Ricardo Della Coletta, FOLHAPRESS
Diante da crise de falta de oxigênio para pacientes de Covid-19 em Manaus, o presidente Jair Bolsonaro disse que "nós fizemos a nossa parte" e voltou a defender tratamentos sem eficácia comprovada para o novo coronavírus.
"A gente está sempre fazendo o que tem que fazer. Problema em Manaus, terrível o problema lá. Agora nós fizemos a nossa parte, [com] recursos, meios", afirmou o presidente, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. A fala do mandatário foi transmitido por um site bolsonarista.
A capital do Amazonas vive um cenário de recorde de hospitalizações por Covid-19 e falta de oxigênio nos hospitais. O insumo faltou em diversos hospitais da rede pública na quinta (14), resultando na morte de pacientes por falta de oxigenação, segundo relato de médicos.
As imagens de médicos relatando a situação de calamidade nas alas hospitalares e de pessoas buscando cilindros de oxigênio para atender familiares causaram comoção nas redes sociais.
Na conversa, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce e o uso de hidroxicloroquina e ivermectina, método defendido há meses pelo presidente, mas que não tem eficácia comprovada por especialistas. Além do mais, a cloroquina está associada a efeitos colaterais como arritmia.
Cientistas afirmam que não existe tratamento precoce para Covid-19.
"Hoje as Forças Armadas deslocaram para lá [Manaus] um hospital de campanha. O ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] esteve lá segunda [11], providenciou oxigênio, começou o tratamento precoce que alguns criticam ainda. Quem critica não toma, fique tranquilo, se tiver um problema de vírus vai se agravar pela idade. Agora vê o médico e ele vai receitar, pode receitar o tratamento precoce. Se o médico não quiser [receitar], procure outro medico, não tem problema", declarou.
Na manhã desta sexta, o vice-presidente Hamilton Mourão também disse que o governo federal está fazendo "além do que pode" diante da crise em Manaus.
"O governo está fazendo além do que pode, dentro dos meios que a gente dispõe. Na Amazônia as coisas não são simples, você tem uma capital –como Manaus, a cidade mais populosa da Amazônia Ocidental– e você só chega lá de barco ou de avião", declarou o vice, ao chegar em seu gabinete.
Mourão se queixou do fato de a Força Aérea brasileira não contar hoje com aeronaves de grande porte tipo Boeing, o que poderia facilitar o esforço de envio de cilindros de oxigênio para Manaus.
"Qualquer manobra logística para, de uma hora para outra, aumentar a quantidade de suprimento lá [Manaus] requer meios. A Força Aérea até alguns anos atrás ela tinha [avião da] Boeing. Por problemas de orçamento, ela teve que se desfazer dessa aeronaves; e chega nessa hora a gente vê que não pode a deixar aquilo que é a nossa última reserva, as Forças Armadas, sem terem as suas capacidades", declarou.
Ele argumentou ainda que não era possível prever a situação em Manaus por conta da nova cepa do vírus.
"Aí você não tem como prever o que ia acontecer, que essa cepa que está ocorrendo em Manaus, totalmente diferente do que ocorreu no primeiro semestre", disse.
Mourão também destacou que a estação chuvosa na região amazônica, com o aumento da umidade, influencia no aumento de doenças respiratórias, o que agrava ainda mais a situação.