Em 1977, há 45 anos, fui morar no Jardim Saira. A Rua Bauru naquela época tinha um resto de asfalto e sem infraestrutura de luz e telefone. Havia umas 10 casas construídas sem uso da construtora do saudoso Felipo Malzone. Em frente a minha casa que financiei pelo antigo BNH, uma casa da rua Bauru abrigava uma família que morava lá há alguns anos. O restante da rua só havia terrenos vazios e uma casa na esquina, com a família do Osvaldo, trabalhador da Cianê. Focando na casa bem em frente de onde fui morar, tinha uma avó, sua filha conhecida como Dona Branca e seus quatro filhos. Três filhas e um menino de sete anos de idade. O nome dele era Benedito Hidalgo Neto. Esse foi o meu primeiro contato com o Bene. Eu o chamava assim.
Garoto tímido, estatura da faixa etária de criança nessa idade e magro. Brincava na frente de sua casa, que não tinha portão ou nada que o impedisse a sair. O isolamento da rua Bauru no bairro não era privilégio, pois as moradias com habitantes ficava praticamente na sua maioria na avenida Joaquim Silva. Eram moradores das casinhas da Fundação Luiz Pinto Thomaz que abrigavam os metalúrgicos e famílias da Indústria Metalúrgica NS da Aparecida.
Esta homenagem ao Bene se junta às demais publicadas nesta semana, desde o dia 21 de novembro, quando a notícia da sua morte foi publicada nas redes sociais. O jornal Ipanema também destacou o fato da perda do radialista e diretor da Rádio Super FM, Hidalgo Neto.
O menino de sete anos cresceu e chegou à sua juventude como liderança no bairro. Foi presidente da Associação de Moradores do Jardim Saira. Saiu candidato a vereador e sempre estava presente nas manifestações dos moradores em solicitações nos órgãos públicos. Sempre empolgado com as novidades que apareciam em prol da comunidade, Hidalgo ficou sabendo da concessão de emissoras com fins comunitários. Foi como uma “injeção” de ânimo na sua história. Lembro-me que ele conversava comigo sobre o seu desejo de conquistar uma concessão, já que eu trabalhava em área de Comunicação Empresarial. Ele foi atrás de deputados e prefeito da cidade para conceder apoio ao seu sonho. Viajou a Brasília, fez abaixo assinado na comunidade e pouco a pouco conquistou a documentação necessária ao seu pedido junto aos órgãos federais.
A primeira Rádio Comunitária no Brasil foi outorgada ao Benedito Hidalgo Neto. Uma vitória que em 2022 completa mais de três décadas. No quarto da frente da casa o pequeno estúdio várias vezes visitado por órgãos de fiscalização da Anatel, nunca parou a rádio de funcionar. Fiz durante dois anos um programa na rádio Super e posso atestar como agia o radialista, locutor e diretor Bene. A legalidade e responsabilidade do jovem Bene foram exemplares até a sua despedida deste mundo com apenas 52 anos de idade.
Sempre admirei o ser humano do bem que foi o Bene. Educado, gentil, um amigo vizinho em mais de 47 anos de convivência e, até a semana passada, quando o encontrei pela última vez com o mesmo sorriso. A sua enfermidade nos rins que o obrigava a fazer hemodiálise, apesar de ser um desafio na sua vida, nunca o desanimou. Foi missionário religioso na igreja que cedeu espaço para a sua despedida antes do sepultamento na tarde chuvosa da terça-feira, 22 de novembro.
As três irmãs e a esposa Anna, junto aos familiares e amigos do rádio e imprensa de Sorocaba deram o seu adeus com fé e a certeza da sua maravilhosa jornada no tempo concedido pelo Criador à sua existência. “Foi se juntar a vovó e a mãe Branca”, me disse a sua irmã Teca. Hidalgo Neto deixou um legado à comunicação de Sorocaba.
Vanderlei Testa ( artigovanderleitesta@gmail.com) Jornalista e Publicitário