13 de Dezembro de 2024
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Entidade conveniada à Prefeitura proporciona reabilitação para dependentes químicos

Foto: Luis Gustavo Adabro – Secom e Arquivo Pessoal/Divulgação
Postado em: 04/03/2022

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O trabalho feito diariamente pelas equipes do programa “HumanizAção”, da Prefeitura de Sorocaba, além de oferecer acolhimento e serviços emergenciais, como alimentação, cuidados de higiene e pernoite, visa proporcionar uma verdadeira mudança de vida a essas pessoas, buscando sua reinserção no círculo familiar, no mercado de trabalho e na sociedade de forma geral.

 

Daí, a relevância do serviço oferecido por um parceiro do Município nessa iniciativa social, o Grasa (Grupo de Apoio e Combate a Droga e Álcool Santo Antônio), que atende pessoas com problema de dependência química, auxiliando em sua reabilitação.

 

Luiz Antônio Villar é, hoje, um dos funcionários da instituição. Porém, sua porta de entrada não foi diferente dos atuais internos da casa. Uma história que ele mesmo faz questão de narrar. “Eu era casado, com dois filhos, tinha emprego. Mas, o vício no álcool me fez perder tudo isso. Passei dez anos nas ruas, no mundo das drogas. Meus filhos eram pequenos e eu me afastei, porque não queria que eles vissem aquilo, que passassem pelo sofrimento. Enfrentei muita coisa até chegar ao ponto de pedir ajuda aqui, no Grasa. Fui recebido muito bem e posso dizer que me devolveram a minha dignidade. Porém, não na primeira internação. Porque é difícil entender e admitir que somos doentes. Eu não aceitava isso. Achava que podia controlar. O que ganhei aqui foi autoconfiança. Porque, se não acreditamos em nós mesmos, ninguém vai acreditar”, ele resume. Desde 2020, Luiz Antônio deixou a condição de ex-interno para se tornar funcionário no local.

 

Muitas histórias de vida

 

João Carlos é mais uma das pessoas acolhidas pelo Grasa, onde está há dois meses. “Antes de vir para cá, eu vivia um problema sério com as drogas. Só pensava em usar, 24 horas por dia. Estar aqui tem me ajudado muito, principalmente por poder desenvolver meu lado espiritual. Somente agora, aos 46 anos, consigo entender que sou uma pessoa doente. Antes, eu achava que era meu jeito de ser e que seria assim a vida toda. ‘Nasci assim e vou morrer assim’, eu pensava”, conta João Carlos. Outra motivação importante para fazê-lo mudar de vida está sendo o filho, de 15 anos, nascido de um antigo relacionamento. “Tinha medo que ele não me aceitasse, que não quisesse mais conviver comigo. Mas é o contrário. Hoje, ele me procura e me apoia. Sempre me recebeu de braços abertos, porém, antes ele sofria quieto, de ver minha situação”, completa. Convicto da necessidade de buscar outra saída, que não fosse o sofrimento, no início de 2022, ele tomou a iniciativa de buscar auxílio. “Admitir que eu precisava de ajuda, acho que foi meu primeiro passo. E, estando aqui, o que mais me acrescenta é a espiritualidade. Lá fora, só falava em morte, desavença, em pegar o outro, bater, acertar as contas. Acordava, às vezes, alguém – que eu nem vi quem era – tinha deixado um marmitex, uma água ou refrigerante. Eu nem me lembrava de agradecer a Deus por aquilo. Aqui, é diferente. E penso que, se consegui chegar até aqui, é porque tem algo a mais que Deus reservou para minha vida. Tem algo melhor. E tenho me apegado a isso: à fé”, ele conclui.

 

“Eu vivi dois anos na rua. Parei de trabalhar, porque se tornou fácil ficar na rua, pedindo. Já estava quase me acostumando a ficar nessa vida. Vai de cada um. Mas, o fato de a pessoa vir, dar uma moeda, ajuda. Mesmo não sendo o ideal. Sair dessa situação, depende muito da força de vontade. No meu caso, o Grasa estendeu a mão, eu abri o olho e vi que continuar naquilo não era bom para mim. Estou aqui há três meses, desde o dia 1º de dezembro, e sou tratado super bem. Tem alimentação, estudo espiritual, tem psicólogo, tem laborterapia. Os funcionários são todos supereducados. Estou aprendendo muita coisa. Porque é a gente que tem que aprender”, relata José.

 

Como ele foi parar ali e, antes disso, nas ruas? É algo para o que ele não tem muita explicação, mas também não perde tempo buscando desculpas. “Não teve um motivo. Eu simplesmente experimentei a droga, gostei, era fácil conseguir e eu fui ficando. Aí, comecei a beber e usar drogas. Porque é difícil dizer que quem está na rua não vai usar nada, as coisas aparecem. Meu problema mesmo é a bebida. Se aparecia um trocado, era para isso. E já usei de tudo. Quem está na rua precisa se conscientizar que ela vai usar, assim como outras pessoas à sua volta também. Mas, para vir para cá, eu tomei uma decisão. Outros até tomaram também, mas já foram embora. Dão uma desculpa, falam que vão para casa de parente, ou que arrumaram um trabalho, mas não é verdade. Para ficar, precisa ter um foco, um objetivo”, ele esclarece, assegurando que o seu próprio foco é a família. “Eu tinha o contato com ela. Mas era eu que não queria falar. Por causa do jeito que eu estava. Tenho uma filha, que está no Mato Grosso e, agora, até com ela eu falo sempre. Toda quinta ela me liga” (sorri). “Na rua, perdi muita coisa. Não financeiramente, mas coisas que não vou reviver. Agora, penso em sair, ter um trabalho, uma vida novamente, só que tem que ser muito bem pensado. Porque não quero reviver as coisas que eu vivi na rua e que não gosto nem de lembrar”.

