A ‘voluntária’ Tatiane Pólis prestou, nesta manhã de quarta-feira (17) na Câmara de Sorocaba, depoimento na CPI dos Falsos Voluntários. Sua oitiva ocorre um dia depois da denúncia de suposto esquema de corrupção envolvendo Taty e o prefeito José Crespo (DEM) de pagamento de salário de R$ 11 mil a ela por seus trabalhos ‘voluntários’ dentro da prefeitura.
Assista na íntegra
O advogado de defesa de Tatiane, Márcio Leme, que também é presidente da OAB, acompanhou o depoimento de sua cliente.
A sessão foi aberta pela presidente da CPI, Iara Bernardi (PT), por volta das 9 horas desta quarta-feira (17) e teve recesso de cerca de 15 minutos antes de ser retomado com a oitiva. A relatora Fernanda Garcia (PSOL) também esteve presente. O marido de Taty, Willian Polis, que também deveria comparecer para ser ouvido, não se fez presente, e pediu a ‘redesignação’ de sua oitiva.
“Fico muito triste, porque Sorocaba é maior que tudo isso”, afirmou Tatiane após oitiva.
O ex-secretário de Comunicação Eloy de Oliveira, declarou em depoimento à Polícia Civil que Tatiane Polis, mesmo atuando como voluntária, receberia R$ 11 mil de ‘salário’, por determinação de Crespo, por meio de contrato da prefeitura com uma empresa de publicidade. A notícia foi divulgada em primeira mão pela TV Tem. Leia aqui na íntegra. Seu depoimento foi juntado aos autos da CPI. Questionada, ela disse “não ter noção porque ele fez isso” (referindo-se à denúncia).
Versão de Tatiane Polis
À CPI, Tatiane se apresentou como “desempregada” e disse não ter “conhecimento do decreto do programa de voluntariado de Sorocaba”. Ela também declarou atuar como voluntária desde dezembro. Ainda, afirmou “nunca ter recebido nenhum dinheiro em troca do voluntariado ao prefeito Crespo” ou recurso da empresa DGentil, nem valor de R$ 11 mil mensais por meio do motorista do prefeito, Rafael Pironi (concunhado de Tatiane, por sinal) nem depósito bancário nos últimos dias de cada mês.
A ‘voluntária’ afirmou que uma de suas funções era executar o projeto Fala Bairro, por intermédio do ex-secretário de Comunicação, Eloy de Oliveira. Segundo a mesma, suas funções com o voluntariado “eram se comunicar com líderes de bairro e atender às demandas”. Seu trabalho não possuía “dia específico ou horário”: “não tem como mensurar. Não posso afirmar”. Entretanto, ela ressaltou que trabalhava até em finais de semana, como domingo, por exemplo, quando houve realização do projeto.
“Sou casada. Meu marido é provedor de nosso sustento”, alegou, quando questionada por Fernanda Garcia, baseado no decreto do voluntariado, de que, para exercer serviço voluntário, o interessado precisa garantir seu próprio sustento. Inclusive, Tatiane Pólis chegou a dizer ter sentido-se “ofendida” pela vereadora por tal pergunta.
Negou ter solicitado serviço aos servidores da Secom (secretaria de Comunicação e Eventos), participar de alinhamento de projetos e de fazer reunião com a empresa responsável por contratos de publicidade DGentil sem autorização de Eloy de Oliveira [ex-secretário da Secom] e de possuir espaço de trabalho na prefeitura e/ou na Secom. “A maior parte do trabalho de voluntariado que eu fazia para a prefeitura era dentro dos bairros, nas comunidades. Só ia na prefeitura acompanhar reuniões quando era convidada pelo Eloy”.
Também negou ter sala no sexto andar do Palácio dos Tropeiros, mesmo andar em que fica o prefeito José Crespo. “Não tinha uma sala dentro do sexto andar”, voltou a afirmar. Entretanto, ela confirmou que fazia reunião do Fala Bairro no gabinete do prefeito “por ser a maior sala”.
Ex-secretário pede “desculpas” por depoimento em CPI
No texto enviado à CPI, Eloy, por meio do advogado, pediu desculpas por não ter “contribuído antes por conta da pressão do governo”. “O objetivo com o [novo] depoimento é evitar que os fatos, que cercaram o voluntariado da senhora Tatiane Polis, sejam cessados, impedindo de ocorrer novamente em respeito aos servidores públicos de carreira e comissionados os quais respeito”.
No dia 19 de março, o ex-titular da Secom foi ouvido pela presidente da CPI. Na data em questão, disse que a voluntária Tatiane Pólis “estava à disposição de todas as secretarias”, por isso ela acabou realizando serviços à pasta; porém, ressaltou à presidente Iara Bernardi (PT) “não ter solicitado nenhum voluntário à Secom”.
Conforme Eloy, Tatiane Pólis firmou um “termo de compromisso” com o gabinete do prefeito José Crespo (DEM) e que, como voluntária, “não há exigência escolar para atuar” no serviço público.
O titular da Secom frisou que a voluntária ajudava no programa ‘Fala Bairro’, com jornada diária de cinco horas. “A voluntária não tem a condição de dar ordens a alguém. Isso não acontecia”, disse Eloy aos vereadores.
Contrato de R$ 20 milhões
Ainda em sua oitiva na CPI, em março, Eloy informou não fiscalizar mais o contrato de publicidade, avaliado em R$ 20 milhões – com vigência de 24 meses – e nem assina mais as notas de pagamento. A transferência de gestão passou da Secom ao chefe de gabinete, Carlos Mendonça, por determinação de Crespo. “Prefiro não me manifestar com relação à transferência da prestação de contas do contrato”, alegou Eloy à Iara.
Sobre o remanejamento da Secom, que exonerou as funcionárias Mariana Campos e Adriana Massa, além de Felipe Pinheiro, Eloy informou que a saída deles foi, de acordo com o prefeito, “para reequilibrar as atividades das secretarias”.
Sobre o porquê houve a exoneração do coordenador de publicidade da Secom, Ricardo Mari, responsável pela fiscalização do contrato de R$ 20 milhões, Eloy disse que “preferia não se manifestar”. No entanto, sinalizou à CPI que “toda saída de funcionários prejudica o andamento dos trabalhos”.