No dia 23 de março, quando o sinal vermelho sobre a pandemia da Covid-19 já estava aceso no Brasil, o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, instituiu o programa "O Brasil conta comigo". O objetivo é integrar estudantes de graduação em Medicina, Enfermagem, Fisioterapia e Farmácia para auxiliar no enfrentamento desse problema nos serviços públicos de saúde (SUS). Diversos alunos dos cursos de Medicina e Enfermagem da PUC-SP aderiram à proposta, como as três personagens do texto abaixo.
Larissa, segundanista da Enfermagem
Aluna do segundo ano do curso de Enfermagem, Larissa Fernanda Mendes inscreveu-se no programa “O Brasil conta comigo” por entender que o cenário é singular e exige solidariedade. “Mesmo sendo uma ajuda pequena, estarei ajudando. Acredito que toda contribuição neste momento caótico é válida. A experiência de poder estar em contato com os pacientes [infectados pela Covid-19], ajudando-os durante a pandemia, é única”, diz. “Não quero ficar de braços cruzados em casa”, completa.
Larissa conta que não se inscreveu pensando em algum tipo de contrapartida, como a transformação das horas de atuação no SUS em horas-aula ou nas que contam para o estágio obrigatório. “Fiz isso para livrar profissionais mais experientes e que podem ter melhor serventia em lugares mais caóticos”, explica.
A estudante de enfermagem imagina que, após a pandemia ser superada, grande parte da população mundial ficará um pouco em choque e passará a redobrar os cuidados com a higiene, como lavar as mãos com frequência, por exemplo. “Muitos acham que é bobagem o que estamos passando e tocam a vida como se nada estivesse acontecendo, ou como se fosse somente uma gripezinha”, lamenta.
Bárbara, sextanista da Medicina
Bárbara Christie Leme Silva cursa o sexto (e último) ano do curso de Medicina da PUC-SP. “Eu me inscrevi no programa ‘O Brasil conta comigo’ logo no dia em que foi aberto o site para o cadastramento”, revela.
Ela explica que o programa do governo federal propõe que, na necessidade de mais profissionais da saúde, os alunos atendam casos leves na atenção primária à saúde – ou seja, nas Unidades Básicas de Saúde –, desde que supervisionados por profissionais qualificados. Com isso, aumentaria a quantidade de mão de obra especializada na área assistencial (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre outros) para o atendimento dos casos graves.
Bárbara também destaca que sua decisão de participar ocorreu naturalmente. “Estar na reta final da formação e não participar e ajudar a população chegaria a ser desapontador”, acentua. “Por isso, fiquei muito feliz com a proposta do governo. Estar na linha de frente dessa ‘batalha’ será uma experiência profissional, acadêmica e pessoal jamais imaginada”, reforça.
Segundo ela, a Covid-19 veio de forma repentina e revelou, entre outros pontos, a necessidade de o país ter um sistema de saúde robusto e universal. “Também mostrou o quanto somos conectados. Acredito que dificilmente sairemos desta crise da mesma forma que entramos. Espero que nos tornemos mais fortes e mais preparados, sem perder nossa humanidade após essa pandemia passar”, conclui.
Lucila, quartanista da Enfermagem
Cursando o quarto ano do curso de Enfermagem, Lucila Maria dos Santos Crúz também se inscreveu no “O Brasil conta comigo” e optou por trabalhar em Votorantim, cidade vizinha a Sorocaba (onde está localizado o campus da PUC-SP).
“Após concluir a graduação, tenho a intenção de realizar residência de Enfermagem. O Ministério da Saúde garantiu que iremos receber 10% de pontuação no ingresso para residência”, explica. “Além disso, é uma experiência ímpar para uma estudante ter a possibilidade de adquirir esta vivência profissional”, completa.
Lucila acredita que após superada a pandemia, a mobilização atual tornará as pessoas mais conscientes em relação à saúde e, também, à importância dos profissionais da saúde. “Percebo que existe um interesse pela busca de informações fidedignas e um desenvolvimento de pensamento crítico sobre as publicações e de acesso ao conhecimento”, afirma. “Em contrapartida, o isolamento horizontal terá interferência e prejuízo econômico, podendo gerar recessão e desemprego. Dessa forma, devemos levantar outras preocupações para discutir e obter uma resolução”, finaliza.