Tony Goes, FOLHAPRESS
Os fãs de Game of Thrones estão fartos de saber: o penúltimo episódio é sempre o mais mirabolante da temporada. É quando acontecem as grandes batalhas, ou acontecimentos radicais como o infame Casamento Vermelho.
Pelo jeito, a tradição foi mantida nessa reta final. O penúltimo episódio de toda a série foi épico, trágico, de tirar o fôlego. Difícil de ver em vários momentos e, de certa maneira, um pouco frustrante. Também foi esperado e surpreendente ao mesmo tempo.
Vamos focar nas surpresas. Esta é uma das especialidades de George R. R. Martin, o autor dos livros que deram origem ao seriado da HBO, além dos personagens bem construídos. Martin não teve o pudor de eliminar o suposto herói de sua saga logo no primeiro volume, e jamais se rendeu aos clichês.
Transpostas para a TV, as Crônicas do Gelo e Fogo também deram muitos sobressaltos ao espectador. A mais recente foi há duas semanas. Depois de passar toda a sétima temporada indicando que a guerra final de Game of Thrones seria entre os Caminhantes Brancos e toda a população de Westeros, os showrunners do programa mataram o Rei da Noite -e todo seu séquito de mortos-vivos- no terceiro episódio dessa fase derradeira.
Uma decisão inteligente, que devolveu a GoT o que sempre teve de melhor: o elemento humano. A humanidade fracassando em toda sua glória, sem precisar de nenhum zumbi por perto. E o que não faltou no capítulo deste domingo (12) foi fracasso. Atenção! Pare de ler por aqui se não quiser spoilers.
Em mais uma virada na trama, Danenerys Targaryen (Emilia Clarke) se tornou a grande vilã de Game of Thrones. Foi uma mudança semi-abrupta, que começou a ser sinalizada no episódio anterior. A Mãe dos Dragões acabou fazendo o que seu círculo mais íntimo temia: surtou e arrasou Porto Real, montada em seu dragão remanescente. Matou milhares de inocentes. Exatamente o que seu pai, o Rei Louco, ameaçava fazer.
Em termos dramáticos, foi quase um cavalo de pau. A mocinha delicada que descobriu uma enorme força interior e se tornou uma rainha firme, porém justa, perdeu qualquer contato com a realidade. Daenerys quer porque quer se sentar no Trono de Ferro, mesmo sabendo que não é quem mais tem direito a ele. Mesmo se tiver que destruí-lo -o que, provavelmente, conseguiu.
Outro personagem saiu da linha, de maneira mais sutil, mas talvez muito mais grave. Tyrion Lannister (Peter Dinklage) traiu seu colega mais próximo, Lorde Varys (Conleth Hill). Foi correndo contar para Daenerys que o eunuco tramava algo contra ela. A reação da rainha foi previsível: dracarys!
Essa tibieza de caráter não fazia parte de Tyrion. O personagem foi desenvolvido como um sujeito inteligente, chegado aos prazeres da carne, com uma língua ferina e um bom coração. Dedurar Varys não combinou com ele.
Quem manteve a consistência foi Jon Snow (Kit Harington), passivo como sempre. É impressionante a incapacidade do Rei do Norte de agir de maneira proativa. Sempre que correu perigo, ele precisou ser salvo por alguém. Sempre que precisou tomar uma decisão difícil, hesitou.
Repleto de cenas agoniantes, este penúltimo episódio não teve catarse. O esperado embate entre os irmãos Sandor (Rory McCann) e Gregor Clegane (Hafþór Júlíus Björnsson) -mais conhecidos, respectivamente, como o Cão de Caça e o Montanha- foi magnífico, mas também tristíssimo. Já a aparente morte de Cersei e Jaime (Nikolaj Coster-Waldau), soterrados pelas ruínas da Fortaleza Vermelha, poderia ter rendido mais.
O melhor de tudo é que não há nenhuma pista forte do que irá se passar no último episódio. Sim, Arya Stark (Maisie Williams) está pintando como a verdadeira heroína de GoT. E sim, Daenerys precisa ser contida. Mas alguém se arrisca a dizer como isto vai acontecer? Se vai acontecer?
A imprevisibilidade de Game of Thrones vai deixar saudades.