Fábio Zanini, FOLHAPRESS
Pressionado pelas pesquisas de intenções de voto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a adotar o discurso eleitoral sobre os reajustes de combustíveis que empregava em 2018, antes de assumir pela primeira vez a Presidência da República.
A partir 2019, mesmo em meio a críticas a Petrobras, Bolsonaro sempre esforçou-se para dizer que no seu governo não haveria intervenção na política de preços, para não desagradar aqueles que votaram nele na promessa de uma gestão liberal.
Em 11 de abril daquele ano, Bolsonaro telefonou para o então presidente da estatal, Roberto Castello Branco, após o anúncio de um reajuste de 5,7% no diesel e o fez voltar atrás.
Na sequência o governo montou uma operação para desfazer qualquer imagem de intervenção, que envolveu declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque e uma reunião no Palácio do Planalto para explicar a Bolsonaro como os preços são calculados.
"Uma frase que o presidente disse logo no início da reunião: "Eu não quero e não tenho direito de intervir na Petrobras. Eu não quero e não posso interferir na Petrobras"", disse o ex-porta-voz da Presidência Rêgo Barros, reforçando o discurso.
Quando eclodiu a pandemia do coronavírus, os preços dos combustíveis caíram muito e o presidente deu uma trégua nessas declarações. Mais recente, no entanto, em fevereiro de 2021, tentou minimizar a pressão que exerceu para que Castello Branco renunciasse.
"Anuncio que teremos mudança sim na Petrobras. Jamais vamos interferir nesta grande empresa e na sua política de preços, mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes", discursou.
Aproximando-se das eleições e em segundo lugar nas pesquisas, Bolsonaro voltou a aumentar o tom e, agora, acompanhado de sua base no Congresso Nacional.
Neste final de semana, o presidente mudou o tom e indicou a intenção de intervir na companhia.
"Vamos para cima da Petrobras", afirmou Bolsonaro a fiéis do Ministério Ressurreição que participavam do Ato de Unção Apostólica na capital do Amazonas para aplauso dos fiéis presentes neste sábado (18).
O mandatário ainda disse que o valor de mercado da Petrobras deve cair mais R$ 30 bilhões em razão da articulação, comandada por ele, para a abertura de CPI sobre a estatal.
Na sexta, Bolsonaro falou que a "coisa mais importante" é trocar o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, e os diretores e afirmou que, com a mudança, a expectativa é colocar alguém que possa "não conceder esse reajuste [no preço dos combustíveis]".
Ministros afirmam ter declarado guerra a José Mauro Coelho, há menos três menos de terem o indicado e, nesta segunda, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avaliará a instalação de uma CPI para apurar os reajustes.
O mandatário volta, portanto, a se aproximar do discurso empregava nas últimas eleições. Em 2018, quando ainda almejava chegar ao Planalto, sinalizando apoio aos caminhoneiros que fazem parte da sua base, o então deputado federal afirmou que os reajustes da Petrobras serviam para "tapar o buraco da corrupção" das gestões petistas e para agradar governadores, que passariam a arrecadar mais ICMS.