Gustavo Uribe e Daniel Carvalho, da Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta terça-feira (8) que ficou com "pecha de genocida" por ter defendido a prescrição da hidroxicloroquina para o tratamento contra o novo coronavírus.
As pesquisas sobre a droga são preliminares e não há comprovação nem da eficácia nem da segurança do remédio no combate à doença.
"Eu estou com a pecha de genocida por falar da cloroquina e por alguns acharem que eu devia fazer algo mais. Como, se eu fui impedido em muitas coisas pelo STF (Supremo Tribunal Federal)?", questionou.
O presidente fez a avaliação durante encontro, promovido no Palácio do Planalto, com integrantes do movimento Médicos pela Vida, formado por defensores da substância.
Em discurso, ele disse ainda que estudos recentes apontam que, caso tivesse sido utilizada desde o início da pandemia, a cloroquina poderia ter reduzido em até 30% o número de óbitos no país.
O presidente não citou, porém, a que estudos fazia referência e observou que se trata de pesquisas ainda não consolidadas.
"Hoje, muitos estudos mostram que a cloroquina pode, sim, evitar que pessoas sejam levadas para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou até mesmo sejam intubadas. E, pelo o que tudo indica, alguns estudos também chegaram ao meu conhecimento de que o número de óbitos poderia ser evitado em até 30%. Lógico que os estudos não estão consolidados ainda", disse.
O presidente estimou que, caso os estudos sejam comprovados, quase 40 mil pessoas não teriam morrido da doença no país.
"Quase 40 mil pessoas poderiam ter suas vidas preservadas, mas parece que no Brasil isso foi politizado. Começaram a chamar alguns de remédio do Bolsonaro, mas eu não sou médico. A gente tinha de apresentar uma alternativa", disse.
O encontro contou com as participações, entre outros médicos, do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), defensor da substância e crítico do isolamento total, e da imunologista Nise Yamaguchi, que já foi cotada para assumir o Ministério da Saúde.
Em discurso, Terra também defendeu que a hidroxicloroquina, apesar de ainda estar em teste, apresentou resultados positivos no combate à doença.
"Politizaram a questão. Não foi o presidente quem politizou. O fato de ele ter sugerido foi uma benção, porque deu força a dezenas de médicos", disse.
O presidente voltou a afirmar que ninguém pode ser obrigado a tomar uma vacina contra o coronavírus e ressaltou que ela ainda precisa passar por etapas científicas antes de ser oferecida.
"Eu falei outro dia: ´Ninguém vai ser obrigado a tomar vacina´. O mundo caiu na minha cabeça. A vacina é uma coisa que, no meu entender, você faz a campanha e busca uma solução. Não pode amarrar o cara e dar a vacina nele", disse.
Mais cedo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o país dará início em janeiro à vacinação da população contra o novo coronavírus.
Em reunião ministerial, ele disse que as primeiras doses devem chegar a partir do início do próximo ano e que o plano é já imunizar "todo mundo".
"A gente está fazendo ali os contratos com quem fabrica a vacina e a previsão é de que essa vacina chegue para nós a partir de janeiro. Em janeiro do ano que vem, a gente começa a vacinar todo mundo", disse.
A pasta prevê que, inicialmente, chegarão ao país 100,4 milhões de doses da vacina em desenvolvimento pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca, produzida em parceria com a Fiocruz. A estimativa é de que a segunda dose seja disponibilizada no segundo semestre do próximo ano.