidente de recorrer ao Supremo contra a suspensão da posse de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Na época, o presidente desautorizou o ministro e disse que quem mandava era ele.
A demissão do general Fernando Azevedo do comando da Defesa também se deveu, segundo integrantes da cúpula militar, a desavenças com Bolsonaro. Segundo relatos feitos à reportagem, o presidente vinha pressionando o ministro para que as forças militares atuassem contra medidas de lockdown –Azevedo era contra.
Além disso, o presidente defendia, em conversas reservadas, uma troca do general Edson Pujol do comando do Exército, alteração da qual Azevedo vinha resistindo. Segundo militares do governo, Pujol sempre defendeu a independência das Forças Armadas em relação à atual gestão.
A expectativa no Palácio do Planalto é que, com a nomeação do general Braga Netto para a Defesa, Bolsonaro terá um controle maior sobre os efetivos militares, sobretudo em sua atuação contra medidas de restrição decretadas por estados e municípios.
A mudança do comando da Justiça também passaria por uma maior ascendência do presidente sobre as forças policiais. Para o lugar de Mendonça, Bolsonaro nomeou o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres.
O nome do delegado da PF foi indicado ao presidente pelo ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), amigo de longa data de Bolsonaro. Além de tentar reforçar a bandeira da segurança pública para a disputa presidencial, a nomeação de Torres passa, segundo aliados, por uma nova tentativa de Bolsonaro de emplacar Ramagem para o comando da Polícia Federal.
Com Mendonça na AGU, a expectativa do presidente é voltar a contar na estrutura com um nome que não se oponha às suas decisões. Como prêmio de consolação, por ter deslocado Mendonça para uma pasta de menor peso político, Bolsonaro avalia indicá-lo em julho para a vaga no STF a ser aberta com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.