Talita Fernandes, Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu nesta quarta-feira (8) que a hidroxicloroquina seja aplicada em pacientes com a Covid-19 ainda em fase inicial.
A fala diverge da linha de recomendações do Ministério da Saúde, que vinha considerando a possibilidade do uso do medicamento para os casos de maior gravidade.
A afirmação do presidente foi feita durante entrevista para o programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.
"Agora tem uma outra coisa esse tratamento começou aqui no Brasil que tem que ser feito, com quem a gente tem conversado, até o quarto ou dia útil [sic] dos sintomas. Passando disso, como a evolução é muito rápida e ele ataca basicamente o pulmão, quando entrar no estado grave ou no estado gravíssimo, a possibilidade de você se curar é mínima, é quase zero", afirmou, sem citar pesquisas científicas que comprovem sua afirmação.
O presidente disse ainda que se sua mãe, que tem 93 anos, apresentasse algum dos sintomas da Covid-19, ele recomendaria o tratamento médico imediato. Ele defendeu o início antes mesmo da comprovação da doença, já que a testagem pode levar alguns dias.
"Como dizem os médicos, mas eu não entendo desse assunto, se começar a sentir falta de ar, você perde o olfato também você tem que ir atrás de um médico para fazer um... às vezes fazendo o teste demora, você tem que já se aplicar para você."
Depois de entrar em rota de colisão com o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, ele elogiou o auxiliar por ele ter feito concessões sobre o uso da hidroxicloroquina para a Covid-19. Este era um dos principais pontos de divergência entre o ministro e o presidente na crise do novo coronavírus.
Depois de uma semana de tensão, com a possibilidade de Mandetta ser demitido, ele e Bolsonaro tiveram uma conversa a sós no Palácio do Planalto nesta quarta.
O presidente disse que o atrito entre eles "é comum" e comparou a problemas de relacionamento.
"É comum acontecer num momento em que todo mundo está estressado de tanto trabalho, eu estou e ele está. Ele, inclusive, a questão da hidroxicloroquina, de ontem para hoje, ele decidiu também fazer com que no início da manifestação possam ser atendidos. Foi bem-vindo da parte dele, eu até parabenizo no tocante a isso."
Questionado se pensou em mudar o titular da Saúde, Bolsonaro não respondeu. "Um beijo para você. Um abraço para você, Datena", afirmou o presidente depois de rir e ficar em silêncio ao ser perguntado sobre a possibilidade de demitir Mandetta.
Na mesma entrevista, Bolsonaro pediu que os médicos do hospital Albert Einstein divulguem nos próximos dias os resultados, ainda que parciais, das pesquisas feitas por eles sobre o uso de hidroxicloroquina para tratar a Covid-19.
"Seria bom, não é normal, não é praxe, mas como estamos numa guerra, tem muita gente morrendo, o Einstein deve se convencer e falar pelo menos que o jogo até os 30 minutos está 2 a 0 para gente, ou está 0 a 0, estamos perdendo, mas eu acho que vai ser favorável essa primeira indicação", afirmou o presidente em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.
Apesar de não haver comprovação científica da eficácia do uso do medicamente para tratar a doença provocada pelo novo coronavírus, Bolsonaro vem insistindo para que ele seja usado para evitar quadros mais graves.
O presidente tem repetido isso em praticamente todas as suas falas sobre a pandemia e recebido médicos no Palácio do Planalto para falar sobre o tema.