 

Outro que faz questão de contar sua experiência de vida é José. “Vejo que minha história é muito parecida com a de outros que estão, aqui. Eu sempre bebi. Minha mãe e meu pai bebiam também. Quando fui para a rua, entrei de vez para as drogas, a bebida, e estava só me afundando, afundando. Tanto que eu estava quase entrando para a sepultura também. Saí de casa a primeira vez porque minha irmã é crente e não dava certo de conviver, era como as trevas com a luz. Agora, é a quarta vez que tento a reabilitação, mas só vim por ser aqui, no Grasa, um lugar que recebe a gente de braços abertos. E meu objetivo é ficar limpo, não quero mais isso para mim. Começar tudo de novo. Já vi várias pessoas morrerem por causa da droga. Não quero isso para mim. Nem ficar remoendo o passado. Penso daqui para frente. Vim e trouxe outros três colegas comigo”, destaca.

 

Dorival agradece pela possibilidade de estar, pela primeira vez, no Grasa. “Meu nome é Dorival, tenho 44 anos, mas apenas no documento. Porque minha idade mesmo é 48. Fui registrado quatro anos depois do nascimento”, ele conta. Natural de Campina do Monte Alegre (SP), cresceu e viveu boa parte de sua vida em Itapetininga, mas há anos conhece Sorocaba. “Já me considero cidadão sorocabano. Perdi minha mãe quando eu tinha 14, 15 anos e, no ano passado, perdi meu pai também. Vim para cá porque preciso desse apoio, desse acolhimento, que existe em outros lugares também, mas aqui é diferente. E é importante, porque tenho problemas de saúde também. Nas pernas, porque já tive fratura exposta e fiquei com sequelas. E, há pouco tempo, passei a ter convulsões. Fiquei um bom tempo no SOS (Serviço de Obras Sociais) e foi uma batalha da assistente social até conseguir um lugar para mim, aqui. Não quero sair, a não ser na hora que eu estiver bem. Porque só sai quem não quer nada com nada. Eu quero lutar pela minha vida. E, aqui, temos bons exemplos, de pessoas que mudaram suas vidas. Tem gente que desiste, acho que é difícil. Mas, se olhar para trás, vê que a vida que tinha antes é que era um fardo triplicado. Muitas vezes, sem ter o que comer, sem horário para levantar, às vezes nem dormia. Aqui, tem trabalho e tem horário para descansar. Tem como tomar um banho todo dia. Porque, na rua, nem sempre tem. E tem quem recebe um prato de comida e, num momento de fraqueza, vende a comida, para comprar droga. Eu consumia álcool, mas isso não é melhor, afeta a cabeça da mesma forma. Estou aqui há cerca de três meses e com um olhar bem diferente do que quando eu entrei. Quero olhar para frente, quero é progresso”, ele descreve.

 

Mais de 8.500 atendimentos

 

A rotina é igual para todos. Acordam cedo. Tomam o café com o pão, que eles próprios ajudam a fazer. Depois cada um ajuda de alguma forma com o trabalho na casa e vão para a horta. São responsáveis por cuidar de seus espaços, mantendo a cama arrumada e suas coisas organizadas. O dia a dia inclui também a atenção psicológica, nas reuniões em grupo e para cultivarem a espiritualidade, assim como a possibilidade de receberem visitas, em momentos específicos.

 

“Essa é uma etapa muito importante na vida dessas pessoas. Não é fácil conseguir chegar até aqui, mas pode fazer a diferença entre voltar para a dependência química e para a rua ou realmente reconstruir a própria vida e, muitas vezes, se reconectar com a família. Esse é o objetivo final de tudo que fazemos por meio do programa ‘HumanizAção’. Portanto, alcançar esse ponto é uma vitória para todos eles, mas também para toda a nossa equipe”, afirma Ana Cláudia Fauaz, secretária interina da Cidadania (Secid).

 

Em 2021, o programa “HumanizAção” realizou mais de 8.500 atendimentos a pessoas em situação de rua. As ações tiveram início em janeiro, com 122 abordagens sociais e alcançaram o pico de 1.491 desses atendimentos, no mês de novembro. Entre os 8.574 encaminhamentos realizados, 115 foram para o Centro de Triagem e 8.424 ao Serviço de Obras Sociais (SOS), onde vários serviços essenciais são oferecidos, e 35 para o recebimento de cuidados em saúde, sendo que muitos desses foram encaminhados também para a reabilitação em dependência química, em serviços da rede pública, como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial de Sorocaba), ou instituições parceiras, como o Grasa.

 

Criado pela atual Administração Pública, com o objetivo tratar com dignidade e de forma humanizada as pessoas em situação de rua que se encontram na cidade, o programa é realizado por profissionais da Controladoria Geral do Município, da Secretaria da Cidadania (Secid) e do Serviço de Obras Sociais (SOS), com o apoio da Guarda Civil Municipal (GCM), Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo) e Urbes – Trânsito e Transportes. Inicialmente, são oferecidos serviços essenciais aos atendidos, como alimentação, cuidados de higiene e pernoite. Mas o objetivo principal é proporcionar a essas pessoas oportunidades reais para uma verdadeira mudança de vida, com o suporte oferecido para a busca de trabalho e, sempre que possível e desejado pela pessoa, o reencontro com a família de origem.

 

 

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