02 de Dezembro de 2024
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Sem provas, Bolsonaro associa Lula a narcotráfico em entrevista a TV italiana

Foto: reprodução
Postado em: 01/11/2021

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Ana Estela de Sousa Pinto, FOLHAPRESS


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acusou seu principal adversário na campanha eleitoral à Presidência, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, de ter relações com narcotraficantes, segundo a tradução de entrevista concedida neste domingo (31) ao jornalista Michele Cagiano, da emissora italiana SkyTV24.


De acordo com os áudios da entrevista obtidos pela reportagem, o presidente brasileiro disse que Lula "deixou uma marca muito forte na corrupção do Brasil", quase levou a Petrobras à falência e, nos anos 1990, começou "um grande esquema junto com o narcotráfico para chegar ao poder".


"Um milagre salvou o Brasil com a queda de Dilma Rousseff e com a minha ascensão em 2018", disse Bolsonaro, que também acusou o PT de ligações com "grupos terroristas do mundo todo".


A entrevista foi gravada às 7h30 da manhã deste domingo, último dia da reunião de cúpula do G20, onde os líderes das maiores economias do mundo se comprometeram a conter emissões de gás carbônico e distribuir vacinas contra o coronavírus.


Segundo Bolsonaro, Lula o acusa de genocídio "porque é um oportunista". Ele afirmou que o ex-presidente estaria entre várias "autoridades de esquerda no Brasil e na Espanha" que teriam recebido recursos oriundos do narcotráfico da Venezuela.


"Esse é o último retrato do Lula. No mais, ele foi condenado em três instâncias no Brasil e, por um casuísmo, o processo foi anulado no Supremo Tribunal Federal", disse Bolsonaro.


Com os direitos políticos reabilitados desde março, o ex-presidente Lula obteve neste ano ao menos 12 vitórias judiciais na série de processos e investigações a que respondia desde que se tornou alvo da Operação Lava Jato, há quase seis anos.


Em junho, o plenário do Supremo ratificou julgamento da Segunda Turma da corte que declarou a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro na condução do processo do tríplex de Guarujá (SP), que levou o ex-presidente à prisão por 580 dias.


Questionado sobre a CPI da Covid, que o aponta como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia no Brasil e sugere que ele seja responsabilizado e investigado por nove crimes, Bolsonaro disse que a comissão foi formada por partidos de esquerda em oposição ao seu governo.


Ele também disse que os sete senadores que comandaram os trabalhos da CPI desde seu início "nada fizeram durante a pandemia, deixaram tudo acontecer".


"O meu governo deu todos os meios para que governadores e prefeitos pudessem fazer o combate à pandemia, seguindo determinação do Supremo Tribunal Federal", disse o presidente, acrescentando que gastou US$ 100 bilhões para garantir "dinheiro, meios, medicamentos e profissionais" para o enfrentamento da crise sanitária.


Bolsonaro costuma dizer que foi impedido de agir contra a Covid-19 em razão de uma decisão de abril de 2020 do Supremo, que atestou que estados e municípios têm autonomia para determinar o isolamento social em meio à pandemia. A decisão, porém, não impede o governo de agir contra a Covid, apenas estabelece a competência concorrente de estados, municípios e União para atuar contra a pandemia, sem excluir nenhuma esfera administrativa dessa responsabilidade, esclareceu o tribunal na época.


Na entrevista à TV italiana, Bolsonaro também afirmou que sempre foi a favor da vacina e que nunca deixou de destinar recursos à compra do imunizante, completando que é a favor da autonomia dos médicos para receitar remédios sem comprovação científica.


"No tocante a vacina, foi um sucesso o Brasil. E também eu, particularmente, adotei a linha de que deveria mandar a autonomia para o médico. O médico tinha que ter o direito, caso assim entendesse, de tratar o paciente, em comum acordo, com o remédio que achasse melhor para aquele momento, mesmo sabendo que não havia comprovação científica para o mesmo", disse o presidente.


Desde o início da disseminação da Covid-19 pelo mundo, no começo de 2020, Bolsonaro sempre falou e agiu em confronto com as medidas de proteção, inclusive em relação às vacinas. O presidente atuou contra a compra da Coronavac, levantou dúvidas sobre a segurança do imunizante da Pfizer e declarou que ele próprio não se vacinaria.


Sua gestão também se omitiu em relação a diversos emails com propostas da farmacêutica multinacional de venda de vacinas para o governo brasileiro.


A partir de março de 2021, diante do agravamento da pandemia e do sucesso da vacinação no país, Bolsonaro tentou reconstruir a narrativa sobre o tema, buscando se descolar do rótulo de negacionista para melhorar sua imagem.


Mas ele próprio continua dizendo que não se vacinou -o que causou constrangimentos em sua viagem a Nova York para a Assembleia Geral da ONU, em setembro, quando não podia entrar em restaurantes e outros recintos fechados- e dando declarações que abalam a confiança da população no imunizante.


O presidente também minimizou a pandemia diversas vezes, chamando de histeria, fantasia e "mimimi" a reação da população e da imprensa à crise sanitária, que já deixou mais de 600 mil mortos no Brasil.


Em outro ponto em que é criticado pela comunidade internacional, o da proteção ao meio ambiente, Bolsonaro afirmou que "Amazônia não pega fogo porque é uma floresta úmida".


Apesar de úmida, a Amazônia registra incêndios, que têm ocorrido em número recorde durante o governo Bolsonaro. Em agosto de 2021, foram mais de 28 mil focos de queimadas na floresta -o terceiro pior resultado para o período nos últimos 11 anos, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O número só fica atrás dos registrados em 2019 e 2020.


Os incêndios geralmente estão associados ao desmatamento -o fogo é usado para queimar a vegetação derrubada e para limpar pastos.


Na entrevista à TV italiana, embora tenha admitido que há "algum desmatamento ilegal" no país -minimizando os índices que apontam pioras nesse sentido-, Bolsonaro disse que o Brasil é "um exemplo para o mundo".


"Tanto é que esse ano estamos indo tão bem que a imprensa não tem falado nada", disse o presidente, em desconexão com a realidade da cobertura jornalística dos principais meios de comunicação do país.


Segundo Bolsonaro, a repercussão negativa que chega ao conhecimento da comunidade internacional ocorre "porque há uma briga de poder no Brasil". Na visão do presidente, aqueles que o criticam por suas políticas ambientais o fazem em exagero e poupam seus antecessores.​

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