Thiago Amâncio, FOLHAPRESS
O começo da vacinação contra a Covid-19 no Brasil no domingo (17) e nesta segunda (18) trouxe esperança a muita gente, mas seu impacto no número de novos casos e mortes ainda deve demorar a aparecer, afirmam especialistas no assunto. Isso significa que uso de máscaras, distanciamento social e higiene frequente das mãos continuarão obrigatórios ao longo deste ano de 2021.
Na avaliação do secretário de Saúde de SP, Jean Gorinchteyn, no atual estado da vacinação, o efeito da imunização nos números não poderão ser vistos antes de seis meses, depois que o país começar a vacinar os idosos, grupo de risco da doença.
"Para a gente ter um impacto real da vacinação, nós precisaríamos já estar vacinando grupos vulneráveis.
Entende-se que, hoje, vacinar os profissionais da saúde, que muitas vezes são profissionais de idades até não tão avançadas, é a garantia de assistência à saúde, para que a gente não perca essa força motriz na assistência, principalmente num momento em que a amplitude no número de casos e internações é maior", diz à reportagem o secretário, que também é médico infectologista.
"Por outro lado, mesmo que a gente hoje vacinasse todos os idosos de forma abrupta, acima de 60 anos, nós teríamos 10% da nossa população imunizada. A gente veria o impacto disso de dois a três meses no número de internações e gravidade de doença, só. Mas, infelizmente, vamos começar ainda de uma forma muito lenta e gradual. Portanto, talvez a gente comece a ter alguma sensibilidade daqui a uns 6 meses", conclui.
Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, resume: "Ontem [domingo, quando começou a vacinação em SP] foi um dia de muito otimismo e euforia. Hoje nós temos que pôr o pé no chão e saber que a coisa ainda vai durar um pouco".
O médico afirma que, quanto maior a eficácia, mais rápida seria a reação da imunização nos números do país. Como a Coronavac teve eficácia geral de 50,38%, próximo ao limite de 50% exigido pela Anvisa, uma parcela maior da população vai ter que se imunizar para que o país atinja a chamada imunidade de rebanho.
Por isso, e com o atual estágio de aceleração na pandemia no país, que tem registrado média de mais de mil mortos por dia e hospitais superlotados, o ano de 2021 ainda será de máscara e distanciamento, afirma.
O médico afirma que, num cenário otimista, com produção de vacinas no país e imunização em massa, "talvez tenha uma perspectiva para o fim do ano, ou começo de 2022. Mas ainda estamos em um horizonte de incertezas", diz, citando a dificuldade de importação de insumos para produzir a Coronavac no Brasil.
Além disso, a Coronavac, única vacina disponível hoje no país, teve autorização emergencial da Anvisa para aplicação de 6 milhões de doses, o suficiente para imunizar 3 milhões de pessoas (já que duas doses são necessárias).
Só de profissionais da saúde, existem 5 milhões no país. Idosos com 65 anos ou mais, segundo pesquisa do IBGE de 2019, são 10,8% da população, o equivalente a quase 23 milhões de pessoas. Ou seja, para vacinar apenas esses dois grupos, prioritários na imunização contra a Covid, seriam necessários 56 milhões de doses.
O Instituto Butantan solicitou nesta segunda na Anvisa com pedido para uso emergencial de mais 4,8 milhões de doses da vacina. O governo federal aguarda da Índia outras 2 milhões de doses da vacina da Astrazeneca, já aprovada pela Anvisa.
Manter a rigidez no cuidado mesmo com o começo da imunização não será exclusividade do Brasil.
O Reino Unido foi o primeiro país do mundo a começar a vacinar contra a Covid-19, em 8 de dezembro. Até esta segunda-feira, quase 4 milhões de doses já tinham sido aplicadas em 3,5 milhões de pessoas (o imunizante requer duas doses), 6% da população do país.
No entanto, com a alta de casos e a descoberta de uma variante local do vírus, muito mais contagiosa, o país fechou novamente seus comércios e serviços em 5 de janeiro e pode permanecer assim até março, segundo o governo, para conter o avanço da doença.
O começo da vacinação também não permitiu que a população dos EUA relaxasse. No país, até a última sexta (15), 12,3 milhões de doses já tinham sido aplicadas em 10,6 milhões de pessoas (3% da população).
Mesmo assim, o número de novos casos e novas mortes da doença vem batendo recordes desde o fim do ano passado, com taxas ainda mais altas do que as do pico da primeira onda da pandemia, chegando a 4.406 mortes em um único dia na última terça-feira (12).