Gustavo Uribe, na Folhapress
Em meio ao aumento das queimadas na floresta amazônica, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (11) que o Brasil é criticado de maneira injusta e que adota uma política de tolerância zero na área ambiental.
Em discurso durante encontro com presidentes da América do Sul para discutir a preservação do meio ambiente, o brasileiro disse que é mentirosa a crítica de que a floresta amazônica "arde em fogo". Segundo ele, a realidade da região é "bem diferente" do que a imprensa brasileira e governos estrangeiros apresentam.
Dados preliminares do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostraram, no entanto, que, de agosto de 2019 a julho de 2020, houve um salto de 34% na destruição florestal em comparação com o mesmo período anterior.
"Essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira. E nós devemos combater isso com números verdadeiros. É o que estamos fazendo aqui no Brasil", disse.
Bolsonaro disse ainda que os países da região amazônica têm capacidade para preservar a cobertura vegetal e que devem resistir com "perseverança" e com "verdade". Segundo ele, o empenho do Brasil têm sido "grande" e "enorme" no combate aos focos de incêndio.
"Nós bem sabemos da importância dessa região para todos nós, bem como dos interesses de muitos países. E também sabemos o quanto nós somos criticados de forma injusta por parte de muitos países do mundo. Nós, com perseverança, determinação e verdade, devemos resistir", disse.
Segundo o presidente, por ser uma potência no agronegócio, o Brasil sofre ameaças externas e "alguns poucos brasileiros" trabalham contra o país no cenário externo.
"A nossa política é de tolerância zero. Não só para o crime comum, mas também para a questão ambiental. Combater ilícitos é essencial para a preservação da nossa floresta amazônica. Mas não é tudo. Temos de desenvolver também na região o desenvolvimento sustentável", disse.
Bolsonaro defendeu que as nações comprometidas com a preservação da floresta amazônica cumpram com os compromissos assumidos no passado de repasse de recursos financeiros. E disse que o Brasil adotará "total transparência" nos próximos fóruns internacionais.
"O fato de que a maior parte da floresta amazônica permanece intacta é a comprovação de que nossos estados são perfeitamente capazes de cuidar desse patrimônio com atenção aos aspectos ambientais, sociais e econômicos", disse.
O presidente disse ainda que se embaixadores estrangeiros sobrevoarem o território entre as cidades de Boa Vista, em Roraima, e Manaus, no Amazonas, "não acharão nenhum foco de incêndio ou corte de hectare desmatado".
A reunião teve as participações dos chefes de Estado de Colômbia, Bolívia, Peru, Equador e Guiana, além de representantes de entidades internacionais, como da ONU (Organização das Nações Unidas) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
No seu discurso, o presidente da Colômbia, Iván Duque, lamentou que a epidemia do novo coronavírus tem gerado efeitos econômicos e sociais na região e cobrou os presidentes presentes a adotarem a preservação ambiental como política de governo.
Em linha semelhante, o presidente do Peru, Martín Vizcarra, disse que apenas a adoção de uma política externa em defesa do multilateralismo será eficiente para reduzir os efeitos do aquecimento global na América do Sul.
"Nós fazemos um chamado para que, com o nosso plano de ação e com nosso trabalho integrado multilateral, enfrentemos esses fenômenos e os denunciemos ao mundo", afirmou.
Em painel mais cedo, promovido no mesmo evento, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o desmatamento na floresta amazônica vem aumentando desde 2012 e que, no primeiro ano da atual gestão, ele se "intensificou".
Segundo ele, a destruição do meio ambiente ocorre em um ambiente de pobreza e de oportunismo, no qual os responsáveis pelas queimadas não respeitaram nem a quarentena por causa do novo coronavírus.
"A pandemia do Covid-19 impôs desafios adicionais ao início de nossas ações", reconheceu. "Para que nosso esforço seja eficaz, devemos repreender o crime e construir alternativas de desenvolvimento."
O general da reserva, que também é presidente do Conselho da Amazônia, criticou os países europeus. Segundo ele, há grande desinformação sobre as realidades econômica e social na região.
"A preservação da floresta amazônica ocupa um espaço no imaginário do mundo moderno", disse. "Alguns se aproveitaram da crise para avançar em interesses protecionistas e atitudes neocolonialistas."
Mourão ressaltou que o setor privado deve ser o protagonista em políticas de preservação ambiental, não os governos regionais.
"O setor privado terá um papel de liderança na preservação amazônica. O financiamento por parte de bancos privados é fundamental para um progresso sustentável", disse.
O biólogo americano Thomas Lovejoy, assessor da ONU (Organização das Nações Unidas), também avaliou que os países da região devem aproveitar a atual liquidez internacional para buscar recursos para a preservação.
Para ele, o maior desafio após a pandemia do coronavírus será o de evitar um aumento nas queimadas diante os efeitos econômicos da atual crise sanitária.
"Será necessário muito mais apoio econômico para garantir a recuperação. As políticas após a pandemia podem afetar o capital da biodiversidade", disse. "E a região amazônica tem um grande potencial para atrair parte da liquidez internacional."