O Chimpanzé Black se tornou nos últimos dias o foco principal de uma disputa de transferência para outro local. Uma decisão do Tribunal de Justiça do Estado determinou a transferência do animal para a sua nova casa até o próximo domingo (5). Mas a saída do animal do Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros para outro espaço tem sido contestada por especialistas e ativistas da causa animal que asseguram que os prejuízos a Black seriam bem maiores que os benefícios que a transferência poderia lhe trazer.
A ação que pede a transferência de Black do Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros” para o Santuário dos Primatas, em Sorocaba, foi impetrada pela Agência de Notícias de Direitos Animais (Anda). Se acordo com o grupo, os chimpanzés são animais que devem viver em grupo, normalmente formado em média por seis animais. Black tem 53 anos e atualmente vive sozinho em um recinto do zoológico de Sorocaba.
A Prefeitura de Sorocaba, no entanto, recorreu da decisão do Tribunal. Um dos principais argumentos é que Black, que vive no zoo de Sorocaba há 43 anos, onde chegou em 1.976 resgatado de atividades circenses, não se adaptaria com facilidade em um novo ambiente nessa altura da sua vida. Outra questão é que, para transportá-lo, o animal teria que permanecer anestesiado por um longo período, método não aconselhável pela idade avançada. Além disso, especialistas temem pela própria aceitação de Black pelos demais primatas, considerando o fato de que primatas são territorialistas.
Quem explica é o biólogo Marcos Tokuda, mestre e doutor em primatas: “a saída do Black do zoo, depois de 40 anos -, é muito temeroso pelas questões apresentadas. Não devemos pensar numa situação do hoje. É preciso termos a responsabilidade do que isso vai significar para o animal daqui uma semana, um mês, e assim por diante. Antes de pensarmos em outras questões, é preciso analisar a integridade física e emocional do animal”, acentua Okuda.
Desde que chegou ao parque na Vila Hortência, a adaptação de Black foi tão natural que o animal acabou se incorporando à família do zoo e dos funcionários. Um desses é Irineu Antunes Ribeiro, o tratador que cuida diariamente do chimpanzé há 30 anos. “Eu fico emocionado ao falar dele porque a minha vida dentro do zoo foi me dedicar a cuidar dele. Hoje, sem dúvida, eu não conseguiria ficar longe do Black”, explica emocionado o tratador que conhece o chimpanzé como ninguém.
Com uma rotina especifica, Black recebe todo o cuidado necessário, principalmente em suas refeições -, que inclui dieta balanceada. Ainda é estimulado a tomar banho de sol, se exercita dentro de suas limitações pela idade que apresenta, e se relaciona bem com os demais primatas que vivem no zoo, conta o tratador Irineu. “Por conta da sua idade avançada, o Black já não corre tanto hoje como antes, mas ele continua chamando a atenção pelo carinho que expressa nos olhos. Eu falo com ele o tempo todo, ele me escuta e responde do seu jeito. Isso para mim não tem salário que pague”, conta.
Além dos cuidados que recebe diariamente, Black faz exames de rotina, mas já apresenta traços de senilidade que podem ser conferidos por seus rugidos que já não apresentam mais tanta vitalidade, o que necessita de atenção especial.
Para o tratador Irineu Antunes Ribeiro “não há argumento suficiente para tirar o Black do zoo. Hoje, não podemos pensar em nós, mas nele como um animal com mais de cinco décadas de vida”, destaca.