Pessoas com obesidade têm uma pressão mais alta aplicada aos pés, com potenciais prejuízos para a sensibilidade nas solas e, consequentemente, para o equilíbrio. Uma pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP avaliou mulheres com obesidade mórbida e indicou que, de fato, elas tinham diminuída a sensibilidade tátil em diferentes regiões das solas dos pés, afetando assim a postura estável do corpo. Essa condição está associada a riscos de quedas, à falta de autonomia e limitações para realização de tarefas diárias.
No estudo, os pesquisadores identificaram algumas regiões dos pés que sofrem mais deterioração sensorial do que outras e que esta condição está associada à obesidade extrema. Os cientistas avaliaram a sensibilidade das solas dos pés de 26 mulheres, sendo metade com obesidade mórbida (índice de massa corpórea – IMC – acima de 40 kg/m2) e a outra metade com peso considerado saudável (IMC entre 18,5 e 24,9). O índice de massa corporal é determinado pela divisão do peso da pessoa pela sua altura ao quadrado. As participantes foram selecionadas na fila de espera para cirurgia bariátrica, no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Dos nove pontos avaliados, o maior déficit de sensibilidade encontrado entre os dois grupos foi de 76%, sob o arco lateral do mediopé.
Os resultados da pesquisa foram descritos no artigo Associations Between Women’s Obesity Status and Diminished Cutaneous Sensibility Across Foot Sole Regions, publicado em fevereiro de 2021. O trabalho faz parte da dissertação de mestrado de Jair Wesley Ferreira Bueno, com orientação do professor e pesquisador da EEFE, Luis Augusto Teixeira.
O pé humano é composto de três arcos plantares: dois arcos longitudinais (medial e lateral) e um arco transversal anterior, estruturas que contribuem para uma melhor estabilidade do corpo. Os arcos possuem funções essenciais de biomecânica e o de impulsionar o corpo para frente em tarefas de movimento. Como uma mola, também suportam o peso e absorvem o choque que é produzido na locomoção cotidiana como caminhar e correr.
“O mapeamento detalhado das regiões da sola dos pés mais comprometidas do ponto de vista de sensibilidade ratifica estudos anteriores que mostravam que pessoas obesas possuem mais pressão sob os pés e têm dificuldades em manter o equilíbrio postural”, explica ao Jornal da USP o autor da pesquisa, Ferreira Bueno. E justamente onde os pés sofrem mais pressão é que foram detectados os baixos índices de sensibilidade, completa.
Os pesquisadores explicam que a amostra envolveu apenas mulheres, no entanto, um perfil semelhante de pressão mecânica nas regiões da sola do pé quando em pé foi observado entre homens e mulheres, sugerindo que as conclusões podem se aplicar a ambos os sexos.
“Embora não seja um ponto avaliado no estudo, a falta de sensibilidade nas solas dos pés é reversível desde que haja redução de peso, revertendo também os déficits de equilíbrio”, diz Teixeira. “Esse é um efeito que tem sido mostrado em estudos, indicando que a redução acentuada de peso corporal, por diferentes procedimentos, leva ao restabelecimento tanto da sensibilidade tátil das solas dos pés quando da estabilidade do equilíbrio em postura ereta quieta”, completa.