Folhapress
O Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% ao ano, em uma decisão amplamente esperada pelo mercado financeiro. A taxa básica de juros está no atual patamar desde março do ano passado, estendendo o período de mínima histórica em um momento em que economistas enxergam espaço para cortes adicionais.
Para o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, reduções adicionais dependem da aprovação da reforma da Previdência, algo que vem sendo repetido nos comunicados que justificam a decisão da Selic.
As novas regras para aposentadoria são consideradas cruciais para o equilíbrio das contas públicas e, caso não sejam aprovadas, poderiam levar a uma aceleração da inflação.
O mandato do Banco Central é garantir a estabilidade de preços.
Em comunicado, o Copom afirmou que o cenário de riscos para a inflação permanece simétrico. A ociosidade da economia continua elevada e poderia pressionar a inflação para abaixo da meta. Por outro lado, diz o comitê, uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação
“O Comitê avalia que, embora o risco associado à ociosidade dos fatores de produção tenha se elevado na margem, o balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico”, diz o Copom.
A inflação em 12 meses registrou repique a 4,58% em março, acima da meta de 4,25%, mas dentro da margem de tolerância.
O Copom disse ainda julgar importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta.
O principal choque da economia no ano passado foi a paralisação dos caminhoneiros.
“Tais choques devem se dissipar nos próximos meses, fazendo a inflação retornar para abaixo da meta. A inflação implícita para os próximos 12 meses está em 4,09%”, escreveu a corretora Guide.
“Olhando à frente, acreditamos que uma combinação de atividade fraca com projeções de inflação abaixo da meta abrirá espaço para estímulos monetários adicionais, caso o risco de deterioração fiscal seja reduzido após a aprovação da reforma da Previdência”, disse o Itaú.
Estímulos monetários adicionais, fora do jargão do mercado financeiro, é redução da taxa de juros. Na teoria, quando o juro básico cai, há mais dinheiro circulando na economia e o custo (a taxa cobrada dos consumidores) se reduz.
Isso estimularia famílias e empresas a tomarem crédito e movimentar a economia.
A economia brasileira patina e cai semana após semana as expectativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2019. Na estimativa mais recente colhida pelo Banco Central no Boletim Focus, a projeção era de avanço de 1,49%.
Eles estimam que a Selic terminará o ano no atual patamar, ainda que o mercado fale em chances de cortes.
“Daqui para frente, acreditamos em dois cortes na taxa, num ciclo suave, curto e cauteloso, justamente num reconhecimento do arrefecimento da atividade. No nosso cenário, a primeira redução ocorrerá apenas no segundo semestre para que a Selic encerre 2019 a 6% ao ano”, afirma Gabriela Fernandes, economista-chefe da Gauss Capital.
Há um ano, na reunião de maio do ano passado, o Banco Central surpreendeu o mercado ao decidir manter a Selic no atual patamar, contrariando as estimativas que apontavam corte para 6,25%.
Naquela época, o Banco Central projetava riscos vindos do exterior com o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, que estimula a migração de recursos de países emergentes para o mercado americano, pressionando o dólar.