JULIA CHAIB E ITALO NOGUEIRA - FOLHAPRESS
A Polícia Federal indiciou o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), sob suspeita dos crimes de corrupção passiva e peculato. A conclusão é de investigação que apurou desvios de recursos de programas do estado.
Os crimes teriam sido cometidos quando ele era vereador e, depois, vice-governador do estado, entre 2017 e 2020. A informação foi revelada pelo UOL e confirmada pela Folha de S.Paulo.
O inquérito foi remetido ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), corte responsável por analisar ações envolvendo governadores. Caberá à PGR (Procuradoria-Geral da República) decidir se aceita o indiciamento e denuncia Castro.
Castro afirmou, em nota, que sua defesa vai pedir a anulação do relatório da PF. Ele declarou também que "confia na Justiça e está seguro de que tudo será esclarecido até o fim do processo legal".
"Causa estranheza o fato de, em todos esses anos, o governador sequer ter sido convocado a prestar qualquer esclarecimento sobre os fatos", afirma a nota.
"As informações que sustentam a investigação são infundadas e a defesa reitera que tudo se resume a uma delação criminosa, de um réu confesso, em documentos que estão sob segredo de Justiça e continuam a ser vazados, o que vem sendo contestado junto aos tribunais superiores em razão de sua absoluta inconsistência", diz o governador, em nota.
O advogado Carlos Luchione, que representa o governador, disse não ter tido acesso ao relatório da PF.
Com o indiciamento, Castro se torna mais um chefe do Palácio Guanabara que tem contra si investigação com conclusão de que cometeu corrupção. A lista inclui os ex-governadores Moreira Franco (1987-1991), Anthony Garotinho (1999-2002), Rosinha Garotinho (2003-2006), Sérgio Cabral (2007-2014) e Pezão (2014-2018) este último absolvido da acusação cinco anos depois.
A investigação da PF apurou desvios de verbas de programas de assistência social no Rio de Janeiro entre 2017 e 2020, período no qual Castro exerceu mandato como vereador e vice-governador.
Em delações premiadas, o empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva, ex-assessor de Castro, e Bruno Selem, funcionário da Servlog, empresa investigada, acusaram o governador de receber propina de empresários ligados a projetos sociais.
Silva afirmou ao Ministério Público que o governador gastou US$ 20 mil durante uma viagem que fez com a família a Orlando, na Flórida, onde ficam parques da Disney.
De acordo com o depoimento, Castro recebia propina de verba desviada de contratos da Fundação Leão 13 e da Subsecretaria da Pessoa com Deficiência. Um desses contratos era para o projeto Novo Olhar, gerido pela empresa Servlog Rio, do empresário Flavio Chadud.
Selem também acusou o governador de receber propina. O delator afirma que Chadud entregou dinheiro a Castro em julho de 2019, na época que ele era vice-governador.
O delator diz que Castro recebeu na ocasião R$ 100 mil em dinheiro vivo, que teria sido guardado dentro de uma mochila. A Polícia Civil conseguiu localizar um vídeo em que o governador visita o empresário e sai com uma mochila na mesma data indicada pelo delator.
Na época, o governador disse que foi apenas visitar um amigo e que havia chocolate na mochila.
O funcionário da Servlog afirmou à Promotoria que o governador "recebia propinas e auferia vantagens políticas com o projeto Qualimóvel municipal". O programa oferecia atendimento médico gratuito em unidades móveis pela cidade.
Em dezembro de 2023, o STJ autorizou a quebra de sigilos bancários, fiscais e telemáticos do governador. No mesmo mês, a PF fez operações de busca e apreensão contra o presidente do conselho administrativo da AgeRio, Vinícius Sarciá Rocha, irmão de criação de Castro.
Sarciá é apontado como um dos operadores do desvio de verba pública. Na casa dele foram apreendidos R$ 128 mil e US$ 7.535 em dinheiro vivo. Na operação, os agentes também levaram o celular de Sarciá, além de anotações, planilhas e diversos documentos.
Tanto Sarciá como Castro negam as acusações. Em dezembro do ano passado, o governador afirmou que "não há nada contra ele".