23 de Abril de 2024
Informação e Credibilidade para Sorocaba e Região.

Metade dos médicos relata pressão para prescrever remédios sem comprovação científica

Arquivo
Postado em: 07/07/2020

Compartilhe esta notícia:

Cláudia Colucci, da Folhapress

Quase a metade (48,9%) dos médicos que estão na linha de frente do atendimento à Covid-19 afirma que pacientes e familiares têm pressionado por tratamentos sem comprovação científica.

Para 69,2% desses profissionais, notícias falsas, informações sensacionalistas ou sem comprovação técnica são inimigos que hoje enfrentam simultaneamente à pandemia.

Os resultados são da terceira edição de pesquisa da APM (Associação Paulista de Medicina) sobre problemas e carências dos médicos durante a pandemia

Responderam a questionários online 1.984 profissionais de todo o país. Desses, 60% trabalham em hospitais e/ou unidades de saúde que assistem a pacientes com Covid-19.

Segundo o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, a pressão por acesso a terapias que julguem necessárias é um direito que o paciente tem e deve exercer.

"Por outro lado, o médico também tem o direito de fazer aquilo que achar correto e deve exercer esse direito também. Resistir às pressões faz parte da medicina, da profissão médica."

Ele conta que, minutos antes de atender ao telefonema da reportagem havia recebido a ligação de uma amiga perguntando se ele conhecia algum médico que prescreve cloroquina. "As pessoas estão procurando um receitador disso e daquilo, não um médico. Isso não é bom. Cada coisa tem o seu lugar."

Sobre as informações falsas, Amaral diz que desde os tempos mais remotos isso ocorre durante as grandes epidemias. "O que chama atenção é que hoje temos uma grande ciência desenvolvida. Imaginávamos que ela daria a resposta, mas não é o que está acontecendo."

O médico sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador e pesquisador do núcleo de epidemiologia e vigilância em saúde da Fiocruz Brasília, diz que tem sido espantosa a pressão de pacientes pelo uso do antiparasitário ivermectina.

"Parece que deu uma arrefecida a cloroquina, acho que ficou insustentável [em razão das últimas evidências contrárias]. Agora é todo mundo falando em ivermectina. As pessoas ligam perguntando se podem tomar. Eu brinco: para matar piolhos?"

O problema, segundo ele, é que a dose segura da substância como parasiticida é bem inferior da que vem sendo inadvertidamente sugerida para a prevenção ou casos leves de Covid-19. "É uma dose que pode ser perigosa, não tem estudo, descrição de efeito nesse tipo de dose."

Segundo Ronaldo Zonta, médico de família e comunidade de Florianópolis (SC), o mais grave é que ivermectina, a cloroquina e outras medicações sem comprovação na Covid-19 têm sido prescrita por médicos, o que, na visão do paciente, traz mais credibilidade, apesar da falta de evidências.

"Embora seja uma decisão que precisa ser compartilhada com o paciente, num momento de poucos recursos e com a pandemia ainda curso, não faz sentido deixar de investir no que funciona e priorizar tratamentos sem evidências que vão onerar o sistema de saúde."

Investir em que funciona no caso seria testar precocemente as pessoas, monitorar as que tiverem resultados positivos para a Covid e garantir o acesso aos serviços de saúde, com UTIs bem equipadas.

Para ele, médicos que estão endossando a prática de prescrição fora das evidências estão jogando a medicina no lixo. "Estamos fazendo um experimento em nível nacional com cobaias humanas."

Segundo a pesquisa da APM, 45,4% dos médicos entrevistados têm a percepção de que o Ministério da Saúde tem divulgado número menor de novos casos de Covid-19 que a realidade. Outros 21,5% entendem que o número de mortes também é inferior ao de fato ocorre.

Grande parte dos profissionais (59%) também se queixa de falta de estrutura física/insumos adequados e segurança. Para 25% deles, também há lacunas de diretrizes e de orientação ou programa para atendimento dos infectados.

A falta de leitos para pacientes que precisam de internação em UTI é apontada por 13,4% dos entrevistados. Já a escassez de testes de diagnóstico é mencionada por 15,1%. Outros 22,7% dizem que só são testados pacientes com sintomas graves de Covid.

"Já deveríamos ter superado essa falta de testes. Se queremos flexibilizar a quarentena, é importante ter testes para todo com manifestações", afirma Amaral.

Os sentimentos hoje que predominam entre os médicos da linha de frente são ansiedade (69,2%), estresse (63,5%), exaustão física/emocional (49%), além de sensação de sobrecarga (50,2%).

A grande maioria (76,3%) atende por dia 20 ou mais pacientes com suspeita e/ou confirmação de Covid-19. Quatro em cada dez já acompanharam pacientes que morreram em razão da doença.

Em relação à violência, 37% confirmam ter presenciado, durante a pandemia, situações de agressões a médicos, outros profissionais ou colaboradores administrativos nas áreas de atendimento. Entre as mais comuns estão truculências psicológica (21,5%) e verbais (20,7%).

Compartilhe:

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Terminais e rodoviária são desinfetados diariamente para evitar disseminação do coronavírus

Maioria é contrária ao voto obrigatório no Brasil, aponta Datafolha

UNIP orienta em live como ser atendido em suas Clínicas de Nutrição

Balanço de rodovidas do Rio registra 87 acidentes com cinco mortes no fim de ano

Funcionário morre após ingerir álcool etílico durante transporte de plataforma da Petrobras

Michelle Bolsonaro diz em rede social que está curada da Covid-19