Isabela Bolzani, FOLHAPRESS
Perto de completar 100 dias de portas fechadas, o setor de bares e restaurantes enxerga com preocupação o novo adiamento de reabertura feito pelo governo municipal de São Paulo.
O último levantamento realizado pela ANR (Associação Nacional dos Restaurantes) em parceria com a Galunion aponta que 35% dos bares e restaurantes com mais de uma unidade já fecharam lojas permanentemente por conta do isolamento social para deter a pandemia do coronavírus.
Outros 15% dos estabelecimentos afirmaram que não conseguirão manter os seus negócios após a pandemia. A pesquisa foi feita entre os dias 5 e 17 de junho.
Na sexta-feira (26) o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), protelou a reabertura do segmento para 3 de julho.
A previsão inicial era de que os bares, restaurantes e salões de beleza já poderiam funcionar nesta segunda-feira (29), mas Covas afirmou que, por recomendação do Centro de Contingência, as mudanças só aconteceriam se a capital permanecesse nessa fase por uma semana.
Segundo o presidente da ANR, Cristiano Melles, o governo é descuidado com o setor, que já demitiu 1,3 milhão de pessoas desde o começo da pandemia - 600 mil apenas em São Paulo.
"Cada semana que passa o número de restaurantes que não conseguirão reabrir aumenta e, se considerarmos o alarme falso de sexta-feira, esse contingente ainda pode subir. Muitos pegaram o pouco dinheiro que tinham para fazer um estoque e reabrir nessa segunda-feira e entregaram os pontos, já que parte dos alimentos é perecível e ainda terá que ser jogada fora", disse.
Outro ponto que preocupa o setor é a falta de acesso ao crédito - tanto por programas do governo como pelo próprio sistema financeiro.
Ainda de acordo com a pesquisa, 76% das empresas que buscaram novas linhas para financiar o negócio tiveram suas propostas recusadas. A mesma porcentagem também já fez uso da MP 936, referente à suspensão ou redução de jornada e salário.
Para o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Percival Maricato, nem mesmo o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), linha do governo mais recente voltada para os pequenos empresários, deve ser de grande valia ao setor.
"Mesmo com esse último programa, ainda há restrição de faturamento, e a maioria não receberá a ajuda. Sem contar as exigências de garantias, que ainda limitam o acesso ao crédito. Isso é um problema tão relevante quanto a retomada. É preciso financiamento para reposição de estoque, recontratação de funcionário e para que o empresário consiga colocar toda essa engrenagem para funcionar", disse.
Segundo Melles, presidente da ANR, o segmento também continua em contato com o governo para tentar flexibilizar o horário de funcionamento, ainda restrito a seis horas por dia.
"Pedimos para que ao menos possamos separar, manter o restaurante aberto por três horas durante o almoço e três horas durante a janta. Seria ao menos uma saída, mas nossos pedidos não têm eco. Fazemos reunião, e eles falam que entendem o setor, mas as medidas vêm muito diferentes do que foi conversado", afirmou.